Eurasia reduz para 65% as chances de Lula ganhar no 2° turno

Silvio Cascione, diretor da consultoria de risco político no Brasil, aponta força do bolsonarismo, mas diz que cenário-base ainda é de vitória para o petista

Bolsonaro e Lula disputam segundo turno com chances maiores de vitória para o ex-presidente, segundo a Eurasia
03 de Outubro, 2022 | 05:12 PM

Bloomberg Línea — A consultoria de risco político Eurasia reduziu de 70% para 65% as chances de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vencer a eleição presidencial de 2022 depois do resultado do primeiro turno neste domingo (2).

Contrariando as pesquisas de opinião, o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) se aproximou com mais força da primeira colocação, com uma diferença de pouco mais de cinco pontos percentuais para Lula - além de angariar uma representação sólida do Partido Liberal e de aliados nos demais cargos em disputa.

O número de parlamentares da legenda na Câmara chegou a estimados 99 deputados, a maior bancada da casa, e aliados do presidente vão ocupar o governo de pelo menos 8 dos 27 estados. O número pode aumentar a depender dos resultados do segundo turno.

Em entrevista à Bloomberg Línea, Silvio Cascione, diretor da Eurasia para o Brasil, disse que, ainda assim, apesar de o cenário estar menos favorável do que antes ao petista, a estratégia do atual presidente Jair Bolsonaro (PL) precisará passar por um teste de fogo para tirar eleitores da base de Lula. Segundo ele, o cenário-base segue como uma vitória do ex-presidente no dia 30 de outubro.

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“Para Bolsonaro ganhar, ele precisa tirar votos de pessoas que foram até as urnas neste domingo e apertaram o 13. São os eleitores que não são ideológicos e que estão buscando garantias para os próximos quatro anos.”

O analista diz que, para isso, Bolsonaro possivelmente apostará em uma mensagem mais contundente sobre corte de preços e impostos para “ancorar as expectativas” de que o cenário econômico está melhorando.

“Não se espera que ele modere o tom porque isso não fala com a base que o colocou até aqui. Pode ser um pouco mais moderado para chegar a essas pessoas que estão com medo dele, mas vai continuar sendo o Bolsonaro”, disse.

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No mercado financeiro, a sessão da bolsa desta segunda-feira foi marcada pela recepção positiva de investidores à previsão de maior dificuldade de eleição e governabilidade de Lula, candidato considerado mais receptivo a aumentar os gastos públicos.

Aa ações das estatais Petrobras (PETR3; PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3) subiam perto de 8%. O Ibovespa (IBOV) fechou em alta de 5,54% nesta segunda, a maior em dois anos e meio.

Neste domingo, Lula liderou as votações, como previsto, fechando a primeira fase do pleito com 48,43% dos votos válidos. A surpresa veio com os 43,20% de Bolsonaro, em uma posição mais vantajosa do que o projetado pelas pesquisas até então - ele chegaria a 40% dentro da margem de erro.

Para Cascione, o eixo central da campanha bolsonarista até o segundo turno deve ser justamente a questão econômica, mas sem entrar no mérito sobre como as contas públicas serão administradas a partir de 2023. Ele aposta em uma mensagem mais direta ao eleitor, que busca sinais de que as melhorias econômicas serão sentidas mais diretamente nos próximos meses. “A memória dos anos Lula é forte e coloca o ex-presidente na frente em fazer essas promessas”, afirmou.

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Ana Siedschlag

Editora na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero e especializada em finanças e investimentos. Passou pelas redações da Forbes Brasil, Bloomberg Brasil e Investing.com.

Filipe Serrano

É editor da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.