‘Sem equilíbrio fiscal voltaremos a um mundo incerto’, alerta presidente do BC

Roberto Campos Neto destacou a importância de um déficit fiscal sob controle em meio à transição de governo

“O mercado entende que algumas medidas fiscais consideradas temporárias serão estendidas agora”, disse
Por Maria Eloisa Capurro
11 de Novembro, 2022 | 04:54 PM

Bloomberg — O presidente do Banco Central alertou nesta sexta-feira (11) para a necessidade de manter o déficit fiscal sob controle, enquanto o novo governo se prepara para divulgar seu plano de gastos.

“Entendemos que a pandemia deixou muitas cicatrizes, mas também precisamos ficar atentos ao equilíbrio fiscal”, disse Roberto Campos Neto, durante evento em São Paulo. “Se não houver equilíbrio fiscal, voltaremos a um mundo incerto, onde as expectativas de inflação aumentam, os setores produtivos ficam desordenados e a população sofrerá, porque o crescimento do emprego será prejudicado.”

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está discutindo mudanças no orçamento do próximo ano para cumprir suas promessas de maiores pagamentos de benefícios sociais. Sua equipe de transição está considerando excluir esses programas da regra do teto de gastos do país, que limita o crescimento dos gastos do governo à taxa de inflação do ano anterior.

Os detalhes do pacote e seu tamanho permanecem obscuros. Na quinta-feira (10), as ações, os títulos de renda fixa e o real despencaram depois que Lula disse que as considerações fiscais não deveriam ter precedência sobre as necessidades dos mais necessitados.

PUBLICIDADE

O selloff foi “uma demonstração clara da sensibilidade do mercado em relação às questões fiscais, e isso porque os níveis de endividamento continuam altos”, disse Campos Neto.

O real desvalorizou 9,4% esta semana, a maior perda entre as divisas de mercados emergentes.

Corte de impostos

Os recentes cortes de impostos que ajudaram a reduzir os preços da gasolina no Brasil devem expirar até o final do ano, embora a equipe de Lula provavelmente renove um recente aumento de R$ 200 em cheques mensais de auxílio social.

PUBLICIDADE

“O mercado entende que algumas medidas fiscais consideradas temporárias serão estendidas agora”, disse Campos Neto.

O principal banqueiro central do Brasil disse que teve apenas “algum” contato com a equipe de transição de Lula até o momento, mas que continua aberto a trabalhar com o novo governo.

Campos Neto foi nomeado em 2019 pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). Com a autonomia da autoridade monetária agora garantida por lei, seu mandato vai até dezembro de 2024.

-- Com a colaboração de Isadora Calumby.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também:

Quebra da FTX pode desencadear ‘efeito dominó’ para corretoras cripto

Vision Fund, do SoftBank, perde US$ 7,2 bilhões com queda de valuations