Opinión - Bloomberg

COP30: ceticismo climático de líderes mundiais põe em risco cortes de emissões

Menos de um ano após afirmar que o Reino Unido deveria ser líder na redução das emissões de carbono, a possível ausência do primeiro-ministro Keir Starmer na conferência climática aponta para hipocrisia de governos quanto a metas de energia limpa

COP30
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Bloomberg Opinion — Menos de um ano depois de o primeiro-ministro britânico Keir Starmer ter declarado ao mundo que deseja que o Reino Unido assuma a liderança na redução das emissões de carbono, ele supostamente planeja não comparecer à importantíssima conferência climática COP30 das Nações Unidas, que será realizada em novembro, no Brasil.

Starmer lidera apenas um dos muitos governos supostamente conscientes com o meio ambiente que renegaram suas promessas. No entanto, o ceticismo expresso pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, atrai a maior parte da atenção, e corremos o risco de perdoar os líderes mundiais por voltarem atrás em suas promessas climáticas.

A decisão de Starmer sobre a COP30 ainda não foi oficialmente tomada, mas há uma disputa em Downing Street sobre o assunto, porque os assessores estão preocupados em serem criticados pelo partido Reform UK.

Se o primeiro-ministro não for ao evento, a atitude não só seria completamente hipócrita (ele criticou Rishi Sunak por faltar à COP27 em 2022), mas também faria com que suas ambições climáticas anteriormente declaradas parecessem dissimuladas ou, na melhor das hipóteses, fracas.

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Leia mais: Fundo florestal de US$ 125 bi proposto pelo Brasil sofre com atrasos antes da COP30

A conferência deste ano também enfrenta desafios logísticos devido à sua localização perto da floresta amazônica — talvez Starmer não goste da ideia de dormir em um cruzeiro ou em um motel — e há críticas legítimas de que toda edição da COP é muito grande, ineficaz e prejudicada pela ausência de países como a Arábia Saudita.

Mas esses não são motivos suficientes para Starmer não comparecer, especialmente porque este ano tem a importância simbólica de marcar uma década desde que o Acordo de Paris foi adotado.

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Participar seria uma demonstração de força diante da retórica anticlimática em outras partes do mundo; evitar o evento para não ouvir comentários sarcásticos de Nigel Farage é covardia.

Poderíamos dar a ele o benefício da dúvida, mas ele também teria supostamente tentado destituir Ed Miliband, um defensor declarado da ação climática, do cargo de secretário de Energia, enquanto seu governo aprovou uma segunda pista no Aeroporto de Gatwick e pode estar prestes a dar uma grande guinada em relação à perfuração de petróleo e gás no Mar do Norte.

Outros líderes também continuam falando muito, mas deixando de agir. Após o discurso inflamado de Trump na ONU na semana passada, mais de 100 países anunciaram novas metas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa ou prometeram apresentar planos climáticos atualizados, conhecidos como NDCs, antes da cúpula climática no Brasil.

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, discursou na ONU no dia seguinte ao de Trump, garantindo que “o mundo pode contar com a liderança climática contínua da União Europeia”.

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Essas palavras tranquilizadoras não são corroboradas pelos eventos recentes. A poucas semanas da COP30, os membros da UE ainda discutem suas metas de redução de emissões para 2035 e 2040.

Na semana passada, o bloco adiou mais uma vez a implementação de novas regras contra o desmatamento por mais um ano — a Comissão culpou questões técnicas —, enquanto uma lei de monitoramento florestal, que teria ajudado a proteger o continente de incêndios florestais, foi rejeitada por uma coalizão na quarta-feira (1º).

O regime de simplificação em andamento, por meio de uma série de pacotes “Omnibus”, essencialmente dilui toda uma série de regulamentações sustentáveis.

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O México é literalmente governado por uma cientista especializada em energia e clima, a presidente Claudia Sheinbaum, mas mesmo seu compromisso com a descarbonização está sendo testado.

Seu governo está assumindo dívidas extras para apoiar a petroleira estatal Pemex, enquanto a BloombergNEF prevê que o país se tornará mais dependente das importações de gás dos EUA até 2030.

O plano de energia limpa de Sheinbaum é bem-vindo, mas está muito aquém do que é necessário para um caminho rumo ao net zero.

Leia mais: Brasil busca formar coalizão de países na COP30 para unificar mercados de carbono

O Canadá também tem um defensor do clima no poder. O primeiro-ministro Mark Carney foi enviado especial da ONU para ação climática e finanças, então seria de se esperar que ele promovesse uma visão grandiosa e focada em sustentabilidade. Mas uma de suas primeiras medidas no cargo foi eliminar o imposto sobre o carbono para os consumidores, sem oferecer uma alternativa.

Recentemente, seu governo tem se mostrado evasivo quando questionado sobre seu compromisso com a meta de redução de emissões do Canadá para 2030. A meta de vendas de veículos elétricos foi adiada por pelo menos um ano; a produção de petróleo e gás foi aumentada.

O governador da Califórnia Gavin Newsom ajudou a tornar o estado um líder na adoção de veículos elétricos e na geração de eletricidade renovável. Mas mesmo ele recuou em sua guerra contra os combustíveis fósseis, à medida que as empresas petrolíferas deixam o estado e os preços da gasolina aumentam.

Em uma medida chocante, Newsom acaba de aprovar um pacote para impulsionar a perfuração de petróleo, cerca de um ano depois de descrever a indústria como o “coração poluído desta crise climática”.

O aumento da produção no estado ajudará a reduzir os picos de preço para os consumidores de gasolina, enquanto — de acordo com seu gabinete — continua a transição de anos para longe dos combustíveis fósseis. Eu não me esforçaria muito para tentar entender isso.

Já conhecemos Trump há tempo suficiente para saber que seu discurso recente na ONU foi chocante, mas não surpreendente. Ele reclama das turbinas eólicas (que ele erroneamente chama de moinhos de vento) desde que algumas foram planejadas à vista de seus campos de golfe no país, há 14 anos (ele acabou perdendo a batalha judicial e as turbinas foram construídas).

Entre os apelos para perfurar petróleo e as conversas sobre “carvão bonito e limpo”, é fácil ver o presidente americano como alguém isolado em sua retórica anticlimática.

É difícil pensar em um único governo que tenha feito mais para desfazer décadas de ação climática em tão pouco tempo do que o atual governo dos EUA, que rasgou regras climáticas, retirou financiamento de cientistas, excluiu grandes quantidades de dados preciosos e publicou mentiras descaradas — tudo isso apenas alguns meses após o início do segundo mandato de Trump.

Mas é quase pior ver as falhas daqueles em quem confiamos mais do que nunca para priorizar ações que criarão oportunidades econômicas e aumentarão a segurança do país.

Será este o efeito assustador da guerra dos EUA contra o ambientalismo? Parece improvável que essa seja a única razão.

Leia mais: Para a Natura, COP30 é também oportunidade para expressar seu modelo de negócio

Um relatório publicado na semana passada pelo instituto de pesquisa Stockholm Environment Institute descobriu que os governos em todo o mundo planejam produzir 120% mais combustíveis fósseis em 2030 do que o necessário para limitar o aquecimento a 1,5 °C. E cerca de 74% dos signatários do Acordo de Paris falharam até mesmo na tarefa básica de apresentar novos NDCs com metas para 2025.

Nem tudo é sombrio. A quantidade de dinheiro investida em energia limpa nunca foi tão alta.

O mundo instalou mais fontes de energia renovável do que nunca no ano passado, com painéis solares e baterias cada vez melhores e mais baratos. Há motivos para acreditar que a onda de descarbonização não será interrompida agora, porque faz sentido econômico e estratégico.

Mas você sabe o que mais está mais alto do que nunca? A quantidade de dióxido de carbono lançado na atmosfera. Os líderes mundiais não devem ser autorizados a fugir de suas obrigações climáticas de longo prazo por razões políticas de curto prazo — incluindo Starmer.

Esta coluna reflete as opiniões pessoais do autor e não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Lara Williams é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre mudança climática.

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