Bolha à vista? JPMorgan e Goldman Sachs se dividem sobre os riscos em Wall Street

Marko Kolanovic, estrategista-chefe do JPMorgan, diz enxergar acumulação de excessos no mercado, enquanto David Kostin, do Goldman Sachs, argumenta que há fundamentos na alta

Stocks waver near record
Por Alexandra Semenova
05 de Março, 2024 | 11:24 PM

Bloomberg — A alta de quase 10% nos principais índices de ações dos Estados Unidos em pouco mais de dois meses neste ano deixou estrategistas do JPMorgan Chase (JPM) e do Goldman Sachs (GS) divididos sobre se uma bolha está se formando no mercado.

Para Marko Kolanovic, estrategista-chefe do JPMorgan, a dramática alta nas ações dos Estados Unidos e a rápida ascensão do bitcoin (XBTUSD) para perto de US$ 70.000 sinalizam que a resposta é “sim.

Ele vê esses avanços como indicativos de uma acumulação de excessos no mercado - condições que normalmente precedem uma bolha quando os preços dos ativos sobem a um ritmo insustentável.

O estrategista engrossa um coro de advertências rapidamente acumuladas de Wall Street que evocam o boom das empresas “ponto.com” do final dos anos 1990 ou a onda das “meme stocks” do começo de 2021, quando os preços das ações rapidamente inflaram e depois desabaram.

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Enquanto isso, David Kostin, do Goldman Sachs, está entre aqueles que pensam que o clima de otimismo é justificado, argumentando que os valuations elevados das big techs são sustentados por fundamentos.

À medida que o S&P 500 continua atingindo novas máximas - impulsionado principalmente pelos ganhos das gigantes americanas de tecnologia -, ele atrai a ira dos críticos que acham que a tendência de alta não pode durar e a excitação dos otimistas que acham que ainda há espaço para mais ganhos.

Kolanovic é uma figura-chave no primeiro grupo. O mercado está avançando “com volatilidade baixa, e excessos, se acumulando”, escreveu ele segunda-feira (4) em uma nota aos clientes.

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“As ações subiram neste ano, mesmo com os rendimentos dos títulos subindo e as expectativas de cortes de juros desfeitas”, disse ele. “Os investidores podem estar assumindo que o aumento nos rendimentos reflete uma aceleração econômica, mas as projeções de lucros para 2024 estão diminuindo e o mercado parece muito complacente com o ciclo.”

Em contraste, Kostin, do Goldman, disse que “desta vez é diferente Diferede outros períodos da história em que os preços das ações se movimentaram abruptamente, geralmente além de seu valor. Diferentemente de casos anteriores, a amplitude das “avaliações extremas” é muito mais contida desta vez, com o número de ações negociadas a esses múltiplos em queda acentuada desde o pico em 2021.

Além disso, em contraste com a mentalidade de “crescimento a qualquer custo” de 2021, “os investidores estão principalmente pagando valuations elevados pelas maiores ações de crescimento no índice”, ele escreveu em uma nota na última sexta-feira. “Acreditamos que a avaliação das ‘Magnificent 7′ é atualmente sustentada por seus fundamentos.”

O grupo, especialmente a Nvidia (NVDA), a Meta Platforms (META) e a Microsoft (MSFT), avançaram neste ano e puxaram importantes índices de ações junto com eles. O S&P 500 registrou 15 recordes de fechamento em 2024, emendando quatro meses seguidos de ganhos.

Até agora, os resultados financeiros do quarto trimestre justificaram os movimentos. O lucro por ação para o grupo aumentou em conjunto 59% em relação ao ano anterior, em comparação com expectativas de 47%, dados compilados pela Bloomberg Intelligence mostram.

Mas, para Kolanovic, o ambiente representa um quebra-cabeça, que reflete a complacência dos investidores e uma subvalorização do risco.

“A continuação da alta nas ações pode manter a política monetária mais apertada por mais tempo, pois o corte prematuro das taxas corre o risco de inflar ainda mais os preços dos ativos ou causar outra alta na inflação”, disse ele.

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