Bolsas ainda não refletem risco de recessão nos EUA, alertam bancos globais

Para estrategistas do Goldman Sachs e do Deutsche Bank, os papéis ainda podem sentir os efeitos de uma queda mais acentuada da economia americana

Possível queda da atividade econômica pode pesar nas ações
Por Sagarika Jaisinghani
28 de Novembro, 2022 | 01:05 PM

Bloomberg — A volatilidade pode marcar os mercados acionários no ano que vem, pois os papéis ainda não refletem o risco de uma recessão nos Estados Unidos, segundo estrategistas do Goldman Sachs e do Deutsche Bank.

A equipe do Goldman Sachs, que inclui Christian Mueller-Glissmann e Cecilia Mariotti, disse que seu modelo implica uma probabilidade de 39% de uma desaceleração do crescimento dos Estados Unidos nos próximos 12 meses, mas os ativos de risco precificam apenas uma chance de 11%. “Isso aumenta o risco de mais sustos de recessão no próximo ano”, escreveram em nota nesta segunda-feira (28).

Enquanto isso, Binky Chadha, do Deutsche Bank, espera que o índice S&P 500 caia para 3.250 pontos no terceiro trimestre - 19% abaixo dos níveis atuais - com o início da recessão, mas o indicador deve se recuperar no quarto trimestre.

As previsões são um alerta na esteira dos fortes ganhos das bolsas nos últimos dois meses, com apostas de que o banco central americano vai afrouxar a política monetária após a inflação atingir um pico. Os estrategistas do Goldman disseram que, embora a política deva se tornar mais branda no próximo ano, a desaceleração do crescimento global vai manter os índices acionários sob pressão.

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“Os prêmios de risco das ações parecem baixos, considerando o elevado risco de recessão e a incerteza no mix crescimento/inflação”, escreveram os estrategistas do Goldman, como o maior risco de queda das ações em meio a uma expansão econômica e volatilidade fracas, juntamente com “valuations” elevados. O S&P 500 é negociado a 17,5 vezes sua relação preço/lucro projetado, acima da média de 20 anos, de 15,7 vezes.

A análise do Goldman mostra que as bolsas tendem a se recuperar quando a inflação atinge o pico se uma recessão for evitada. No caso de uma retração, no entanto, os índices acionários caem outros 10%, em média, nos seis a nove meses após o pico. Embora vejam o risco de recessão nos Estados Unidos como relativamente baixo, os estrategistas observam que as preocupações com a estabilidade financeira, bem como os indicadores de estresse do mercado - como risco de liquidez e risco de solvência - subiram em todas as classes de ativos.

No geral, a equipe do banco prefere títulos a ações, pois a renda fixa poderia oferecer melhor risco/recompensa e deve ser menos correlacionada positivamente com os índices acionários no fim de 2023.

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Na semana passada, os estrategistas do Goldman estimaram que o S&P 500 terminará 2023 em 4.000 pontos - quase inalterado em relação ao fechamento da última sexta-feira. Também esperam maior volatilidade no próximo ano, seguida por uma recuperação no segundo semestre, disseram na segunda-feira. A equipe do Deutsche Bank também prevê uma retomada do índice no quarto trimestre, encerrando o ano em 4.500 pontos.

Entre outros pontos destacados pelo Goldman, os estrategistas recomendam permanecer “relativamente defensivo” no horizonte de três meses; com posição “overweight” (acima da média do mercado) em dinheiro/crédito; neutro em commodities; e “underweight” (abaixo da média) em títulos/ações.

Também recomendam foco no rendimento de curto prazo, como crédito de alta qualidade, e ser seletivo em ativos pró-cíclicos.

A equipe indica esperar oportunidades para adicionar risco em 2023; posição neutra em ativos cruzados e overweight em commodities em um período de 12 meses.

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