Bancos apostam em boom agrícola argentino após Milei cortar tarifas de exportação

Santander e Galicia ampliam crédito ao campo após governo reduzir impostos e buscar destravar investimentos no setor agrícola; linhas de crédito podem chegar a US$ 1,5 bilhão em 2026

Argentina agronegócio
Por Jonathan Gilbert
12 de Dezembro, 2025 | 02:25 PM

Bloomberg — Dois grandes bancos na Argentina buscam ampliar o crédito para produtores rurais enquanto o presidente Javier Milei desmonta barreiras econômicas, incluindo cortes nas tarifas de exportação cobradas dos agricultores.

A unidade local do Banco Santander e o maior banco privado do país, o Grupo Financiero Galicia , estão expandindo um empreendimento — chamado Nera — que oferece opções de financiamento para produtores de grãos, além de fornecedores de sementes, fertilizantes e defensivos agrícolas, como Syngenta e Corteva.

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A Nera projeta linhas de crédito de US$ 1,5 bilhão em 2026, o que representaria um aumento de 36% em relação ao valor estimado para este ano.

O Galicia criou a empresa em 2023. Naquele momento, os agricultores argentinos vinham sendo prejudicados por anos de intervenção governamental no setor e observavam os concorrentes no Brasil deixarem o país para trás.

Mas Milei, um economista libertário, chegou ao poder logo depois e, nos últimos dois anos, tem promovido mudanças econômicas profundas.

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Nesta sexta-feira (12), Milei promulgou uma redução ampla nas tarifas cobradas de exportadores agrícolas, movimento amplamente visto como essencial para destravar investimentos e ampliar a produção na região rural da Pampa.

“Os produtores têm operado em modo de sobrevivência”, afirmou o CEO da Nera, Marcos Herbin, em entrevista à Bloomberg News. “Liberar tudo cria um cenário completamente diferente; eles deixam a sobrevivência de lado e passam a investir em tecnologia”, como sementes editadas por engenharia genética e agroquímicos.

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O Galicia vendeu 50% da Nera ao Santander no início deste ano. Herbin, veterano do Galicia e oriundo de uma cidade agrícola, disse esperar ter intermediarado US$ 1,1 bilhão em financiamentos para milhares de produtores até o fim de 2025 — o dobro do volume de 2024, ainda que o número daquele ano tenha sido mais baixo porque muitos agricultores haviam aproveitado oportunidades de arbitragem cambial em 2023 para estocar insumos.

Em um país em que crises recorrentes mantêm a economia com baixo nível de alavancagem, o CEO prevê mais crescimento no próximo ano, com o plantio de soja e milho já adiantado para a colheita de 2026.

A fronteira agrícola argentina já está bastante expandida, o que significa que a maior parte dos ganhos de produção virá de investimentos para aumentar a produtividade das áreas existentes.

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Herbin calcula que, se o governo eliminar as tarifas de exportação — devolvendo recursos ao bolso dos produtores para investir em pacotes tecnológicos melhores — as safras poderiam subir 40% sem a necessidade de ampliar a área plantada.

Basta observar a atual safra de trigo, que segue confortavelmente rumo a um recorde. Embora o clima favorável ao longo do ano tenha contribuído, a Bolsa de Comércio de Rosário destacou, na quinta-feira, “o investimento que os produtores fizeram em tecnologia, especialmente em sementes, controle de doenças e fertilização” como um dos motores.

As tarifas de exportação — anátema para formuladores de políticas na maior parte do mundo — marcaram a história argentina. Mais recentemente, foram impostas no início deste século, no auge da grave crise de 2001-02, e depois mantidas para financiar orçamentos públicos inflados, gerando bilhões de dólares por ano. Elas nunca foram totalmente eliminadas, e o setor agrícola argentino operou contra essa corrente durante décadas.

Milei tenta mudar esse quadro. Mas até ele precisa dessas receitas, ao menos por enquanto, para cumprir metas fiscais ambiciosas que conquistaram a simpatia de Wall Street.

Os cortes anunciados nesta sexta-feira variaram entre um e dois pontos percentuais. A alíquota para farelo e óleo de soja — produtos dos quais a Argentina é a maior exportadora global — caiu para 22,5%, ante 31% quando Milei assumiu. O presidente também planeja uma reforma tributária e trabalhista mais ampla para reduzir custos das empresas.

“Se o governo reduzir a carga tributária, o investimento em lavouras pode saltar de US$ 16 bilhões por ano para US$ 22 bilhões”, afirmou Herbin. “Mais investimento significa mais crédito — e essa é uma ótima oportunidade.”

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