Petrobras deveria reduzir dividendo para investir em energia limpa, diz analista

BB Investimentos mantém recomendação de compra, mas alerta que a estatal tem de seguir a tendência do setor de focar em fontes renováveis

Analista do BB Investimentos diz que gigantes do setor de petróleo e gás estão investindo na transição energética, mas que a Petrobras ainda tem uma presença menor na área
04 de Novembro, 2022 | 10:12 AM

Bloomberg Línea — As reações dos investidores ao balanço do terceiro trimestre da Petrobras (PETR4, PETR3), que apontou uma queda de 15% no lucro em três meses, são um dos destaques do pregão brasileiro nesta sexta-feira (4). Apesar do lucro menor, atribuído principalmente à redução no preço do petróleo tipo Brent e à maior base de comparação do segundo trimestre, há sinais de que o resultado deve agradar os investidores.

Em relatório divulgado nesta manhã, o BB Investimentos considerou os números positivos e manteve a recomendação de compra para PETR3 e PETR4, com preço-alvo de R$ 43 (dezembro de 2023), considerando ainda que a estatal de capital misto deveria reduzir o volume de pagamento de dividendos para investir mais em fontes renováveis de energia, uma tendência do setor.

“A receita líquida atingiu R$ 170 milhões, 6% acima do consenso de mercado. O segmento de exploração e produção (E&P) foi um dos destaques, já que mesmo com a redução de 11% nos preços do Brent, apresentou um sólido Ebitda de R$ 73 m ilhões (-7% t/t e +34% a/a)”, observou o analista Daniel Cobucci.

O segmento de gás e energia também superou as expectativas, segundo o especialista, compensando o resultado mais fraco em refino.

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“Seguimos otimistas com o papel, entendendo que as condições operacionais e financeiras sugerem uma relação risco-retorno favorável”, avaliou Cobucci.

A Petrobras segue com múltiplos descontados (EV/Ebitda em 2,0x, ante média de 2 anos de 2,7x e pares em 3,2x), produção em expansão e alavancagem baixa, fatores que devem, segundo ele, permitir uma nova fase de crescimento ao longo dos próximos anos.

“Entendemos que o atual desconto nos múltiplos possa estar ligado a certa cautela dos investidores em relação à manutenção da atual rentabilidade ao longo dos próximos anos, dadas as sinalizações de que podem ocorrer mudanças na política de preços (PPI)”, explicou Cobucci.

Ontem, a presidente nacional do PT, partido do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, Gleisi Hoffmann, questionou a política de dividendos da estatal de capital misto, descrevendo como “sangria” o pagamento de remuneração aos acionistas.

A petroleira anunciou dividendos referentes ao terceiro trimestre no valor total de R$ 43,7 bilhões, o equivalente a R$ 3,35 por ação, resultado em um yield trimestral de 10,5%, ou seja, um payout de 95% do lucro líquido, segundo o BB Investimentos

Transição energética

“Seguimos com o entendimento de que a distribuição de um patamar tão expressivo de dividendos constrasta com a menor presença relativa da companhia em setores ligados à transição energética, como eólicas offshore, hidrogênio verde e biocombustíveis”, avalia o analista do BB Investimentos.

Em seu relatório, ele considera que a condição de baixa alavancagem combinada com o potencial de retorno de tais setores, que devem ter demanda crescente ao longo das próximas décadas, abririam espaço para que o próximo plano de negócio possa contemplar um aumento de participação em segmentos que outras das principais empresas do setor de petróleo vêm entrando.

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“Só neste mês, duas transações bilionárias se destacam: a compra da Archaea Energy (produta de biogás) pela British Petroleum, e o anúncio da aquisição de fatia da Casa dos Ventos pela francesa TotalEnergies. Vemos bons motivos para a Petrobras se posicionar em setores ligados a energias com menor pegada de carbono”, cita o relatório.

Ele sustenta essa análise considerando a diversificação das receitas (que ficariam menos dependentes dos ciclos do petróle) e o entendimento de que tais projetos poderiam trazer retornos consistentes ao longo dos próximos anos, ao passo em que as tecnologias são desenvolvidas e a demanda aumenta.

“É provável que tal encaminhamento deva reduzir os montantes de dividendos a serem pagos. Contudo, tais projetos, se bem executados, podem contribuir para a perenidade da companhia a elevação dos retornos de longo prazo”, escreve o analista.

Ele vê também riscos nessa possível escolha. “Seguindo tal direcionamento, a companhia deve prezar pela manutenção de uma alocação de capital adequada, com investimentos proporcionais ao porte dos projetos e ao seu negócio principal, sem colocar em risco as atuais boas condições de endividamento, e sem deixar de investir no pré-sal, cujas condições de retorno são únicas e devem seguir como principal fonte de receitas por muitas décadas”, concluiu Cobucci.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.