Bloomberg Línea — A B3 (B3SA3) tem uma fila de empresas prontas para realizar ofertas públicas iniciais, em compasso de espera da reabertura da “janela” de mercado, de acordo com a vice-presidente de Operações, Viviane Basso, que apresentou os números durante o B3 Day nesta terça-feira (16).
“É o grande destaque: 54 companhias já possuem o registro e estão apenas aguardando um momento mais propício, uma nova janela para a realização dos IPOs”, afirmou a executiva.
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Segundo Basso, essas 54 empresas já completaram o registro para uma listagem na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), de um total de mil potencialmente aptas.
A B3 mapeou 121 mil empresas com faturamento de até R$ 300 milhões e 3.500 com faturamento acima de R$ 500 milhões no mercado potencial.
Diante desse estudo, a bolsa tem trabalhado em produtos e experiência tanto para pequenas e médias empresas quanto para companhias de grande porte.
A última onda de IPOs ocorreu em 2021, quando 46 empresas abriram capital na B3 e movimentaram R$ 65,6 bilhões. Desde então, o mercado não registra novas estreias em um ambiente de juros em elevação, que chegaram ao maior patamar em quase duas décadas, de 15% ao ano, em junho de 2025.
Além da “reabertura da janela”, potenciais candidatas a IPO precisam ainda superar a desconfiança de investidores diante de performances em geral fracas na última safra de aberturas de capital. Nesse período, houve também o fechamento de capital de inúmeras empresas por razões como queda no valor das ações e dos volume de negociação, além de custos apontados como elevados.
Três em cada quatro companhias (77%) que abriram capital em 2020 e 2021 registram retorno negativo desde o IPO, segundo estudo da Quantum Finance.
O consenso de mercado projeta o início do ciclo de corte de juros no Brasil para o primeiro trimestre de 2026. A dúvida está entre janeiro e março, com o relatório Focus indicando o fim do primeiro trimestre como mais provável.
As projeções apontam uma Selic em 12,50% no fim do ano que vem.
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Segundo a VP da B3, a bolsa está pronta para o Regime Fácil da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que busca simplificar e reduzir os custos de registro e listagem para pequenas e médias empresas.
O novo regime reduz a necessidade de documentação e prestação de informações - a entrada em vigor, prevista para janeiro de 2026, foi adiada para março.
“A B3 já está 100% preparada com seus sistemas, processos e times adequados, e em conversa inclusive com algumas companhias”, disse Basso.
A companhia criou o B3 Way, portal único que centraliza todas as atividades dos emissores. O sistema permite desde envio de formulários regulatórios até a contratação de serviços como voto à distância, produto que tem se mostrado relevante em momentos de deliberações sensíveis que requerem um quórum mais elevado da parte de acionistas minoritários, por exemplo.
Stablecoin e novos produtos
O otimismo com a volta dos IPOs é expressado em um momento de redução da liquidez da bolsa brasileira.
O CEO da B3, Gilson Finkelsztain, apresentou uma análise que mostrou que a base de investidores cresceu de 1,1 milhão para 5,4 milhões de CPFs desde 2019, enquanto o engajamento caiu de 50% para 30%.
O giro médio por pessoa física recuou de R$ 6.000 para R$ 1.800 por dia.
Mas há potencial, segundo a mesma análise. Projeções indicam que o volume médio diário negociado pode saltar de R$ 25 bilhões para a faixa de R$ 50 bilhões a R$ 70 bilhões quando os juros caírem de forma significativa.
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O cenário considera três movimentos simultâneos: realocação de investidores estrangeiros no Brasil, retorno de recursos locais - R$ 800 bilhões - que migraram para a renda fixa nos últimos quatro anos e maior atividade do investidor do varejo.
Para aproveitar o próximo ciclo de expansão do mercado, a B3 tem apresentado lançamentos de soluções em renda variável, derivativos e renda fixa.
A companhia trabalha em novos negócios como crédito e duplicata para ampliar receitas recorrentes, que crescem independentemente do patamar de juros.
O objetivo é reduzir a exposição aos ciclos econômicos ao equilibrar o mix entre receitas cíclicas e recorrentes no faturamento.
A bolsa também deve lançar em 2026 uma tokenizadora que converte ativos tradicionais em tokens digitais e um stablecoin lastreado em reais para viabilizar liquidação financeira.
O stablecoin ocupará um vácuo deixado pelo fim do Drex, moeda digital do Banco Central, permitirá negociação 24 horas por dia e será aceito como margem na câmara de compensação, segundo os executivos.
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