Filho de bilionário da Apollo leva espírito de Wall St à agência de fomento dos EUA

Ben Black, filho de Leon Black, foi encarregado por Trump para assumir mais risco e entregar mais retorno e relevância para a área do governo que financia projetos em países emergentes

Ben Black
Por Loukia Gyftopoulou - Joe Deaux - Marion Halftermeyer
24 de Maio, 2025 | 06:10 AM

Bloomberg — Ben Black não tem experiência formal de trabalho em Washington e apresenta um currículo limitado em Wall Street.

No entanto o filho do bilionário Leon Black, cofundador da Apollo Global Management, se prepara para dirigir uma agência com um papel cada vez mais importante na política da Casa Branca - a US International Development Finance Corp., conhecida pela sigla DFC.

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Black, que foi uma escolha surpresa do presidente Donald Trump, tem a tarefa de levar uma nova abordagem para a DFC, uma agência do governo americano responsável por financiar o desenvolvimento econômico em países emergentes: assumir riscos maiores e entregar retornos mais altos e acordos mais ambiciosos com os principais investidores de Wall Street.

Formado em direito e administração de empresas em Harvard, o filho de Leon Black teve uma breve passagem pelo Goldman Sachs, passou alguns anos na Apollo, fundou sua própria pequena empresa de investimentos e tentou sem sucesso fechar um acordo com um SPAC, como são chamadas as empresas de investimentos de “cheque em branco”.

Mas seus apoiadores afastam as preocupações com essa pouca experiência e dizem que o homem de 40 anos tem a linhagem e as conexões que poderiam ajudar a DFC a deixar de ser uma agência de financiamento para o desenvolvimento pouco conhecida e transformá-la em um player relevante nos investimentos em infraestrutura e uma importante ferramenta de política externa dos Estados Unidos.

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Criada com apoio bipartidário durante o primeiro mandato de Trump, a DFC agora tem uma carteira de cerca de US$ 50 bilhões.

A agência oferece financiamento e garantias para projetos em países em desenvolvimento que estejam ligados aos objetivos da política externa dos Estados Unidos.

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Embora tenha sofrido um êxodo de funcionários nos últimos meses, a DFC sobreviveu quando Trump fechou a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID), que durante muito tempo foi o principal canal de ajuda externa.

“A DFC está posicionada para se tornar uma das principais agências de desenvolvimento do mundo”, disse Robert Mosbacher Jr., que dirigiu uma precursora da DFC, ajudou a redigir a legislação que criou a agência e disse que se reuniu com Black para discutir sua nova função.

A DFC ocupou o centro do palco em várias iniciativas importantes de Trump, especialmente porque o governo teve que controlar algumas de suas ambições de criar um enorme fundo soberano.

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A DFC é a investidora dos Estados Unidos no fundo de reconstrução da Ucrânia. O presidente ordenou que ela aplicasse dinheiro para impulsionar a produção mineral dos Estados Unidos. E fala-se em ir além das economias em desenvolvimento e, possivelmente, até mesmo em projetos nos Estados Unidos.

A Casa Branca procura pelo menos dobrar a capacidade de investimento da DFC e fazer com que a agência ajude a desenvolver acordos estratégicos com os departamentos de Defesa e Energia, de acordo com pessoas familiarizadas com os planos que falaram à Bloomberg News.

Além dos benefícios geopolíticos, o governo quer projetos que proporcionem maiores retornos financeiros. Isso também ajudaria a torná-los mais atraentes para os parceiros do setor privado.

As autoridades também procuram maneiras de contornar os limites salariais do governo para atrair talentos de Wall Street, disseram as pessoas.

Black planeja trazer o filho de Michael Novogratz, outro bilionário de setor financeiro e veterano do Goldman Sachs que se tornou defensor do setor de criptoativos, de acordo com duas pessoas familiarizadas com o assunto.

Aos 27 anos, Christian Novogratz se formou há apenas cinco meses na Universidade de Princeton. (Sua tia, Jacqueline Novogratz, fundadora de um fundo de investimento de impacto, é membro do Conselho Consultivo de Desenvolvimento, que assessora a DFC).

Juntando-se a eles como chefe de equipe e chefe de investimentos está Conor Coleman, de 29 anos, que trabalhou na Fortinbras Enterprises.

A Fortinbras, que tem o nome de um personagem de Hamlet, de Shakespeare, é uma pequena casa de investimentos fundada por Ben Black há cerca de cinco anos.

Coleman começou a trabalhar na DFC nas últimas semanas e já procura formar uma equipe com experiência em áreas como energia, infraestrutura e minerais essenciais, de acordo com uma pessoa familiarizada com seus planos.

Michael e Christian Novogratz não quiseram comentar. Coleman não respondeu a um pedido de comentário.

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Leon Black transformou a Apollo em uma das maiores gestoras de ativos alternativos do mundo. Ele deixou a empresa em 2021 após revelações de que havia pago o criminoso sexual condenado Jeffrey Epstein por serviços fiscais, embora Black tenha afirmado que não tinha conhecimento dos crimes de Epstein.

Depois que os planos de Trump de criar de um fundo soberano terem ficam em segundo plano, o governo procura consolidar os programas de investimento do governo e dar à DFC um papel maior, de acordo com pessoas familiarizadas com as discussões.

Ben Black ainda aguarda sua confirmação pelo Senado, que ainda não foi agendada, mas pode ser anunciada nas próximas semanas. Por meio de um porta-voz, ele não quis fazer comentários para esta reportagem.

Um porta-voz da DFC disse que a agência “está comprometida em cumprir sua missão e obrigações ao se alinhar com as prioridades do presidente Trump”, mas não quis comentar os planos de Black.

A nomeação de Black ocorreu depois que ele foi coautor de uma publicação com o bilionário da tecnologia Joe Lonsdale, em janeiro, intitulada “How to DOGE US Foreign Aid” (Como controlar a ajuda externa dos EUA), que pedia um foco na geração de lucros e negócios, como o financiamento de infraestrutura na Groenlândia para mineração e transporte.

“Grande parte do nosso atual orçamento de ajuda externa é um desperdício e deveria ser cortado”, escreveram Lonsdale e Black. “Se vamos gastar dinheiro no exterior, que o façamos com um modelo orientado para o investimento e focado em iniciativas estratégicas de financiamento de projetos.”

Em um post em 31 de janeiro nas redes sociais anunciando a indicação de Black, o presidente Donald Trump afirmou: “Ben usará sua perspicácia financeira e sua ampla experiência em negociações para garantir que nossos investimentos em todo o mundo beneficiem nossos cidadãos e fortaleçam nosso país.”

Por enquanto, a maioria dos projetos foi suspensa enquanto a DFC aguarda a confirmação da indicação de Black, de acordo com funcionários atuais e antigos.

Foi solicitado aos funcionários que mostrassem como os negócios em andamento seriam do interesse financeiro dos Estados Unidos.

Cerca de um quarto dos 700 funcionários da DFC deixaram a agência desde o início do ano por meio de demissões e renúncias, de acordo com funcionários atuais e antigos.

Muitos dos que abandonaram a DFC são profissionais jurídicos e de investimento da linha de frente, fora de Washington, atingidos pelas exigências de retorno ao escritório do governo Trump.

A DFC cresceu significativamente com a contratação de funcionários remotos durante a pandemia que tinham a experiência, mas não queriam se mudar para Washington.

Black já procura contratar bancos como Goldman Sachs e Morgan Stanley, bem como empresas de private equity, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto que falaram à Bloomberg News.

“A DFC tem cumprido fielmente as ordens executivas relacionadas à revisão da assistência externa e continua comprometida com o avanço das transações financeiras de desenvolvimento que se alinham com as prioridades do presidente Trump”, disse o porta-voz da agência. “Estamos trabalhando para retomar a atividade de investimento”.

Quando foi criada em 2019, a agência recebeu um limite de investimento de US$ 60 bilhões para viabilizar projetos em países em desenvolvimento que reforçariam a segurança nacional e a influência dos Estados Unidos - e combateriam a Iniciativa Cinturão e Rota da China.

Prevê-se que o limite de investimentos da agência dobrará ou triplicará quando o Congresso reformular seu mandato no final deste ano, e a DFC poderá ter margem de manobra para fazer mais negócios de capital.

O fundo da Ucrânia é visto como um modelo para a DFC, atraindo também alguns dos investidores privados que levantaram fundos de vários bilhões de dólares para preencher as lacunas deixadas por governos em dificuldades.

Como resultado do processo de reautorização, a agência poderia ganhar flexibilidade para investir em países mais ricos e assumir projetos mais arriscados a fim de atrair mais apoiadores do setor privado.

É provável que qualquer mudança de estratégia seja alvo de críticas de que a agência está se desviando de sua missão original de apoiar os mercados emergentes para promover os interesses dos Estados Unidos.

“Parece haver uma grande estratégia, e a DFC parece ser um grande canal dessa estratégia”, disse Salar Ghahramani, professor da Penn State University e fundador da Global Policy Advisors, uma empresa de consultoria em fundos soberanos.

-- Com a colaboração de Daniel Flatley, Katherine Burton e David Gillen.

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