Bilionário Rubens Ometto busca ampliar a influência no conselho da Vale

Ometto é controlador da Cosan, que adquiriu fatia de 4,9% na mineradora no ano passado; ele pleiteia colocar um representante em um dos assentos em votação na semana que vem

Um representante de Ometto no conselho da Vale consolidaria seu papel na empresa depois que a Cosan desembolsou mais de US$ 3 bilhões pela participação
Por Mariana Durão - Dayanne Sousa
20 de Abril, 2023 | 12:17 PM

Bloomberg — O bilionário Rubens Ometto está prestes a colocar um executivo no conselho da Vale (VALE3), com o objetivo de fazer com que a segunda maior produtora de minério de ferro do mundo deixe para trás os desastres fatais com barragens de rejeitos e se concentre em suas operações.

O controlador da Cosan (CSAN3), que adquiriu uma fatia de 4,9% na Vale no ano passado, pleiteia um dos vários assentos que serão votados em assembleia de acionistas na próxima semana para Luis Henrique Guimarães, CEO de seu conglomerado que abarca de açúcar a ferrovias. O executivo é um dos seis nomes inéditos indicados pela Vale para compor o conselho de 2023 a 2025 e provavelmente obterá apoio suficiente.

Um representante de Ometto no conselho da Vale não vai necessariamente desencadear mudanças drásticas na gestão ou na estratégia da mineradora de imediato. Mas consolidaria seu papel na empresa depois que a Cosan desembolsou mais de US$ 3 bilhões pela participação.

Ometto foi o maior doador individual nas eleições presidenciais de 2022, contribuindo com 12 partidos políticos, e o primeiro empresário recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva após sua posse em janeiro. Ter um acionista de peso com influência política no conselho pode ajudar a Vale a fortalecer sua interlocução com as autoridades, em meio à luta para obter licenças e virar a página do desastre da barragem de Mariana.

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A Vale enfrenta dificuldades para voltar aos níveis de produção de minério de ferro anteriores à tragédia que matou até 270 pessoas em 2019 em Brumadinho. Um acordo final sobre o desastre ocorrido quatro anos antes em Mariana, na barragem da Samarco, joint venture com a BHP, requer a assinatura de Lula e é visto pela Cosan como passo fundamental para a ação da Vale fechar um desconto de preço em relação às rivais, segundo pessoas com conhecimento do assunto ouvidas pela Bloomberg News que pediram para não serem identificadas, porque o grupo não comentou publicamente os detalhes de sua estratégia em relação à Vale.

Privatizada em 1997, a Vale é uma empresa sem controlador definido desde 2020, após a dissolução de um acordo de acionistas. O governo, porém, mantém ações especiais com direito de veto. A Vale não quis comentar.

A Cosan se juntou a Mitsui, BlackRock, Capital Group e Previ como uma das principais acionistas da Vale em outubro. O conglomerado se vê atuando como uma voz ativa, pressionando por cortes de custos e melhorias de execução, em alinhamento com investidores fora do bloco de controle original, disseram as pessoas.

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Os novos eleitos se juntarão ao conselho enquanto a Vale busca colocar seus desastres de rejeitos no espelho retrovisor, posicionando-se como o principal fornecedor mundial de minério de ferro de alta qualidade, fundamental para descarbonizar a produção de aço. Ao mesmo tempo, a empresa busca agregar valor criando um veículo independente para seus ativos de metais básicos e trazendo um parceiro estratégico.

A Vale apresentou seis nomes inéditos para renovar o conselho de 13 membros, para votação marcada para 28 de abril. Eles são:

  • Douglas Upton, ex-sócio do Capital Group
  • Vera Marie Inkster, ex-CEO da Lundin Mining
  • Shunji Komai, executivo da Mitsui
  • Luis Henrique Cals de Beauclair Guimarães, da Cosan
  • João Fukunaga, CEO da Previ
  • Paulo Hartung, ex-governador do Espírito Santo, que junto com Minas Gerais, também foi afetado pelo rompimento da barragem da Samarco

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