Fundos têm resgate de R$ 205 bi no 1º semestre, o pior resultado da série histórica

Segundo a Anbima, resgates foram puxados pelos fundos de renda fixa, com saídas de R$ 109,9 bilhões, seguidos pelos multimercados e de ações

Trader com painéis de ações
06 de Julho, 2023 | 12:46 PM

Bloomberg Línea — A indústria de fundos de investimento registrou uma saída líquida (aportes menos resgates) de R$ 205 bilhões no primeiro semestre deste ano. O desempenho é o pior para o período desde o início da série histórica da Anbima, iniciada em 2002, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (6).

“A saída de dinheiro é mais resultado de uma aversão ao risco e da atratividade de outras alternativas de investimento preferidas hoje, como produtos bancários e títulos isentos, dadas as condições macro, com incertezas políticas e econômicas, além dos juros altos”, disse Pedro Rudge, vice-presidente da Anbima, durante entrevista a jornalistas.

Os resgates foram puxados pelos fundos de renda fixa, com saídas de R$ 109,9 bilhões, seguidos pelos multimercados (R$ 53,7 bilhões) e de ações, com resgates de R$ 38,5 bilhões. No período, apenas os Fundos de Investimento em Participações (FIPs) e os ETFs tiveram uma captação líquida positiva. ETFs são fundos negociados em bolsa que buscam desempenho atrelado a um determinado índice.

Em 12 meses até junho, as saídas líquidas somaram R$ 379,3 bilhões. Nos últimos cinco anos, contudo, a captação líquida é positiva em R$ 477,7 bilhões, com destaque para o ano de 2021, que registrou entrada líquida de R$ 410 bilhões.

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Em junho, o patrimônio líquido da indústria somou R$ 7,7 trilhões, um aumento de 7,8% na primeira metade do ano.

Rudge destacou a preferência dos investidores por produtos de renda fixa isentos de Imposto de Renda, caso das debêntures incentivadas, Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRIs e CRAs), que têm afetado até mesmo os investimentos na poupança.

“Assim como a indústria de fundos, a poupança também está com resgates líquidos. Produtos bancários, como CDBs, e produtos isentos de IR têm se tornado mais atrativos e relevantes, com crescimento de 15% a 20% das captações no período”, disse, destacando o patamar da Selic atrativo em dois dígitos - a taxa está em 13,75% ao ano desde agosto de 2022.

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Rentabilidade

Quando analisada a rentabilidade dos fundos de investimento no primeiro semestre, os destaques ficaram com as classes “ações, investimento no exterior”, “ações livre” e “ações small caps”, com ganhos de 11,8%, 11,6% e 10,5%, respectivamente.

“Assuntos econômicos e políticos caminharam no período e trouxeram maior confiança para o investidor. Isso fez com que houvesse uma reprecificação nos ativos de risco ou pelo menos uma mudança no rumo do que vimos nos últimos meses”, disse Rudge. No período, o Ibovespa (IBOV) teve alta de 7,6%.

Ele destacou, contudo, que ainda há certa dúvida com relação à velocidade da queda dos juros, com investidores se sentindo mais confortáveis em migrar para investimentos mais conservadores.

Corte da Selic é o principal motor?

Após dados mais fracos de inflação e sinalizações mais dovish (tom menos rigoroso na política monetária) do Banco Central, grande parte do mercado financeiro já estima um corte das taxas de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em agosto.

Olhando para frente, Rudge afirmou que o comportamento e o apetite dos investidores deverão continuar muito ligados à expectativa da queda dos juros.

“Uma votação do arcabouço fiscal, uma reforma tributária e números de inflação dentro do esperado solidificam a visão de que em algum momento o BC vai ter uma oportunidade para reduzir a taxa de juros”, avaliou Rudge.

“À medida que os investidores adotarem mais essa percepção, veremos a confiança voltando e maior apetite por risco. Vimos um pouco disso nas últimas semanas, com o comportamento de juros futuros e da bolsa melhorando – que é consequência de uma confiança um pouco maior.”

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E completou: “O quão rápido veremos essa mudança é algo difícil de prever, mas assumindo que a tendência é a de queda dos juros ainda neste ano, veremos uma indústria de fundos se beneficiando disso e, eventualmente, uma melhora nos números de captação.”

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.