Por que esta empresa investida por Luiz Barsi pediu recuperação judicial

Metalúrgica Paranapanema justifica pedido em razão da dificuldade para pagar bancos e tradings e por problemas operacionais que provocaram queda brusca de receita e aumento de despesas

Produção teve de ser paralisada de forma inesperada, prejudicando a situação financeira da companhia
01 de Dezembro, 2022 | 11:47 AM

Bloomberg Línea — Em crise de caixa operacional e sem acesso a novas linhas de crédito para financiar suas três fábricas, a metalúrgica Paranapanema (PMAM3), produtora de produtos de cobre, entrou com pedido de recuperação judicial. A empresa justifica o pedido em razão do aumento do custo de captação de recursos, que reduziu as linhas de crédito disponíveis e aumentou a dívida, que tem parte de suas operações indexada em moeda estrangeira, e por causa da interrupção da oferta de financiamento por fornecedores tradings, segundo documento apresentado na quarta-feira (30) pelo escritório Felsberg Advogados à Justiça de São Paulo, e ao qual a Bloomberg Línea teve acesso.

Os papéis da empresa despencaram 21,94% nesta quinta-feira (1°), a R$ 4,66.

A ação da companhia acumula queda de 40,95% no ano na B3, com valor de mercado de R$ 259 milhões. A base acionária da companhia é composta por investidores individuais como Luiz Barsi (5,33%) e Silvio Tini de Araújo (3,455%), além da Caixa Econômica Federal (16,171%). Também estão entre os maiores acionista a Mineração Buritirama (10,82%), EWZ Investments (6,402%), EWZ Brasil FIA (2,879%), Cargill Financial Services (8,752%), Bonsucex Holding (5,733%), controlada por Silvio Tini de Araújo, e Glencore International Investments (5,733%), segundo dados divulgados no site da companhia com base na posição do dia 10 de maio de 2022.

Desde 2017, a Paranapanema estava em processo de reestruturação de uma dívida financeira de US$ 479 milhões, acordado com os principais credores e com pagamentos previstos até o final de 2028.

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Entre os credores da companhia, estão os bancos Caixa Econômica Federal, Scotiabank Brasil, Bradesco, Banco do Brasil, Cargill Finance, CCB, Sumitomo, BNP e ING.

Com três fábricas, a metalúrgica produz cátodos, fios e vergalhões, além de coprodutos de cobre, como lama anódica e ácido sulfúrico. A unidade de Santo André, na Grande São Paulo, fabrica produtos de cobre e suas ligas, como laminados, tubos e barras. Há ainda a unidade do município baiano de Dias d’Ávila e em Serra, no Espírito Santo, onde são produzidos conexões de cobre.

Negociações

Em comunicado, a empresa disse ter apresentado o pedido de recuperação judicial junto à 1ª Região Administrativa Judiciária da cidade de São Paulo com o objetivo de reequilibrar a operação, restabelecer o fluxo de caixa e criar as condições para retomada sustentável dos negócios.

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“A Paranapanema recorreu à Recuperação Judicial depois de registrar dificuldades de crédito junto a fornecedores de matérias primas e insumos e de enfrentar um incidente na planta da Caraíba Metais, em Dias d’Ávila (BA), em 20 de junho deste ano, que resultou na paralização das operações por 38 dias, o que impactou o equilíbrio financeiro da operação”, informou a empresa.

Segundo o comunicado, o processo de recuperação será conduzido pela Íntegra Associados, consultoria do mercado especializada em reestruturação de empresas. A gestão interina da Paranapanema será comandada pelo executivo Marcelo Milliet, sócio da Íntegra, que atuou recentemente no projeto de recuperação da Renova Energia. O executivo assumiu do posto de CEO e diretor de Relação com Investidores da companhia em novembro de 2022.

“A Recuperação Judicial foi precedida de negociações com fornecedores estratégicos que irão nos garantir o fornecimento de insumos e escoamento da produção”, diz Milliet, no comunicado.

Atualmente, a empresa tem uma dívida já renegociada de R$ 2,6 bilhões junto a instituições financeiras, cujas garantias estão atreladas a direitos creditórios e ativos reais da companhia. Este montante não integra o pedido de RJ apresentado à Justiça Paulista, segundo o comunicado.

A recuperação judicial solicitada pela Paranapanema tem como objeto dívidas operacionais de R$ 450 milhões, que serão negociadas de acordo com a capacidade de pagamento da empresa, informou a nota. “A Recuperação Judicial vai nos dar fôlego para retomar o fluxo normal de operações e garantir o abastecimento de mercado”, disse Milliet.

Segundo o executivo, a Paranapanema já deu início a ajustes para sanear a empresa e que, nesta semana, “realizou um ajuste na sua estrutura organizacional de seus colaboradores para adequar o quadro funcional à demanda projetada”.

O plano de recuperação poderá incluir, segundo ele, também aumento de capital, com a negociação de eventual de conversão de dívidas em ações da empresa, melhorias operacionais e venda de ativos não estratégicos.

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“A prioridade serão as dívidas trabalhistas e operacionais, para que possamos recuperar o ritmo de produção e vendas. Com o reequilíbrio da operação poderemos, então, fazer frente às dívidas financeiras”, afirmou Milliet.

Crise de crédito

Em 2016, a companhia foi atingida pela crise de crédito do Brasil e iniciou um processo para adequar sua estrutura de capital, liquidez e perfil de endividamento, a fim de honrar seus compromissos financeiros. Em 2017, a Glencore International Investments se comprometeu a aportar R$ 66 milhões no capital da Paranapanema por meio de uma emissão de ações.

No documento do escritório de advocacia, as empresas em recuperação do grupo são identificadas como a Paranapanema, a CDPC (Centro de Distribuição de Produtos de Cobre) e a Paraibuna Agropecuária. No pedido de recuperação judicial, os advogados fazem referência ao início da crise da companhia.

“Apesar de sua grande capacidade produtiva, alguns eventos ocorridos entre 2016 e 2017 acarretaram a queda exponencial de receita da PMA e, especialmente, o estrangulamento de seu caixa”, diz o documento.

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Também há menções ao impacto negativo do aumento do risco Brasil na capacidade de captação de recursos pela empresa.

“A situação econômico-financeira fragilizada do país, a forte desaceleração do crescimento, o aumento dos gastos públicos e do endividamento fizeram com que a aversão ao risco por parte dos financiadores aumentasse consideravalmente, culminando, em setembro de 2015, com a perda do grau de investimento do Brasil junto à agência de risco S&P (Standard &Poor’s), recomendação seguida pelas demais agências de risco internacionais como Fitch e Moody’s. Tais rebaixamentos em 2015 impactaram negativamente nos custos de financiamento e reduziram significativamente as linhas de créditos para as empresas brasileiras”, acrescentam os advogados.

O documento diz que a redução das linhas de crédito entre 2015 e 2016 para a companhia foi de cerca de R$ 1 bilhão, o que, na prática, significou uma amortização compulsória das operações de crédito com alguns bancos e tradings fornecedoras do concentrado de cobre, matéria prima inicial de suas operações.

A companhia chegou a se comprometer em acordo com a venda de ativos não operacionais e direitos creditórios. “No entanto, essas premissas não se concretizaram. Os fornecedores reduziram o volume de operações com empresas e a venda de ativos não ocorreu no cronograma esperado. Isso é facilmente contextualizaado se olharmos para os cenários econômico e do mercado de venda e compra de crédito neste último ano, impactado também pelas recentes mudanças legislativas”, dizem os advogados.

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Fábrica paralisada

Em junho, a unidade baiana da empresa demandou uma manutenção de maneira imprevisível, o que ocasionou a paralisação de todas as suas atividades por mais de 38 dias, citou o documento.

“A parada, involunária, ocorreu em razão da condição fabril, especialmente por problemas no sistema do gasoduto da unidade, e impactou na geração de caixa e em todo o ciclo operacional da unidade (isto é, na receita do cobre, ferro e todos os demais subprodutos”, explicaram os advogados.

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A redução de caixa, a queda inesperada de receitas e altas despesas financeiras, entre março e setembro deste ano, levaram a empreesa ao que descreveu como “momento de crise mais agudo” de sua história. “Para que tenha tempo para renegociar o pagamento de sua dívida, não restou alternativa à PMA que não a propositura do presente pedido de recuperação judicial”, concluiu o documento.

A história da Paranapanema tem origem no ano de 1961, quando os empresários Octávio Cavalcante Lacombe, José Carlos de Araújo e Aloysio Ramalho Foz fundaram a empresa, cuja operação estava voltada para a área de construção civil pesada.

Ao longo de 61 anos, a empresa diversificou suas atividades com o ingresso na área de metalurgia, tendo hoje o principal foco na fundição e refino de cobre primário e semimanufaturados de cobre e suas ligas (latão e bronze), tornando-se uma referência no setor.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.