Rede de laboratórios Alliar avança na reestruturação e decide ir às compras

CEO da companhia, Pedro Thompson, inicia choque de gestão com corte de custos, política de M&A e alongamento da dívida

Reestruturação operacional, alongamento de dívida e aposta em novas avenidas de crescimento, como análises clínicas, vacinas e aquisição de laboratórios regionais
11 de Novembro, 2022 | 10:22 AM
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Bloomberg Línea — O Grupo Alliar (AALR3), dono dos laboratórios de medicina diagnóstica CDB em São Paulo, avançou em seu processo de reestruturação no 3º trimestre, captou R$ 400 milhões em uma emissão de debêntures para alongar sua dívida e decidiu sair às compras para crescer no segmento de análises clínicas, uma área ainda pouco explorada pela companhia.

Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO da Alliar, Pedro Thompson, que assumiu o cargo na virada do semestre, iniciou seu choque de gestão com medidas de cortes de custos, alongamento da dívida e uma política de M&A (fusão e aquisição). Ele revela que a companhia deve anunciar aquisições de laboratórios regionais nos próximos meses.

“Estamos com conversas em curso, que devem evoluir para um deal no curto ou médio prazo, talvez em 2023″, afirmou o executivo.

A Alliar atua em 10 estados. Além do CDB na Grande São Paulo, tem o Som Medicina Diagnóstica em Belém do Pará, o Delfin em Salvador, na Bahia, o Axial em Belo Horizonte, em Minas Gerais.

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Thompson fala com entusiasmo sobre o potencial do mercado de medicina diagnóstica no interior paulista, principalmente do Vale do Paraíba. “Nossa bandeira Plani Medicina Diagnóstica nessa importante região do Estado de São Paulo tem crescimento da ordem de 20%”, observa.

Ele diz que a Alliar pretende reforçar sua presença nas regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste e, claro, no Sudeste, maior mercado consumidor do país.

O nome do jogo é ganhar escala, consolidação”, resume o CEO da companhia, controlada pelo empresário Nelson Tanure desde abril deste ano.

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Concorrência

A briga por aumento de “marketshare” vai enfrentar pesos pesados como o Grupo Fleury (FLRY3), que se aliou ao Grupo Hermes Pardini (PARD3) anunciando um acordo para unir operações em junho deste ano, a Dasa (DASA3), maior grupo em medicina diagnóstica e de análises clínicas do país, além da Rede D’Or (RDOR3).

Temos 103 clínicas já credenciadas para realizar exames de análises clínicas. Isso significa que temos capilaridade para crescer, ampliar nosso portfólio, seja de exames de rotinas ou de maior complexidade. Queremos multiplicar nossas receitas com análises clínicas”, diz Gustavo Campana, médico que atuou por cinco anos como diretor médico da Dasa e foi contratado por Thompson para liderar a missão de apontar novas avenidas de crescimento para a Alliar.

Um dos caminhos é aumentar a atuação do grupo na área de vacinas. Segundo Campana, vacinas para o HPV e Herpes Zóster apresentam uma demanda crescente nos laboratórios, por exemplo.

Despesas

No terceiro trimestre, a Alliar apresentou um prejuízo líquido de R$ 72,8 milhões, após ter registrado um lucro de R$ 9,2 milhões no mesmo período do ano passado. A geração de caixa medida pelo Ebitda entre julho e setembro caiu 77,8% para R$ 69,3 milhões em 12 meses.

A dívida líquida totalizou R$ 683,9 milhões no fim de setembro, um alta anual de 3%. O nível de alavancagem (dívida líquida/Ebitda) atingiu 3,62x em setembro, acima dos 2,72x em junho.

O CFO da companhia, Pedro Aparício, explica que o reperfilamento da dívida da companhia, via emissão de debêntures de R$ 400 milhões por um prazo de cinco anos, representou uma redução de custos, citando também uma carência de 18 meses que possibilidade um certo alívio no fluxo de caixa, além da redução dos spreads.

Fizemos a captação em setembro e outubro. Inicialmente, o plano era emitir apenas R$ 200 milhões, mas houve demanda de R$ 600 milhões e acabou fechando em R$ 400 milhões”, disse o executivo.

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Nessa transação, a Alliar contou com o trabalho da BR Advisory Partners, banco de assessoria financeira.

Redução de pessoal

Além de melhorar a estrutura de capital da Alliar, o CEO aponta outro pilar da transformação em curso na companhia diante de um contexto de estagnação das receitas, pressão da inflação e dos custos, elevado índice de sinistralidade das operadoras de planos de saúde, que dificulta as negociações de reprecificação dos serviços de medicina diagnóstica.

Estamos fazendo uma reestruturação operacional. No terceiro trimestre, houve desligamento de pessoal, o que representou uma redução de 5% do quadro de funcionários. Podemos continuar esses cortes no quarto trimestre, pois nossa receita não evoluiu”, afirmou Thompson.

O CEO da Alliar disse que não haverá fechamento de unidades de atendimento e que a redução da força de trabalho não afeta a qualidade dos serviços prestados pelos laboratórios espalhados pelo país.

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Planos de saúde

Ele atribuiu o resultado negativo do terceiro trimestre à estabilidade das receitas no período de 12 meses, ao impacto da alta dos juros na correção da dívida, ao aumento das despesas com dissídio coletivo, custos de rescisão de contratos trabalhistas, além de uma baixa de recebíveis de R$ 9 milhões.

Thompson diz que a vida não tem sido fácil para as fontes pagadoras (planos de saúde) devido à pressão dos custos após os anos mais graves da pandemia da covid-19 e que a Alliar está desenhando algumas parceiras com algumas operadoras do setor, buscando aumentar a escala de sua atuação em medicina diagnóstica.

“Trabalhamos com todos os planos de saúde. E temos poder de conversa com as fontes pagadoras”, afirmou o CEO.

A companhia ainda tem 85% de sua receita oriunda dos exames de diagnóstico por imagem, mas com as futuras aquisições deve reduzir esse percentual para ampliar a participação de análises clínicas no bolo do faturamento.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.