Decolar cresce 55% na Argentina com maior busca por destinos nacionais e no exterior

Em entrevista à Bloomberg Línea, Paula Cristi, country manager da Argentina e do Uruguai, revelou como a estabilidade da taxa de câmbio e a inflação mais baixa mudaram os hábitos de consumo no turismo

Paula Cristi
24 de Dezembro, 2025 | 11:38 AM

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Bloomberg Línea — A plataforma digital de viagens Decolar encerrou 2025 com crescimento anual de 55% no volume de reservas na Argentina. O crescimento foi impulsionado por um aumento de 60% na busca por destinos internacionais e por uma alta de 30% no turismo doméstico, que começou a se consolidar no segundo semestre.

“Foi um excelente ano, de verdade”, afirmou Paula Cristi, country manager da Decolar na Argentina e Uruguai, em entrevista à Bloomberg Línea.

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Fora do Brasil, a empresa opera com o seu nome em espanhol Despegar e foi adquirida há um ano pelo grupo holandês Prosus.

Cristi também revelou que o volume de negócios da Decolar na Argentina superou em 30% o registrado em 2023. “O pico de demanda do ano passado para destinos no Brasil desacelerou um pouco neste ano e foi sendo compensado pelo turismo nacional. Vemos essa mudança”, afirmou a executiva.

O principal produto da Decolar em 2025 foram os pacotes turísticos — que combinam transporte, hospedagem e atividades —, com salto de 80% em destinos nacionais e de 65% em internacionais.

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Os argentinos “aproveitam todas as ferramentas que oferecemos: meios de pagamento, facilidade para pagar, parcelamento”, disse Cristi.

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Quanto às tendências do setor turístico como um todo, as viagens de argentinos para o exterior cresceram entre 10% e 11% em 2025. O Brasil segue como principal destino dos argentinos, embora o pico de demanda pelo país tenha perdido força em relação ao ano anterior.

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Após um primeiro semestre em que o câmbio continuou favorecendo as viagens ao exterior, o turismo doméstico começou a reagir a partir de julho. “O que vemos é um certo reequilíbrio. O turismo internacional havia crescido muito, bastante favorecido pelo câmbio”, explicou Cristi.

Os destinos nacionais mais procurados continuam sendo Bariloche, Iguazú, Mendoza e Salta, embora a ordem no ranking varie conforme a temporada. “Não vemos grandes mudanças no sentido de surgir um destino muito emergente, mas sim alterações na ordem de prioridade”, afirmou.

No segmento de hotéis domésticos, a Decolar registrou queda de 8%, enquanto os hotéis internacionais avançaram 65%.

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Aruba, Maceió e destinos ‘exóticos’

Entre as novidades do ano, Cristi destacou o surgimento de Aruba como destino emergente, impulsionado por novos voos da Aerolíneas Argentinas e por campanhas conjuntas com o órgão de turismo do país caribenho.

Também voltaram a ganhar força destinos considerados “exóticos” para os argentinos, como Japão, Sudeste Asiático, Egito e África do Sul, que não apresentavam tanta demanda desde antes da pandemia.

No Brasil, o destino com maior volume de buscas deixou de ser Florianópolis ou Rio de Janeiro. “O destino número um em buscas hoje é Maceió”, disse Cristi, referindo-se à capital de Alagoas, no Nordeste.

Outros destinos que ganharam tração foram Curaçao e Panamá, além de várias praias do Nordeste do Brasil “que talvez antes não estivessem tão bem posicionadas no ranking dos preferidos”.

Uma das mudanças mais relevantes observadas pela Decolar foi o impacto da maior previsibilidade macroeconômica nas decisões dos viajantes. “O que vemos é uma demanda muito mais constante e, para nós, mais previsível”, disse Cristi.

“O crescimento semana a semana é sustentado, sem aqueles grandes picos” que marcavam períodos anteriores.

A executiva contou que houve “uma aceleração da demanda nos dias que antecederam as eleições” de outubro, mas que o movimento se normalizou rapidamente. “No fim, quando você olha uma linha do tempo mais ampla, a demanda se manteve bastante estável”, afirmou.

A estabilidade também se traduziu em maior antecedência nas compras: os argentinos passaram a planejar suas viagens com mais tempo, uma mudança de comportamento que a empresa atribui tanto à previsibilidade externa quanto às facilidades de financiamento.

“Planejar com mais antecedência é algo que estamos vendo claramente. Demanda sustentada, maior antecipação e mais previsibilidade”, resumiu Cristi. “É uma boa notícia para nós, porque permite planejar muito melhor.”

Turismo receptivo: um desafio

Enquanto o turismo para fora do país cresce, a entrada de turistas na Argentina segue fraco. Em outubro, entraram no país 420 mil estrangeiros não residentes, queda de 5% na comparação anual, segundo dados do setor.

A Decolar tentou reverter essa tendência com campanhas no Brasil, Chile e Colômbia para atrair turistas ao país.

“No Brasil, investimos bastante e fizemos muita ação promocional. Para nós, foi um ano melhor do que o anterior”, disse Cristi, embora tenha reconhecido que o setor, de forma geral, apresentou números negativos.

Integração com a Prosus

A Prosus, conglomerado tecnológico holandês, concluiu a aquisição da Decolar em dezembro de 2024 por cerca de US$ 1,7 bilhão, uma das três maiores operações de fusões e aquisições do ano na Argentina. A integração com o ecossistema da Prosus — que também controla o iFood, maior aplicativo de delivery do Brasil — já responde por 7% da receita do negócio brasileiro, por meio de programas de fidelidade e benefícios cruzados.

A integração também trouxe mudanças internas. “Adotamos metodologias de trabalho mais ágeis, testando projetos em ambientes menores. Isso permite aprender rápido e implementar rapidamente”, contou Cristi. “Estamos incorporando muita inteligência artificial nesse processo.”

Para 2026, a executiva mostrou otimismo. “Estamos fechando o orçamento nestes dias, mas definimos metas ambiciosas”, concluiu. “Entendemos que 2026 será um bom ano.”

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