Queda do Credit Suisse deixa em bankers sentimento misto de crítica e alívio

Após colapso do tradicional banco suíço, vendido às pressas para o rival UBS em março, banqueiros se encontram em Nova York para falar do que deu errado

Colapso do Credit Suisse em março afetou um dos bancos de investimento mais tradicionais e respeitados do mercado
Por Max Abelson
20 de Maio, 2023 | 09:13 AM
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Bloomberg — Veteranos de Wall Street estavam lotando um bar com terraço com vista para o Bryant Park, em Nova York, em uma noite amena de terça-feira em maio, quando duas mulheres brindaram.

“Tin-tin”, disse Janine Shelffo, que era banqueira de tecnologia, mídia e telecomunicações no Donaldson Lufkin & Jenrette (DLJ) antes que o antigo banco de Wall Street fosse comprada em 2000. “O Credit Suisse pegou a melhor empresa de Wall Street e a destruiu.”

Ex-colegas já se reuniam desde que o Credit Suisse (CS) engoliu sua empresa. Este foi o primeiro encontro desde a queda do gigante suíço em março, quando foi adquirido por um rival maior, o UBS (UBS), depois de ter após mergulhado em crise.

“A única coisa que senti quando li sobre o Credit Suisse foi alegria”, disse Beth Chartoff, que havia sido banker de varejo e consumo. Não é que estivesse realmente feliz, ela acrescentou, mas o colapso oferecia algo como uma justificativa.

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Os banqueiros trabalham na elaboração de narrativas sobre as empresas, por isso faz sentido que eles próprios acabem com um retrato tão distinto. Mesmo as antigas empresas financeiras mantêm reputações de, digamos, genialidade, caos, luxo, enfadonho ou, no caso do DLJ, diversão.

Muitos desses banqueiros de investimento, que ganharam dinheiro organizando aquisições, descobriram que desprezavam o que acontecia quando o banco foi absorvido. E essa dor pode durar décadas.

Karen Fenn, que supervisionou os assistentes administrativos do DLJ e ajudou a administrar as reuniões, lembra-se do Credit Suisse como um lugar frio. “As pessoas não eram amigáveis”, disse Fenn, que cresceu em Mill Basin e ainda tem o sotaque do sul do Brooklyn. “Vemos mais do que os profissionais pensam.”

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Do outro lado da esplanada, junto ao bar, um empregado oferecia pedaços de quiche de cogumelos aos banqueiros. “Tínhamos uma cultura. Gostávamos um do outro”, disse Hal Ritch, que havia sido codiretor de M&A [fusões e aquisições]. “Você entra naquele lugar…”, ele começou a dizer sobre o Credit Suisse, antes de Larry Schloss intervir.

“Cuidado”, disse Schloss, que dirigia a unidade de banco comercial do Donaldson Lufkin & Jenrette.

“Não era a fonte de toda a felicidade”, concluiu Ritch.

“Deixe-me dizer melhor”, propôs Schloss. Ele explicou que a declaração de princípios do DLJ incluía um comando para se divertir. “Chegamos ao Credit Suisse e eles riram disso”, disse ele. “Mas nós levamos isso a sério.”

Antes do acordo, o DLJ havia se tornado a maior empresa de subscrição de junk bonds de Wall Street, conquistando uma posição no mercado que não era vista desde o apogeu de Michael Milken na Drexel Burnham Lambert. Após o colapso da Drexel, muitos de seus banqueiros foram para o DLJ - embora a Drexel também tenha a própria rede unida.

Michael Boyd, conselheiro geral do DLJ, trouxe uma sacola vintage para o bar, uma reminiscência da infame fusão entre a AOL e a Time Warner nos tempos da bolha de internet nos anos 2000.

Em março deste ano, o UBS concordou em comprar o Credit Suisse por cerca de US$ 3,25 bilhões, uma ninharia relativa para o banco.

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Bob Fleischer, que trabalhava no grupo de instituições financeiras do DLJ, sentia-se mal pelo Credit Suisse. Lee LeBrun, agora um executivo bancário de longa data, não sentiu nada.

Outro veterano disse que pensava no Credit Suisse da mesma forma como pensava nos malabaristas que praticavam logo abaixo do bar do terraço — em outras palavras, de jeito nenhum.

Vince DeGiaimo evitou a negatividade concentrando-se no “espírito” do DLJ.

W. Patrick McMullan, um banqueiro criado no Mississippi que trouxe uma garrafa enorme de cabernet sauvignon 1992 para compartilhar, sugeriu que estava simplesmente feliz por ter saído com a maior parte de seu dinheiro.

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Alguns ex-funcionários do Credit Suisse lembram-se do banco de investimento com carinho, chamando-o de um lugar que também promovia lealdade e camaradagem. Da mesma forma, o DLJ nem sempre foi tranquilo.

Décadas atrás, o executivo do banco Brian Mullen escreveu o memorando “muito ocupado” para os colegas, incentivando uma diligência de 96 horas por semana que, em retrospecto, sugere que o DLJ não poderia ter sido divertido para todos o tempo todo.

Na festa, o banqueiro sênior Larry Lavine disse que permaneceu no Credit Suisse por alguns anos após a aquisição. “Eu tentei fazer funcionar”, disse ele em uma mesa. “Não foi divertido.”

Nas proximidades estava uma jovem de 27 anos que trabalha em um banco e veio para a festa como convidada. Ela disse que não tinha certeza do que significava DLJ. Sabia que era um banco. Ela só não tinha certeza do que havia acontecido com ele.

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