Morgan Stanley recomenda ações do setor financeiro ante corte de juros no Brasil

Banco de Wall Street projeta início do ciclo de cortes em março de 2026 e recomenda ações de XP, BTG Pactual e B3 como apostas para capturar o movimento esperado de queda na curva longa de juros

Morgan Stanley: banco de investimento aponta ações que serão beneficiadas com o movimento de corte de juros no Brasil
24 de Outubro, 2025 | 10:54 AM

Bloomberg Línea — O Morgan Stanley projeta uma guinada na política monetária brasileira a partir de março de 2026, com um esperado ciclo de redução de juros que, segundo suas estimativas, totalizará 350 pontos-base ao longo de um ano.

Nesse contexto, estrategistas do banco recomendam que os investidores se preparem desde já para capturar o potencial de valorização que pode surgir com a normalização monetária com foco no setor financeiro local.

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Em relatório divulgado mais recentemente, a equipe de análise do Morgan Stanley afirma que “a maneira mais eficaz de se posicionar antes de um ciclo de flexibilização é por meio de ações de serviços financeiros de alta qualidade, como XP (XP), BTG Pactual (BPAC11) e B3 (B3SA3)”.

Essas companhias, altamente sensíveis aos movimentos da curva de juros de longo prazo, compõem o portfólio modelo do banco para o Brasil.

A tese central parte do diagnóstico compartilhado pelos economistas da instituição, que avaliam que “o Banco Central do Brasil deve manter as taxas inalteradas até o fim do ano e iniciar um ciclo de cortes em março de 2026”.

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Essa demora na flexibilização se justifica, segundo o relatório, pela persistência das expectativas de inflação desancoradas e por uma economia que, apesar de sinais de moderação, segue relativamente resiliente.

“A inflação geral está em queda, mas a inflação de serviços continua elevada devido à força do mercado de trabalho”, destaca o documento.

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Embora as taxas não devam mudar no curto prazo, o mercado já começou a antecipar esse cenário.

O grupo de ações mais sensíveis aos movimentos das taxas longas subiu 67% em dólares no acumulado do ano, superando em 35 pontos percentuais o grupo de menor sensibilidade.

O Morgan Stanley explica que essa dinâmica reflete a queda de cerca de 240 pontos-base no contrato DI para janeiro de 2029.

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Apesar da alta, a equipe acredita que ainda há espaço para ganhos adicionais — desde que sejam escolhidos os papéis certos.

Como investir no Brasil

A estratégia do banco não se limita a favorecer papéis altamente expostos à curva de juros. O relatório enfatiza a importância de evitar empresas com estruturas financeiras vulneráveis, especialmente aquelas que exibem crescimento desproporcional abaixo da linha operacional.

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“Evitaríamos empresas classificadas como underweight por nossos analistas fundamentais e que apresentem crescimento abaixo da linha significativamente maior do que o crescimento operacional”, afirmam os estrategistas.

Entre as companhias a evitar, analistas do banco citaram Magazine Luiza (MGLU3), CSN Mineração (CMIN3), Cogna (CI) e Vasta (VSTA).

Segundo o banco, essas empresas mostram uma diferença expressiva entre o crescimento projetado do Ebitda e o das lucros por ação para 2026, o que indica alta dependência de alavancagem ou de fatores não operacionais para sustentar os resultados previstos.

Por outro lado, as favoritas do banco não apenas têm alta sensibilidade à queda de juros, como também apresentam crescimento mais equilibrado e fundamentos sólidos.

“Seguimos overweight em Brasil por conta da avaliação, posicionamento e opcionalidade em 2026”, destacaram os analistas no relatório, que identificaram o país como “uma exceção global para uma aposta em juros mais baixos, ainda que com algumas incertezas”.

A oportunidade pode se intensificar caso ocorra uma reconfiguração dos fluxos de capital.

Os analistas do Morgan Stanley estimam que, se a taxa Selic cair de 15% para 11,5% até o fim de 2026, os fundos de ações domésticos no Brasil poderão receber até US$ 14 bilhões em novos aportes.

Além disso, se os fundos globais encerrarem suas posições underweight em mercados emergentes, o Brasil poderia atrair até US$ 40 bilhões adicionais.

A isso se soma o fato de que a participação estrangeira em ações brasileiras está em níveis historicamente altos, enquanto a exposição dos fundos locais está nos menores patamares em vários anos.

Outro ponto que reforça a tese é o posicionamento extremo dos investidores institucionais locais. “Os fundos de ações domésticos representam apenas 4% da indústria total de fundos, abaixo dos 8% registrados quando a Selic estava em 2,00%”, segundo o relatório.

Isso sugere amplo espaço para que os investidores brasileiros reequilibrem suas carteiras em direção à renda variável, acompanhando um eventual ciclo de cortes.

Atenção à inflação

No campo macroeconômico, o Morgan Stanley reforçou que o início do ciclo de flexibilização não será imediato.

“Não vemos espaço para cortes de juros neste ano, principalmente pela persistência de expectativas de inflação desancoradas e pela resiliência da economia”, afirma o documento.

Além disso, há riscos fiscais, já que o Congresso deve debater, em novembro e dezembro, o orçamento de 2026 e outras medidas que podem elevar gastos ou alterar metas fiscais.

Por fim, os analistas alertam que o mercado continuará atento a dados como o PIB do quarto trimestre, a conta corrente e o emprego formal para calibrar o momento do primeiro corte de juros.