Americanas tenta atrair e reter sellers em marketplace com pagamento semanal

CEO Leonardo Coelho encontrará 150 parceiros nesta terça para anunciar novidades na operação do marketplace; caravanas pelo país são outra estratégia

Americanas tenta manter operação de seu marketplace em patamares próximos aos de antes da crise
24 de Abril, 2023 | 06:35 PM

São Paulo — A Americanas (AMER3) decidiu tornar permanente a política de repasse semanal dos valores recebidos, referentes às vendas, aos sellers (vendedores) de sua plataforma de marketplace. Nesta terça-feira (25), o CEO da varejista, Leonardo Coelho, deve participar de um evento presencial, na capital paulista, com um grupo de 150 parceiros comerciais para anunciar a novidade.

A informação foi revelada pelo diretor de marketplace da companhia, Marco Zolet, em entrevista à Bloomberg Línea. Segundo o executivo, a Americanas Marketplace conta com mais de 150 mil lojistas parceiros e segue em operação mesmo com a empresa em RJ (Recuperação Judicial). Ele disse que o cenário desafiador não afetou os sellers, que continuaram a vender e a receber os repasses.

Zolet disse que a Americanas tem buscado ficar ainda mais próxima dos seus sellers. “Temos mais de 150 mil sellers. Não houve redução nesse número mesmo após o fato relevante de 11 de janeiro”, afirmou o diretor em referência ao dia em que a companhia revelou ao mercado um rombo contábil de R$ 20 bilhões. Uma semana depois, entrou com pedido de RJ, que aceito pela justiça no dia 19.

Ao fim do terceiro trimestre, último dado divulgado, a base de sellers era de 149 mil. A empresa já não divulgava, no entanto, quantos eram os vendedores considerados ativos no total.

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No dia 1º de março, a varejista divulgou que os vendedores da plataforma de marketplace continuavam recebendo regularmente os repasses dos valores recebidos pela companhia, dentro dos prazos de pagamentos e de acordo com os termos e as condições gerais do marketplace. Uma parte deles já recebe os repasses de suas vendas com uma frequência semanal.

“Foi um projeto piloto, que agora vamos tornar permanente. O objetivo é ficar mais próximo dos sellers, que se assustaram com os eventos do fato relevante de 11 de janeiro”, disse Zolet.

O executivo não quis dimensionar a redução do tráfego do marketplace depois de mais de três meses de crise. No começo de fevereiro, a equipe de analistas do Itaú BBA estimou uma queda de 57% no tráfego no site da Americanas somente em janeiro, uma espécie de proxy para estimar as vendas. O diretor do marketplace da companhia não confirmou esse dado. A varejista não tem data para divulgar o resultado financeiro do quarto trimestre e ainda não fechou um acordo com bancos credores.

Segundo Zolet, sem fornecer detalhes, houve uma redução no sortimento da plataforma, mas a situação está se normalizando com outros sellers vendo oportunidades de ocupar espaço em determinadas categorias. “Não houve mudanças na operação do marketplace. Investimos muito tempo tranquilizando os sellers. Eles continuam subindo suas campanhas e recebendo seus repasses.”

Caravana da Americanas

O executivo, que está no cargo desde o terceiro trimestre do ano passado, reforçou que o marketplace segue como um pilar importante para a estratégia comercial da Americanas, que explora a omnicanalidade (integração de todos os canais de contato disponíveis, como lojas físicas e o online).

“É óbvio que teve um ajuste nas visitas [ao site] e na relação com os sellers. Muitos ficaram apavorados, mas nada mudou. Só minha agenda: fiz uma caravana pelo Brasil visitando nossos embaixadores [sellers influentes] e sellers menores para explicar que nossos serviços de atendimento e logística não pararam. Escutamos suas dúvidas e dores para aprimorar nossos produtos e serviços”, disse.

Sobre a redução do sortimento, o diretor da Americanas disse que alguns sellers congelaram as vendas na plataforma durante um tempo até entender a dinâmica dos repasses dos valores.

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“Antes de janeiro, já estávamos programando uma mudança de mix de categorias, pois vimos que seria um ano diferente. Já queríamos vender mais itens de cauda longa [de menor recorrência], o que traz uma redução do tíquete médio, se ajustando a uma realidade menos favorável a itens de tickets mais elevados”, explicou o executivo.

Segundo Zolet, os indicadores de ofertas de produto do marketplace da Americanas voltaram, no mês passado, aos patamares anteriores a janeiro, mês da eclosão da crise que colocou a varejista no alvo de credores e autoridades do mercado. As ações do grupo acumulam baixa de 88% no ano.

Além do repasse semanal dos valores recebidos como política permanente, a nova direção da Americanas vai apresentar outros benefícios para os sellers na reunião desta terça. “Eles vão ter acesso a conteúdos, a insights sobre o varejo, sobre categorias, como participar de um programa de aceleração de negócios”, acrescentou.

Zolet disse que não tomou conhecimento de investidas da concorrência para capturar sellers da Americanas e descartou ajustes nos valores das taxas de comissão do marketplace para evitar fuga de clientes lojistas para outras plataformas, como de Mercado Livre (MELI) e Magazine Luiza (MGLU3).

“Muito sellers iniciaram sua jornada de comércio eletrônico com a Americanas. Eles acreditam na força comercial de uma marca centenária e no engajamento de nossos consumidores.”

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.