Renner fecha 13 lojas da Camicado em trimestre negativo para a varejista

Marca de casa e decoração da varejista gaúcha perde espaço no portfólio de lojas físicas com avanço do digital; lucro da Renner caiu 76% na base anual

Lojas Renner fechou 13 unidades da Camicado, o que corresponde a 10% do total de unidades, segundo a Genial Investimentos
04 de Maio, 2023 | 01:54 PM

Bloomberg Línea — Grandes varejistas brasileiras reportaram resultados considerados decepcionantes nos primeiros três meses do ano, com alertas sobre o impacto dos juros elevados, da inflação e do crédito mais caro e com restrições em seus resultados.

A perspectiva para o comércio do país é a aceleração dos cortes de despesas, incluindo demissões, fechamento de lojas e congelamento de investimentos, segundo analistas, em um cenário macro adverso.

Em balanço divulgado na quarta-feira (3), a Lojas Renner (LREN3), uma das maiores redes de lojas de departamentos de vestuário no Brasil, informou ter fechado 13 lojas da Camicado, maior varejista de artigos para casa e decoração do Brasil, no primeiro trimestre.

O encerramento das operações das unidades ocorre em meio à crise desse segmento de móveis e acessórios de decoração, com o fechamento de lojas da concorrente Tok&Stok, que está renegociando dívidas com credores e foi alvo de pedido de falência por fornecedor.

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“O fechamento de 13 unidades da Camicado pode assustar, dado que o número corresponde a aproximadamente 10% do parque existente. Acreditamos que a Renner tenha concentrado toda correção da marca em um único trimestre, de modo que não devemos ver uma significativa correção da bandeira ao longo dos próximos trimestres em 2023″, apontou a Genial Investimentos em relatório.

O ajuste de portfólio da Camicado levou a corretora a rebaixar o papel da Renner de “compra” para “manter”, cortando o preço-alvo de R$ 36,25 para R$ 20,50 e citando esperar um semestre de fraco crescimento de vendas e pressão de margens.

Além das 13 unidades da Camicado, o grupo, sediado em Porto Alegre, capital gaúcha, fechou 4 lojas da bandeira Renner e 3 da Youcom, totalizando uma redução de 20 unidades no primeiro trimestre.

Os investidores, no entanto, reagiam bem aos resultados e à reestruturação nesta quinta-feira. As ações da empresa subiam 4,67% às 14h (horário de Brasília).

No ano, o grupo tem prevista a inauguração de cerca de 15 a 20 lojas Renner, sendo 75% em novas praças, 10 a 15 da Youcom (roupas para geração Z) e 5 da Ashua (marca de moda plus size). “No segmento de home & decor, a maior participação das vendas através do digital também é fator na avaliação de rentabilidade das unidades”, detalhou a companhia.

Segundo a Lojas Renner, a “melhor gestão operacional na Camicado” resultou em redução de 25% dos estoques e ganho de 1,8 ponto percentual na margem bruta em 12 meses.

Lucro da Renner no primeiro trimestre de 2023

O lucro trimestral da Renner caiu quase 76% em 12 meses, para R$ 46,8 milhões. A geração de caixa (R$ 35 milhões) veio abaixo do esperado pelos analistas, que citaram uma dinâmica pior de receita por conta do cenário macroeconômico, maiores remarcações e fechamento de lojas.

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“O Ebitda ajustado do varejo da Lojas Renner veio 30% abaixo da nossa estimativa. Houve uma decisão da companhia de reduzir a coleção de meia estação para controlar estoque, despesas relacionadas a ajustes operacionais, revisão de estrutura por conta do macro e baixa de ativos por fechamento de lojas decorrente da otimização do footprint. O resultado da Realize [braço financeiro da Renner] veio negativo e com alta inadimplência”, apontou a equipe de análise da XP em nota.

A Renner resumiu o ajuste na Camicado desta forma: “Para a Camicado, o segmento de home & decor seguiu enfrentando um cenário desafiador, que tem sido intensificado por um ambiente macro ainda mais difícil, caracterizado por inflação e endividamente das famílias em níveis elevados. No trimestre, em linha com o processo de avaliação da rentabilidade das suas operações, a Camicado fechou 13 unidades, as quais resultam, inicialmente, em efeitos negativos nas vendas”, disse a companhia.

A varejista espera uma recuperação do faturamento com as unidades restantes. “Posteriormente, as demais lojas poderão absorver essas vendas com maior rentabilidade”, acrescentou a Renner.

Prejuízo em serviços financeiros

Os papéis da Renner acumulam queda de 28,1% desde o início do ano, desempenho bastante inferior ao do Ibovespa no mesmo período (-7,2%), com os investidores precificado essa elevada pressão sobre as vendas e sobre a rentabilidade, além da percepção de que esse cenário deve perdurar por mais alguns meses, explica a analista Georgia Jorge, do BB Investimentos, em relatório.

Mesmo assim, ela manteve a recomendação de compra com preço-alvo de R$ 26 para o final de 2023.

“O cenário menos propenso ao consumo de vestuário, diante da inflação acumulada, menor concessão de crédito e temperaturas mais altas na entrada da coleção outono/inverno combinado com a decisão da companhia em reduzir o estoque em peças de transição, implicaram em menores vendas no período, com perda de alavancagem operacional. Somado a isso, o negócio de produtos e serviços financeiros segue com resultados ruins, reportando prejuízo pelo 2º trimestre consecutivo”, avaliou a especialista em varejo.

Na sua visão, a Lojas Renner tem condições para enfrentar esse período mais turbulento, dada a correção de rota na estratégia de transições de coleções e de preços, a posição confortável de caixa e a escala da companhia.

Ela observou que, em relação à alavancagem financeira, a companhia segue em uma situação confortável de caixa líquido equivalente a 0,16x o Ebitda ajustada dos últimos 12 meses, ante 0,95x no primeiro trimestre de 2022.

“No trimestre, houve geração de caixa com atividades operacionais de R$ 108,5 milhões e um consumo de R$ 92,4 milhões em atividades de investimento, o que permitiu um fluxo de caixa livre positivo de R$ 16,1 milhões, ante um consumo de R$ 90,3 milhões no primeiro trimestre de 2022″, detalhou a analista do BB Investimentos.

Marketplace

O negócio da Lojas Renner que apresentou maior aumento das vendas foi a Youcom (+8,5% ano contra ano), seguida pela marca Renner (+3,1% a/a), enquanto a Camicado teve retração de receita em 14,6%. A margem bruta da operação mostrou uma queda de 0,9 ponto percentual, na comparação anual, devido à maior necessidade de remarcação de preços após um movimento menor de vendas no trimestre anterior.

A Lojas Renner tem apostado no avanço dos canais digitais. Exemplo: o marketplace da Camicado, que entrou no seu quarto ano de operação, encerrou o trimestre com 570 sellers (lojistas cadastrados na plataforma), mais que o dobro do registrado há um ano (230 mil).

O sortimento também cresceu para 350 mil produtos (entre itens da marca e dos sellers)- era 90 mil no mesmo trimestre do ano passado. Vão desde peças de decoração, para cozinha, sala de jantar e estar, quarto, banheiro, jardim e varanda, lavanderia, escritório e linha pet, até móveis e eletrodomésticos como fogões e geladeira.

Especialista em listas de presentes para casamento, chá de casa nova, aniversário, a Camicado foi adquirida pela Lojas Renner em 2011 por R$ 165 milhões. Antes, a marca, até então com 28 lojas, pertencia à Maxmix Comercial. Presente nas cinco regiões do país, a Camicado oferece produtos de decoração utensílios de cozinha e domésticos, eletroportáteis, organização, cama, mesa e banho.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.