Petrobras anuncia fim da paridade internacional nos preços dos combustíveis

Empresa sob o governo Lula diz que estratégia deve levar em consideração ‘a melhor alternativa acessível aos clientes’

Por

Bloomberg Línea — A Petrobras (PETR3; PETR4) anunciou na manhã desta terça-feira (16) que a diretoria executiva da companhia aprovou o fim da política de paridade internacional dos preços da gasolina e do diesel com o dólar e o mercado internacional nos combustíveis comercializados por suas refinarias. Era uma política criticada pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva desde a campanha eleitoral em 2022.

O esperado represamento dos preços dos combustíveis pode ter um efeito de alívio sobre a inflação ao consumidor, dado que esses produtos têm sido uma das principais fontes de pressão sobre os preços, considerando também o efeito em cadeia por causa do setor de transportes.

Na regra até então vigente da Petrobras, anunciada em 2016, os preços desses produtos no mercado interno acompanham com alguma defasagem as cotações internacionais do petróleo, matéria-prima para esses dois combustíveis, estando sujeitos a oscilações a depender do mercado externo.

“Os reajustes continuarão sendo feitos sem periodicidade definida, evitando o repasse para os preços internos da volatilidade conjuntural das cotações internacionais e da taxa de câmbio”, diz a estatal em comunicado.

A decisão levanta temores entre analistas e economistas de uma retomada da política de concessão de subsídios praticada no governo de Dilma Rousseff no início da década passada, quando a Petrobras acumulou dezenas de bilhões de reais em perdas ao manter os preços dos combustíveis mais baratos de maneira artificial apesar do aumento do preço do petróleo no mercado global.

Segundo a Petrobras, a nova estratégia comercial usa referências de mercado como o “custo alternativo do cliente”, como valor a ser priorizado na precificação, e o “valor marginal para a Petrobras”.

Enquanto o primeiro critério contemplaria “as principais alternativas de suprimento”, sejam fornecedores dos mesmos produtos ou de substitutos, o valor marginal para a companhia é baseado “no custo de oportunidade dadas as diversas alternativas para a companhia, dentre elas produção, importação e exportação do referido produto e/ou dos petróleos utilizados no refino”.

A petrolífera defende que a estratégia comercial tem como premissa preços competitivos por polo de venda, “em equilíbrio com os mercados nacional e internacional, levando em consideração a melhor alternativa acessível aos clientes”.

“Essa estratégia permite à Petrobras competir de forma mais eficiente, levando em consideração a sua participação no mercado, para otimização dos seus ativos de refino, e a rentabilidade de maneira sustentável”, diz o comunicado.

“Com a mudança, a Petrobras tem mais flexibilidade para praticar preços competitivos, se valendo de suas melhores condições de produção e logística e disputando mercado com outros atores que comercializam combustíveis no Brasil, como distribuidores e importadores”, completa.

No domingo (14), a empresa já havia anunciado que analisaria o tema nsta semana.

Mudança esperada

Desde a vitória de Lula no segundo turno das eleições em outubro passado, o mercado trabalha com a expectativa de uma nova política comercial para os combustíveis, já que durante a campanha eleitoral o petista adotava um discurso de defesa de medidas para redução do custo de vida.

Neste ano, a estatal já realizou reduções pontuais nos preços de combustíveis, mas o CEO da companhia, Jean Paul Prates, evitava se comprometer publicamente com uma medida considerada drástica de fim da paridade dos preços internos com as cotações no mercado internacional.

Na última sexta-feira (12), Prates já indicava que haveria novidades sobre a política comercial nesta semana, durante entrevista coletiva para comentar o balanço do primeiro trimestre.

“Vamos continuar seguindo a referência internacional e a competitividade interna em cada mercado. Não vamos perder venda, não vamos deixar de ter um preço mais atrativo para nossos clientes”, afirmou o CEO.

O preço da gasolina comum registrou alta de 12,2% no Brasil no primeiro quadrimestre do ano, segundo o Panorama Veloe de Indicadores de Mobilidade Urbana, realizado em parceria com a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). Em abril, a média nacional do preço da gasolina comum ficou em R$ 5,578.

O levantamento apontou que, no primeiro quadrimestre do ano, houve aumento de 10,6% no preço da gasolina aditivada, e de 4,8% no etanol hidratado. Já o GNV (gás natural veicular) e o diesel apresentaram queda nos primeiros quatro meses do ano.

Segundo a pesquisa, o diesel S10 foi o que registrou a maior queda (-9,9%) no acumulado de janeiro a abril, enquanto o diesel comum teve redução média de 8,9% no preço, e o GNV caiu 7,5%.

-- Com a colaboração de Sérgio Ripardo.

Leia também

Dólar perderá mais força ante o real? Essa é a aposta da vez de fundos globais

Petrobras: não vamos perder venda, diz Prates sobre nova política de preços