Esta empresa apostou em energia eólica offshore nos EUA. Trump coloca planos em risco

A Orsted, da Dinamarca, viu uma oportunidade de crescer no segmento com sua experiência na Europa; decisão do governo de paralisar um parque eólico de US$ 4 bi da empresa ameaça os seus projetos, que incluem uma oferta de ações

Orsted
Por William Mathis
25 de Agosto, 2025 | 04:17 PM

Bloomberg — As ações da Orsted caíram até 19%, atingindo um recorde de baixa, depois que o governo Trump bloqueou a construção de um parque eólico offshore quase concluído, colocando em dúvida a oferta de ações de 60 bilhões de coroas (US$ 9,4 bilhões) da empresa dinamarquesa, que estava planejada.

A ordem de paralisação emitida no final da sexta-feira (22) teve como alvo o parque eólico Revolution Wind, na costa de Rhode Island, e citou preocupações de segurança nacional para a decisão.

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Essa é a mais recente de uma série de más notícias para a Orsted, que já viu sua classificação de crédito ser cortada para o grau de investimento mais baixo. Suas ações caíram mais de 40% este ano, reduzindo em quase US$ 8 bilhões o valor de mercado da empresa.

A gestão da Orsted se reunirá com investidores e consultores em Londres na terça-feira (26) para assegurar-lhes que a emissão de direitos planejada irá adiante, apesar da crise crescente.

A Orsted, que ainda não lançou formalmente nem fixou o preço da oferta, está sendo assessorada por bancos como o JPMorgan Chase e o Morgan Stanley.

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“Esperamos que tudo isso crie uma configuração mais desafiadora para a próxima emissão de direitos em relação ao preço de emissão e à demanda dos investidores”, disse Ahmed Farman, analista da Jefferies International, em uma nota.

Leia também: Por que a indústria eólica no Brasil enfrenta uma ‘crise dentro da crise’

A intervenção de Trump no projeto Revolution Wind é sua mais recente iniciativa para interromper a expansão da energia eólica offshore, uma fonte de energia que ele há muito desdenha.

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Os ataques sem precedentes do governo incluem a suspensão de novos arrendamentos e licenças, a retirada de milhões de acres do oceano para desenvolvimento e a reversão de créditos fiscais.

O Departamento de Comércio dos EUA lançou uma investigação na semana passada sobre turbinas eólicas importadas e peças que poderiam levar a mais tarifas.

“O presidente Trump tem sido muito consistente, ele não é fã de energia eólica”, disse o administrador da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, Lee Zeldin, em uma entrevista à Fox News.

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A ordem de interrupção do trabalho foi emitida poucas horas depois que o ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen, assinou um acordo climático com o governador da Califórnia, Gavin Newsom, o que provocou especulações na Dinamarca de que Trump tomou essa medida como retaliação.

Os governadores de Connecticut e Rhode Island disseram que trabalha para alterar a decisão.

“Essa medida política do governo Trump aumentará o custo das contas de eletricidade e contradiz tudo o que o governo nos disse”, disse o governador de Connecticut, Ned Lamont, em um comunicado no fim de semana.

“Isso desperdiça anos de investimento do estado em energia renovável, projetado para diversificar nosso fornecimento de energia e reduzir os custos para famílias e empresas.”

Para a Orsted, uma das maiores desenvolvedoras de energia eólica offshore do mundo, a ordem marca um novo revés no esforço da empresa para replicar seus negócios europeus nos EUA.

Nos últimos anos, problemas como os onerosos gargalos na cadeia de suprimentos forçaram a empresa a cancelar dois grandes projetos e a fazer uma série de baixas contábeis, o que levou à substituição dos principais executivos.

A incerteza que paira sobre o setor impossibilitou a Orsted de vender uma participação na Sunrise Wind, outro parque eólico que está construindo na costa dos EUA. A falta de fundos adicionais provenientes da venda desse projeto foi apontada como a razão pela qual a empresa decidiu captar dinheiro dos investidores.

A Orsted procurou tranquilizar os investidores na segunda-feira, dizendo que a captação de recursos ainda está em andamento. Seria a maior venda de ações do setor energético europeu em mais de uma década.

“A emissão de direitos planejada foi dimensionada para fornecer o fortalecimento necessário da estrutura de capital da Orsted para executar seu plano de negócios, mesmo levando em conta o impacto dessa incerteza no portfólio eólico offshore da Orsted nos EUA”, disse a empresa em um comunicado.

O governo dinamarquês, que detém 50,1% da Orsted, ainda apóia o aumento de capital, disse o ministro das Finanças, Nicolai Wammen.

Ainda assim, os investidores vão querer saber se a empresa conseguirá chegar a um acordo para resgatar o Revolution Wind - cuja construção tem o custo de US$ 4 bilhões, de acordo com uma estimativa da Jefferies - ou se será forçada a abandonar o projeto quase concluído.

A incerteza poderia prejudicar o interesse dos acionistas na emissão de direitos ou até mesmo levar o governo a aumentar sua participação na empresa.

No início deste ano, Trump suspendeu a construção de outro parque eólico offshore nos EUA, o Empire Wind, da Equinor, mas reverteu a decisão depois de chegar a um acordo com a governadora de Nova York, Kathy Hochul, que poderia permitir a construção de novos gasodutos de gás natural no estado.

As ações da Orsted fecharam em queda de 16%, a 179,10 coroas. A Eversource Energy, uma empresa de serviços públicos dos EUA que tem passivos vinculados à Revolution, caiu até 7,5%, a maior queda desde janeiro de 2024.

-- Com a colaboração de Christian Wienberg, Sanne Wass, Sara Sjolin e Mark Chediak.

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