Volta ao passado? Desvalorização do câmbio sinaliza acesso a resgate do FMI

Países emergentes com dívidas elevadas buscam se preparar para destravar acesso aos pacotes de socorro do Fundo, a exemplo das décadas de 1990 e 2000

Notas de pesos argentinos e de dólares: país vizinho lida com a desvalorização de sua moeda em nova crise (Diego Giudice/Bloomberg)
Por Karl Lester M. Yap - Colleen Goko-Petzer e Zijia Song
15 de Fevereiro, 2023 | 10:08 AM

Bloomberg — Uma nova rodada de resgates do FMI (Fundo Monetário Internacional) está em andamento, e algumas das nações mais endividadas do mundo terão que sacrificar suas moedas para obtê-los, a exemplo do que foi recorrente nas décadas de 1990 e 2000.

Neste início de ano, três países superendividados - Egito, Paquistão e Líbano - desvalorizaram o câmbio para destravar a assistência do FMI. Isso pode ser apenas o começo.

Com pelo menos duas dúzias de nações fazendo fila diante do Fundo para pacotes de resgate, operadores de câmbio se preparam para uma possível nova onda de desvalorização no mundo em desenvolvimento.

“Desvalorizações adicionais em alguns dos mercados frágeis são muito prováveis”, disse Brendan McKenna, estrategista do Wells Fargo em Nova York. “À medida que os amortecedores externos se esgotam, a capacidade de defender âncoras cambiais diminui. Os investidores com exposição a esses mercados devem pensar em se proteger contra riscos de desvalorização.”

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Moedas de países emergentes considerados os de maior risco e sua desvalorização ante o dólardfd

Economias em desaceleração deixaram alguns mercados emergentes com dívidas insustentáveis e escassez de dólares para o pagamento.

Esses países “compensaram a falta de poupança interna com empréstimos no exterior quando isso estava barato e agora foram duramente atingidos pelos ajustes de juros globais”, disse Charles Robertson, economista-chefe global da Renaissance Capital em Londres.

Agora, âncoras cambiais e taxas de câmbio administradas estão sob tensão, e distorções em países como a Argentina levaram à adoção de taxas de câmbio múltiplas.

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Embora moedas mais fracas possam ajudar a atrair capital e tornar um país mais competitivo em termos comerciais, também podem trazer inflação mais alta e pagamentos de dívidas crescentes.

Isso significa que os investidores devem tomar cuidado com as quedas em países possivelmente à beira do abismo, segundo Hasnain Malik, estrategista da Tellimer em Dubai.

Argentina sob risco

A Argentina vem tentando evitar uma desvalorização repentina, com regras sobre quem pode acessar dólares e uma dúzia de taxas de câmbio sobrepostas. A taxa oficial é de 190 pesos, mas um dólar custa 373 nas ruas de Buenos Aires.

O FMI, que se comprometeu com financiamento de US$ 44 bilhões, pediu o fim progressivo das restrições.

Questionado sobre a possibilidade de desvalorização, um porta-voz do banco central argentino apontou para o orçamento do governo para 2023, que indica que o peso terminará o ano significativamente mais fraco do que a taxa oficial, em 269 pesos por dólar, mas ainda muito longe da taxa do mercado paralelo.

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