Demanda corporativa vai alavancar venda de pacotes para a Copa, diz CEO da BeFly

Marcelo Cohen diz à Bloomberg Línea que projeta transportar até 4.000 passageiros do Brasil no Mundial de 2026, com força da tendência conhecida como ‘bleisure’, que combina viagens de negócios com as de lazer, para executivos e empresários

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31 de Outubro, 2025 | 06:37 PM

Bloomberg Línea — A Copa do Mundo de 2026 nos Estados Unidos, no México e no Canadá se aproxima de um momento decisivo: o sorteio das 48 seleções em 12 grupos na primeira fase da competição no dia 5 de dezembro em Washington DC.

A venda de ingressos, por sua vez, começa a ganhar tração com a iminência da segunda fase na próxima semana.

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Para uma das maiores empresas de turismo do país, a BeFly, a projeção é transportar entre 3.000 e 4.000 passageiros para a Copa, que será realizada entre os dias 11 de junho e 19 de julho de 2026.

O CEO do grupo, Marcelo Cohen, disse à Bloomberg Línea que a maior parte dos passageiros viajará a convite de grandes empresas, em grupos de incentivo corporativo.

“É um dos grandes eventos que vamos operar em 2026”, afirmou.

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A operação aproveitará a proximidade geográfica e a infraestrutura dos EUA, com “boa malha aérea e hotelaria”, o que facilita a logística.

A Copa acontece em um ano marcado por múltiplos feriados e eleições no Brasil, o que também tende a favorecer a demanda por viagens.

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A BeFly estruturou pacotes completos que incluem passagens, hospedagem e ingressos para os jogos, com foco no cliente corporativo, segundo o executivo.

A estratégia contempla também a tendência conhecida como bleisure, combinação de negócios (business) e lazer (leisure), o que permite que executivos façam reuniões a trabalho em cidades como Nova York, Miami, Dallas ou Chicago e depois assistam a um ou dois jogos do Mundial antes de retornar ao Brasil.

Marcelo Cohen, CEO da BeFly

Resultado recorde

A BeFly deve encerrar 2025 com o melhor resultado da história da companhia, com um volume de vendas de R$ 12 bilhões, segundo o executivo.

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O crescimento até setembro ficou em torno de 25% na comparação anual.

As receitas com take rate (comissão por venda) avançaram quase 30% no período, enquanto os custos recuaram cerca de 8%, segundo ele.

Em sua avaliação, os números consolidam a estratégia de aquisições iniciada durante a pandemia, quando a empresa estava capitalizada, enquanto concorrentes enfrentavam dificuldades.

Entre 2020 e 2022, a BeFly realizou mais de 30 aquisições.

O grupo analisou aproximadamente 250 empresas no período e selecionou companhias com credibilidade no mercado, anos de operação e nichos específicos de produto, afirmou Cohen.

Nenhuma das empresas do portfólio ficou estagnada em 2025, segundo ele. O menor crescimento registrado foi de 9% em uma das unidades, enquanto o maior atingiu 200%.

Verticais em expansão

A FTS (Flytour Travel Solution), consolidadora de passagens aéreas, responde por cerca de 40% do volume de vendas do grupo. A empresa comercializa para mais de 7.000 agências de viagem espalhadas pelo país.

Já a FBT (Flytour Business Travel), braço corporativo da BeFly, deve vender em torno de R$ 2,5 bilhões em 2025, representando 20% do total.

O modelo de negócios concentra entre 85% e 90% do volume em operações B2B, segundo Cohen. A maior parte dos clientes corporativos utiliza sistemas próprios integrados com a plataforma do grupo para realizar compras online.

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Segundo o CEO, o segmento B2C avançou do equivalente a menos de 5% da receita há dois anos para 10% a 15% atualmente, com a meta de chegar ao intervalo entre 25% e 30% no médio prazo.

Já a Queensberry, braço de alto luxo, deve registrar crescimento superior a 25% neste ano.

“O conceito de luxo hoje não é mais sobre o que se tem; é sobre o que se faz”, disse Cohen. Ou seja, o cliente deixa de priorizar bens materiais como bolsas e relógios para investir em experiências “diferenciadas” com cultura, wellness e gastronomia, explicou o executivo.

A Queensberry desenvolveu um portfólio de roteiros de slow travel, em que o turista visita dois países em vez de cinco ou seis no mesmo período.

Segundo o CEO, a proposta oferece imersão maior no destino, com foco em vivências locais além dos pontos turísticos tradicionais.

Já empresas menores do portfólio apresentam taxas de crescimento entre 50% e 200% em 2025.

Essas companhias operam com take rate superior ao das maiores, o que contribui para a rentabilidade consolidada, segundo o CEO.

Em outra frente, o segmento de entretenimento apresenta margens melhores que o corporativo.

A BeFly opera eventos esportivos e de música como Fórmula 1, NFL, MotoGP e The Town, além de torneios como Miami Open, Wimbledon e US Open.

O grupo mantém posições nas arenas de jogos de futebol e shows do Allianz Parque em São Paulo e no Befly Hall em Belo Horizonte.

Cohen disse que mantém investimentos pessoais em hotelaria e gastronomia integrados ao ecossistema da BeFly. Os restaurantes La Copa e Brasa, no Allianz Parque, funcionam como camarotes durante shows e jogos. A companhia opera um hotel em Guarulhos para atender viajantes corporativos.

Tecnologia e planos futuros

A BeFly mantém três projetos ativos de inteligência artificial para otimizar processos repetitivos, segundo o CEO.

A tecnologia permite que uma mesma equipe atenda volumes maiores de clientes, eliminando a necessidade de novas contratações.

O grupo lançou o Tourist Tech Hub para identificar startups de IA e outras tecnologias que possam reduzir custos ou aumentar a eficiência operacional.

A fusão entre a Belvitour e a Flytour completou quatro anos em outubro de 2025.

A Belvitour faturava R$ 400 milhões por ano e tinha 120 funcionários quando adquiriu a Flytour, que registrava R$ 4 bilhões em receita e contava com quase 3.000 colaboradores - justamente no contexto citado por Cohen: a Flytour carregava dívida expressiva e estava em recuperação extrajudicial.

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“A empresa de prestação de serviço sozinha não vale nada. Quem vale é o ativo dela. Nosso maior ativo são, em primeiro lugar, nossos colaboradores e nossos clientes”, disse o CEO ao refletir sobre a trajetória do grupo.

A BeFly se posiciona como a maior empresa de turismo B2B da América Latina e o maior emissor de passagens aéreas do Brasil.

A empresa avalia oportunidades de expansão para outros países da América Latina, mas mantém o foco no mercado brasileiro, segundo Cohen.

Atualmente o grupo concentra esforços em cortar custos, ampliar a rentabilidade e trabalhar a operação diária antes de avaliar eventuais captações no mercado.

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