Colombiana que vive em São Paulo recebe aporte de US$ 6,7 milhões em pré-Seed

Empreendedora Paola Neira, ex-Rappi, é fundadora da Latú, uma startup de seguros para empresas que obteve uma das maiores pré-Seeds da América Latina

Customers use mobile devices while sitting at tables in a Luckin Coffee outlet in Beijing, China, on Tuesday, Jan. 15, 2019. Luckin, the Chinese startup that's banking on selling cappuccinos to on-the-go office workers, is spending millions of dollars a year opening outlets to unseat Starbucks Corp. as the top java seller in the country. Photographer: Gilles Sabrie/Bloomberg
25 de Agosto, 2022 | 05:00 AM

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Bloomberg Línea — A colombiana Paola Neira, 29, está iniciando sua caminhada como empreendedora e recebeu uma pré-Seed com gosto de Série A. A Monashees e a CRV (Charles River Ventures) estão entregando um dos maiores cheques para uma startup em fase pré-Seed da América Latina: US$ 6,7 milhões (R$ 35 milhões), superando a Kamino, que tinha captado US$ 6,1 milhões em sua pré-Seed neste ano.

O dinheiro, que também teve contribuição de ONEVC, Latitud e SVAngels, vai ajudar na construção da Latú, uma startup cujo negócio é um software para seguros de empresas. Neira também atraiu investimento de fundadores de peso de startups da região.

Entre os investidores anjos (pessoas físicas ou jurídicas que fazem investimentos com seu próprio capital em empresas iniciantes com alto potencial de crescimento) estão os fundadores da Rappi, Simon Borrero, Sebastian Mejia e Felipe Villamarin; da Addi, Santiago Suarez e Daniel Vallejo; da Tul, Enrique Villamarin; das insurtechs Pier, Igor Mascarenhas; da Lula Technologies, Matthew & Miguel Vega-Sanz; além de Alan Jaime, da Draftea, Sachin Patel, ex-investidor da Y Combinator, e o fundo de alumni do Airbnb.

Divulgação/Latúdfd

Abreviação para Latin American Tech Underwriters, a Latú oferece cobertura de até US$ 10 milhões para empresas em situações como ações judiciais, ataques cibernéticos, tempo de inatividade, danos à propriedade, erros de profissão, lacunas de compliance, além de cobertura para responsabilidade, propriedade, cibernética, Erros e Omissões (E&O) e Diretores e Executivos (D&O).

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“Seguros empresariais na América Latina são uma oportunidade gigantesca. Estamos desenvolvendo tecnologia e algoritmos para entender o risco das empresas”, disse Neira em entrevista à Bloomberg Línea.

Em seus primeiros passos, a empresa está fazendo parcerias com seguradoras brasileiras.

Neira começou sua vida profissional trabalhando com investimentos. Em Dubai, nos Emirados Árabes, ela investia em tecnologia para o Oriente Médio e o norte da África com o The Abraaj Group em 2016.

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“Foi o primeiro contato com o mundo de startups e tecnologia. Vi que queria fazer algo assim, mas na minha região, a América Latina”, disse. Depois, em Nova York, teve uma passagem pela WeWork em 2019. Em março do mesmo ano, virou líder de produto na colombiana Rappi, já uma das maiores startups da América Latina com sua atuação em delivery.

Pela Rappi, morou um tempo na Colômbia, no Brasil, depois foi para o México e retornou para o Brasil para ajudar a Rappi a resolver problemas locais. No mês passado ela fundou a Latú.

“Eu administro um fundo que faz empréstimos para pequenas e médias empresas. Comecei com amigos do colégio”, contou. O fundo, que tem mais de uma década, garante o capital de giro dessas empresas. Mas, na pandemia, Neira conta que, com a incerteza do mercado, ficou “quase impossível” para uma empresa pequena conseguir uma apólice de alguma seguradora.

Daí veio a ideia de construir uma plataforma para seguros dessas empresas. “O mercado precisa da nossa solução”, disse. A Latú pretende substituir apólices por parcerias de mitigação de riscos para resolver as necessidades de empresas. “Não é algo apenas para fazer a apólice, queremos fazer a avaliação de risco de maneira constante e com isso ajudar as empresas a evitar problemas”, explicou.

A Latú recebe o aporte recorde em um momento em que o investimento para startups da América Latina ficou mais restrito, com queda de 19% no primeiro semestre em relação ao ano passado, segundo a LAVCA (Associação para Investimento em Capital Privado na América Latina).

Mesmo assim, gestores de empresas de VC seguem captando com Limited Partners, como family offices ou fundos de pensão americanos.

Os ativos sob gestão de fundos de capital de risco na América Latina atingiram US$ 9,25 bilhões em setembro de 2021, segundo dados da Preqin, fornecedora de informações sobre o setor de ativos alternativos, relatados pelo The Wall Street Journal. Os ativos em VC na região cresceram mais do que o alocado em Private Equity (que geralmente investe em empresas mais consolidadas).

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Mas se os ativos sob gestão em VC para a região cresceram 48% de 2020 para 2021, por outro lado neste ano os VCs estão mais cautelosos e demandando aos fundadores que tenham disciplina com os gastos. “Eles querem saber quando será o “payback” desse real gasto”, disse Neira, em referência ao retorno do investimento.

Para Fabiola Quinzaños, principal na Monashees, o investimento tem a ver com a oportunidade de um mercado com baixa penetração na América Latina, o de seguros empresariais.

“Menos de 20% das empresas da América Latina têm pelo menos uma apólice, comparado a 70% nos mercados desenvolvidos”, disse em comunicado à imprensa.

James Green, sócio geral da CRV, disse que empresas que garantem seguro são mais livres para fazer negócios com grandes corporações, receber investimento ou iniciar uma nova vertical de negócio. “Acreditamos que as empresas são criadas fortalecendo dados demográficos específicos e estamos entusiasmados com a ideia de que Paola pode fazer isso dando acesso a seguros para os negócios da América Latina.”

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O time de Neira conta agora com oito pessoas, das quais quatro do mundo dos seguros e a outra metade de engenharia e tecnologia. A ideia dela é manter um time enxuto. Com o aporte, pretende contratar engenheiros e profissionais de cybersegurança.

A empresa começará operações com empresas de São Paulo e depois pretende expandir nacionalmente. Um próximo passo, segundo Neira, é ingressar nos mercados mexicano e colombiano.

“Podemos oferecer apólices para empresas que têm operação no Brasil, mesmo que não estejam totalmente baseadas aqui, mas na Colômbia, por exemplo”, explicou.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups