Bloomberg Línea — “O Brasil não é só um mercado-chave mas um ambiente com abertura e liderança em soluções biológicas”, disse Tom Greene, diretor sênior da Corteva, sobre o potencial que o país representa para a gigante global de tecnologia agrícola e também para o mercado de bioinsumos.
Além de sua posição na Corteva, Greene também lidera globalmente a Corteva Catalyst, braço de investimentos da companhia que começou a funcionar em março de 2024.
A empresa com sede em Indianapolis, nos Estados Unidos, anunciou na quarta-feira (25) um novo aporte na agtech brasileira Symbiomics, especializada em biotecnologia agrícola com foco em microbiomas.
A multinacional americana entrou como investidora líder na rodada Série A da Symbiomics, com o objetivo de acelerar o desenvolvimento de produtos biológicos de nova geração voltados à saúde e à produtividade das lavouras.
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Também participaram da rodada os fundos Arar Capital, Cazanga, MOV Investimentos e The Yield Lab Latam.
Na América Latina, a Corteva Catalyst já havia investido, em abril deste ano, na argentina Puna Bio, que desenvolve bioinsumos feitos com base em microrganismos.
Até o momento, a empresa já realizou nove aportes: dois na América Latina, dois na Europa, um em Israel e quatro nos Estados Unidos.

Segundo Greene, o Brasil é o segundo maior mercado global para a Corteva.
“O país é estratégico para a empresa e um polo de inovação em biológicos”, afirmou o executivo à Bloomberg Línea durante o World Agritech Summit, evento realizado nesta semana em São Paulo que reúne líderes do setor agro de diferentes partes do mundo.
O novo investimento acontece em um momento de expansão do mercado brasileiro de bioinsumos.
De acordo com dados da CropLife Brasil, as vendas desse tipo de produto somaram R$ 5 bilhões na safra 2023/24, um crescimento de 15% em relação ao ciclo anterior. E as projeções apontam para uma continuidade desse ritmo.
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Além disso, a Corteva tem adotado uma estratégia agressiva em pesquisa e desenvolvimento, com aportes globais equivalentes a cerca de US$ 4 milhões por dia, alocados em um portfólio de projetos alinhados com as prioridades estratégicas da companhia, explicou Greene.
“Estamos apostando em soluções inspiradas na natureza e acreditamos no potencial da Symbiomics de entregar tecnologias disruptivas com aplicação global”, disse o executivo.
A Symbiomics foi fundada em 2021 pelos biólogos Rafael de Souza, CEO, e Jader Armanhi, que atua como COO. A agtech desenvolve microrganismos aplicados à nutrição vegetal, ao controle biológico e aos bioestimulantes.
A agtech utiliza tecnologias como sequenciamento genético, edição gênica e machine learning. Segundo a agtech, milhares de microrganismos já foram identificados a partir de amostras coletadas em diversos biomas brasileiros.
Com o novo aporte, a startup pretende acelerar os testes de suas tecnologias em diferentes regiões do Brasil e ampliar parcerias comerciais, entre elas, a que foi empenhada com a própria Corteva, que terá acesso exclusivo a parte do portfólio de produtos.
“Nosso diferencial é encurtar o ciclo de desenvolvimento de produtos para dois a três anos, enquanto a média da indústria é de até dez anos”, disse Souza.
Em 2023, a empresa já havia levantado R$ 15 milhões em sua primeira rodada de investimentos.
Os recursos foram utilizados para inaugurar um laboratório próprio e desenvolver produtos com potencial de alcance global.
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Segundo Souza, as soluções da Symbiomics são pensadas de forma agnóstica a culturas específicas e, mesmo que sejam desenvolvidas no Brasil, apresentam potencial de serem aplicadas ao redor do mundo.
“Uma tecnologia que nós desenvolvemos como edição genômica é aplicada no Brasil mas também tem potencial em outros lugares. Também tem milho nos Estados Unidos e em outros locais e são os mesmos problemas”, afirmou Souza.
Ele disse acreditar que a parceria com a Corteva irá contribuir para ampliar o alcance das soluções desenvolvidas no país.
Para a Corteva, a aposta na startup brasileira reforça sua estratégia de inovação em quatro frentes: biológicos e produtos naturais, genômica e edição gênica, tecnologias de aceleração de pesquisa e ciências da decisão, que incluem desde robótica até inteligência artificial e ferramentas de análise preditiva.
“A demanda global por alimentos cresce, mas os desafios também: clima, sustentabilidade, produtividade. E isso exige inovação”, disse Greene.
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