Gestoras se dividem em apostas em juro diante de pressão por corte da Selic

Alguns dos fundos mais conhecidos do país estão receosos com a dinâmica da inflação, apesar do arrefecimento do ritmo de alta dos preços

Pressão crescente por cortes da Selic pelo governo e sinais de que a economia está mais aquecida do que o esperado dificultam apostas
Por Felipe Saturnino
17 de Maio, 2023 | 04:28 PM

Bloomberg — As principais gestoras estão divididas sobre como apostar nas taxas de juros, já que os investidores se deparam com pressão crescente por cortes da Selic pelo governo e sinais de que a economia está mais aquecida do que o esperado.

Alguns dos fundos mais conhecidos do país estão receosos com a dinâmica da inflação ao consumidor, apesar do arrefecimento do ritmo de alta dos preços.

A Adam Capital, que construiu posições que ganham com a alta dos juros futuros, diz que não há espaço para o Banco Central afrouxar o tom, já que os itens de maior “inflação inercial” permanecem em níveis elevados – o que ecoa opiniões do próprio BC.

A inflação desacelera há 10 meses consecutivos e recentemente atingiu o nível mais baixo em dois anos e meio. Ainda assim, os dados do IPCA de abril divulgados na sexta-feira passada (12) mostraram que os preços ao consumidor caíram menos do que o previsto pelos analistas.

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A Absolute Investimentos compartilha da mesma aposta da Adam em juros futuros. O fundo descreve o núcleo da inflação como muito alto e destaca que os dados sólidos do mercado de trabalho sugerem um primeiro trimestre forte para a atividade.

A Absolute projeta que a Selic permanecerá inalterada em 13,75% ao ano, o maior nível em seis anos, ao longo de 2023.

Genoa Capital, Legacy Capital e Ibiuna Investimentos estão do outro lado da mesa, com a aposta na queda das taxas de juros futuros. Atualmente, o mercado precifica um ciclo total de flexibilização de mais de 350 pontos-base até o final de 2024.

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A Bahia Asset Management, por sua vez, mantém apostas em “flattening” – achatamento ou diminuição do diferencial entre as taxas de curto e de longo prazo – da curva de juros.

“Esperamos um ciclo de cortes que começará mais tarde, mas que também possa ser mais rápido do que o que está hoje nos preços”, disse Thiago Mendez, sócio e gestor de multimercados e renda fixa no Bahia Asset. A gestora prevê que haverá redução da Selic apenas a partir do primeiro semestre de 2024.

Uma cesta de hedge funds locais teve ganho de 0,81% em abril, segundo o índice IHFA, da Anbima – o primeiro ganho mensal em três meses, interrompendo sua pior trajetória desde 2021.

Confira as principais posições de fundos brasileiros e o retorno em abril, segundo suas cartas mensais:

Absolute

A Absolute detém apostas em bolsas globais e em ações brasileiras. O fundo está vendido (aposta na queda) em dólar contra o peso mexicano.

O fundo Absolute Vertex FIC teve ganhos de 0,27% em abril, ante variação de 0,92% do CDI.

Adam Capital

A gestora tem operações relativas em moedas, com apostas no real e no euro, além de posições vendidas em peso mexicano. O multimercado Adam Macro II FIC subiu 1,43% no mês passado.

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Bahia Asset

O fundo Bahia AM Marau FIC está vendido em bolsas americanas e no dólar, além de estar aplicado (à espera da queda das taxas) em juros americanos. No ýultimo mês, o fundo teve ganhos de 0,52%.

Genoa Capital

O fundo avalia que o Conselho Monetário Nacional provavelmente mudará a meta de inflação a partir de 2024 de 3% para 3,5%. A Genoa Capital encerrou as apostas nos juros americanos e deve se beneficiar de uma curva mais inclinada no Chile e taxas mais altas no Japão. Em abril, o fundo Genoa Capital Radar FIC FIM teve ganhos de 0,85%.

Ibiuna Investimentos

Um aumento de 10 a 12 pontos percentuais na relação dívida bruta/PIB do Brasil nos próximos quatro anos parece “razoável”. A casa cortou as apostas que se beneficiavam de juros maiores nos Estados Unidos e aumentou as posições doadas em países emergentes selecionados. O fundo carro-chefe da casa, Ibiuna Hedge STH FIC, subiu 1,29% no último mês.

Kapitalo Investimentos

A convergência da inflação para a meta no Brasil requer uma desaceleração econômica mais forte. O fundo abriu apostas que ganham com taxas de inflação implícitas mais altas no Brasil, posições tomadas (que ganham com a alta das taxas) em juros do Japão e aplicadas no Reino Unido. Também aumentou suas apostas otimistas na moeda brasileira. O Kapitalo Kappa FIN teve desempenho positivo de 0,19% em abril.

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Legacy Capital

A Legacy está com posições aplicadas no Brasil, no México e nos EUA. Os cortes na taxa Selic são prováveis ​​a partir do terceiro trimestre, segundo os gestores. O fundo Legacy Capital FIC teve perdas de 0,41% no último mês.

Verde Asset

O fundo de Luis Stuhlberger reduziu marginalmente a exposição às ações brasileiras e voltou a estar liquidamente comprado (aposta na alta) em bolsas globais. A Verde também retomou as apostas no petróleo, ao mesmo tempo em que fechou uma posição comprada em dólar frente ao real diante de sinais fiscais positivos. O multimercado Verde FIC FIM encerrou abril praticamente “de lado”, com baixa de 0,03%.

Vinland Capital

A Vinland detém posições que ganham com o adiamento do ciclo de flexibilização no Brasil e está vendida na volatilidade dólar contra o real. A casa também está vendida em dólar em relação ao euro e ao iene japonês. O Vinland Macro FIC FIM subiu 0,63% em abril, ante variação de 0,92% do CDI.

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