Petróleo de volta a US$ 100? Entenda os efeitos dos cortes de produção da Opep+

Preços se aproximam de três dígitos novamente, uma vez que o pico sazonal da demanda ameaça coincidir com mais sanções

Valorização dos preços, que coincide com as eleições de meio de mandato nos Estados Unidos, ameaça inflamar ainda mais as relações entre Joe Biden e a Arábia Saudita
Por Grant Smith
08 de Novembro, 2022 | 12:45 PM

Bloomberg — A trajetória do petróleo rumo aos US$ 100 o barril expõe alguns dos riscos dos polêmicos cortes da produção da Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados).

Por cerca de um mês, a decisão do grupo pareceu cumprir seu objetivo de estabilizar os mercados de petróleo, em um cenário de deterioração da demanda por combustíveis.

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Agora, entre a reunião de 5 de outubro da Opep+ e o próximo encontro do grupo em dezembro, os preços se aproximam de três dígitos novamente, uma vez que o pico sazonal da demanda ameaça coincidir com mais sanções contra os suprimentos russos.

“Acho que a Opep+ está muito contente com a estabilização do [petróleo tipo] Brent nos US$ 90”, disse Helge Andre Martinsen, analista sênior do DNB Bank, em Oslo, à Bloomberg News. Mas “há um risco real de aperto excessivo nos próximos três a cinco meses”.

A valorização dos preços, que coincide com as eleições de meio de mandato nos Estados Unidos, ameaça inflamar ainda mais as relações entre Joe Biden e a Arábia Saudita, o líder de fato do cartel.

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O presidente americano fez duras críticas ao reino devido às restrições de oferta, tendo acusado o antigo aliado americano de ser cúmplice da Rússia, membro da Opep+, em sua guerra contra a Ucrânia.

Fraqueza econômica

Nas semanas que se seguiram à decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados de reduzir a produção em 2 milhões de barris por dia, o impacto político foi intenso. Mas as tendências iniciais dos preços e da demanda por petróleo de certa forma justificaram a estratégia, liderada pelo ministro da Energia da Arábia Saudita, o príncipe Abdulaziz bin Salman.

A demanda por petróleo provou ser “significativamente menor” do que as expectativas, de acordo com a Vitol Group, maior trading independente da commodity do mundo. O Citigroup vê o uso de combustível em queda com o enfraquecimento da economia.

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Os diferenciais de preços nos principais mercados asiáticos se deterioraram à medida que a China reconfirmou sua dura política antiCovid. E o Fundo Monetário Internacional alertou que “o pior ainda está por vir” para a economia global.

Em vez da possível escassez prevista há alguns meses, os mercados globais agora registram superávit neste trimestre, de acordo com o secretário-geral da Opep, Haitham al Ghais.

Os cortes na oferta da Opep+, que começaram neste mês, ancoraram o petróleo perto de US$ 95 o barril, nível alto o suficiente para impulsionar as receitas dos 23 membros da coalizão, mas não o aumento excessivo que muitos políticos haviam previsto. Os diferenciais de preço entre os contratos futuros mensais do Brent, que são vistos como indicador de oferta e demanda, permaneceram estáveis.

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Flerte com US$ 100

Nos últimos dias, no entanto, os preços do petróleo ganharam força. Sinais preliminares de reabertura na China elevaram as cotações na sexta-feira, e o avanço continuou na segunda.

Os estoques de petróleo estão significativamente abaixo dos níveis médios, e os mercados globais devem encolher ainda mais nos próximos meses com as planejadas sanções da União Europeia às exportações de petróleo da Rússia. A proibição pode reduzir a produção do país em quase 20% até o início do próximo ano, segundo a Agência Internacional de Energia.

“O Brent está flertando com US$ 100 novamente”, disse Christof Ruhl, analista sênior do Centro de Política Energética Global da Universidade Columbia. “É exatamente onde ninguém nos países consumidores – bancos centrais que combatem a inflação, ministérios das Finanças que buscam evitar uma recessão e pessoas que se posicionam do lado da Ucrânia contra a Rússia – queria vê-lo”.

A AIE alertou que restringir a produção de petróleo neste momento pode levar os custos do combustível a níveis que, em última análise, desencadearão uma recessão global.

A aliança Opep+ tem reunião marcada para 4 de dezembro, um dia antes do embargo da UE ao petróleo russo entrar em vigor. A tensão entre as duas forças compensatórias de demanda franca e redução da oferta pode dominar o processo.

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