GTF, de frango e alimentos, planeja mais que dobrar a receita para R$ 10 bi, diz CEO

Em entrevista à Bloomberg Línea, Rafael Tortola detalha o plano de expansão para os próximos sete anos, com foco em frango, abertura de novos mercados, baixo endividamento e maior investimento em marketing

Empresa prevê faturar R$ 4,5 bilhões neste ano, ante R$ 4 bilhões no ano passado (Foto: Andrey Rudakov/Bloomberg)
16 de Outubro, 2025 | 01:48 PM

Bloomberg Línea — A GTF vê espaço para mais que dobrar o tamanho da empresa do setor de aves, pescados e outros alimentos nos próximos sete anos e alcançar entre R$ 9 bilhões e R$ 10 bilhões em receita, com uma estratégia de expansão no segmento de frango e seus derivados.

Segundo o CEO, Rafael Tortola, a companhia fundada em Maringá, no interior do Paraná, projeta um faturamento de R$ 4,5 bilhões em 2025, um crescimento de 12,5% ante o resultado de R$ 4 bilhões no ano passado. Para 2026, a meta é chegar a R$ 5 bilhões.

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“Esse é o tamanho que buscamos para a próxima etapa da companhia”, disse Tortola em entrevista à Bloomberg Línea. “Enquanto o mercado entrega 8% de Ebitda, nossa média histórica é de 12%. E fazemos isso crescendo, ano após ano, diluindo pressões como a inflação e custos de pessoal.”

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Após encerrar o processo de recuperação judicial em 2020, a GTF - antes conhecida como GTFoods - entrou em uma nova fase e passou a gerar lucros, segundo o executivo.

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A companhia, dona das marcas Canção Alimentos e Lorenz, tem aumentado os investimentos em marketing e em produtos industrializados com maior valor agregado, ao mesmo tempo em que mantém níveis baixos de alavancagem e disciplina financeira, disse o executivo, que está à frente da companhia desde 2018.

O executivo não confirma planos imediatos sobre uma possível abertura de capital (IPO), mas reconhece que o tema faz parte das discussões estratégicas da companhia.

“O IPO é consequência de uma empresa sólida, não um objetivo em si. O nosso foco está na consolidação e na saúde financeira do que um crescimento a qualquer custo. Mas sim, o IPO é e pode ser uma alternativa de fazer esse trabalho um pouco mais rápido”, disse o CEO.

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Diversificação

A GTF também tem diversificado os seus mercados. A China é um importante destino para cortes que têm menos aceitação no mercado interno, como o pé e o meio da asa do frango.

O mercado brasileiro ainda representa a maior parte do faturamento da GTF, mas as exportações já correspondem a cerca de 35% das vendas, com potencial de chegar a 40% no futuro. A empresa já exporta os seus produtos para 70 países.

Em setembro, a companhia concluiu o primeiro carregamento de farinha de origem animal ao Paraguai. “A abertura ao mercado paraguaio reforça nossa capacidade de atender às exigências internacionais com qualidade e segurança”, disse Tortola.

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Embora a produção de farinhas e óleos de origem animal ainda represente uma fatia relativamente pequena do faturamento da GTF - de cerca de 7,5% da receita mensal do grupo, segundo Tortola -, o segmento têm ganhado relevância nos planos.

Esse subproduto do abate de aves que há alguns anos tinha baixo valor comercial tem sido um insumo importante para as indústrias de ração animal e biodiesel, segundo o executivo. Entre os clientes da empresa para esse segmento estão a Nestlé, Special Dog e Royal Canin, do grupo Mars.

“É um subproduto que há 15 anos não se sabia muito o que fazer, e hoje agrega muito valor”, disse Tortola. Segundo ele, cerca de 25% de todo o material que entra no processamento do frango são destinados às fábricas de farinha.

Parte da produção também é exportada para o Chile, onde a farinha é usada na alimentação de peixes, especialmente o salmão.

Gripe aviária

A diversificação nos negócios ganhou ainda mais peso na estratégia do grupo durante o fechamento de mercados provocado pela gripe aviária.

“A crise sanitária mostrou a importância da biossegurança e da diversificação. O Brasil passou com louvor, mas o aprendizado é que precisamos ter operações mais integradas e sustentáveis, com rastreabilidade e controle total da cadeia”, disse o CEO.

Nesse período de fechamento de alguns mercados em razão do surto de gripe aviária, a empresa aproveitou para modernizar plantas industriais, automatizar linhas e reforçar protocolos de biossegurança em suas unidades de Maringá e Paranavaí (PR).

O investimento total foi de R$ 180 milhões. Mas até 2026 deve chegar a R$ 400 milhões.

Novos produtos

Um passo natural para os negócios veio com os investimentos em produtos prontos e de maior valor agregado, conta o executivo.

A aposta inclui o desenvolvimento de linhas de empanados, cortes especiais e pescado, com destaque para a tilápia, cuja demanda cresce tanto no Brasil quanto no exterior.

“O consumidor está mudando. Ele quer conveniência, qualidade e produtos prontos. E é aí que entra o valor agregado”, disse Tortola que estima que os produtos industrializados, como lasanha congelada, batata e tilápia, cheguem a representar R$ 80 milhões do faturamento neste ano ante R$ 60 milhões no ano passado, e, se os planos darem certo, somar R$ 200 milhões em 2026.

Segundo o executivo, a GTF pretende ampliar a produção de tilápia e empanados nos próximos dois anos com o intuito de se consolidar como uma fornecedora de ingredientes e produtos prontos para redes varejistas e food service.

Além das marcas de empanados e de frango, a empresa atua na produção de amidos por meio da fabricante Lorenz, que foi adquirida pelo grupo em 2014.

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Planta da GTF em Maringá

Investimentos em marca

Em 2024, a GTF destinou R$ 60 milhões a ações de marketing - há alguns anos, conta Tortola, o patamar era próximo de zero.

Em um dos camarotes da Arena Corinthians, na zona Leste de São Paulo, é possível encontrar alguns dos produtos da marca Canção da empresa, como frango empanados.

Além da atuação em eventos, a empresa escolheu neste ano o jogador Neymar Jr. como embaixador da marca.

Segundo Tortola, a companhia deve continuar ampliando a sua atuação com o frango, sem entrar em outros mercados de proteína.

“O nosso grande diferencial é o foco no frango. Quando olhamos para suínos e bovinos, são mercados que não enchem tanto os nossos olhos por questões de volatilidade”, disse.

Segundo o executivo, as empresas de frango “estão muito bem”. “É um mercado que se consolidou bastante. Algumas [empresas] estão um pouco mais alavancadas, outras menos, mas a avicultura brasileira vive um bom momento”, disse.

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