Segredo de bilionário: Benchimol e Sicupira revelam sobre a hora de sair

‘Se uma startup dá muito certo, há aquele negócio de querer andar sobre as águas’, exemplificou o fundador da AB Inbev

Por

São Paulo — Guilherme Benchimol, fundador da XP (XP), e Carlos Alberto Sicupira, dono da AB Inbev (BUD), deixaram os cargos de chefes executivos em suas empresas. Durante o evento para investidores Expert, da XP, realizado em São Paulo na quarta-feira (3), eles compartilharam sobre como saber a hora de “passar o bastão” depois de escalar uma empresa.

Para Benchimol, as mudanças na Amazon (AMZN), em julho do ano passado, serviram de inspiração.

“Tive algumas conversas com o Jorge [Paulo Lemann] sobre sair da cadeira de CEO. Fui CEO por 20 anos, e, na vida do CEO, você tem que cumprir alguns rituais, comitês, coisas importantes mas que não necessariamente mexem o ponteiro”, contou Benchimol.

Desde que a XP abriu capital na Nasdaq em dezembro de 2019, Benchimol relata que tinha que conversar com investidores e clientes maiores, em uma agenda comercial “que sugava” e não o permitia olhar com detalhes para as equipes. “A área mais importante de uma empresa é a gestão de pessoas”, disse.

Foi quando Jeff Bezos anunciou que estava deixando o cargo de CEO para Andy Jassy, ex-CEO da Amazon Web Services. “Tínhamos um grupo de WhatsApp dos diretores, com 11 pessoas. Falei que seria legal colocarmos nosso CTO [Thiago Mafra] como CEO. Fomos construindo essa agenda”, afirmou Benchimol.

“A empresa que fica grande demais não tem ownership [controle]. Você não sabe quem faz o que e no final tudo se perde. Você tem que ter os líderes certos, a cúpula da empresa tem que estar alinhada com o longo prazo e todo mundo que trabalha precisa sentir que está colocando um grão de areia dia após dia. Isso conecta”, disse Benchimol.

De acordo com o Bloomberg Billionaires Index, Sicupira tem patrimônio de US$ 8,01 bilhões. Enquanto Benchimol detém cerca de US$ 1,7 bilhão, segundo a Forbes.

Sicupira deixou o cargo executivo da Americanas (AMER3) e o conselho da empresa. Segundo o criador da Ambev (ABEV3), à medida que uma empresa cresce, ela precisa fazer a transição para uma posição mais consolidada. “Se uma startup dá muito certo, há aquele negócio de querer andar sobre as águas e ir improvisando até bater na parede”, exemplifica.

“A transição é muito perigosa, você pode ir para o lado da organização e administrar um grande negócio, mas ter atitude de startup mantendo humildade para com o que você não sabe”, disse.

O empresário revela que nunca lidera empresas por mais de 10 anos. “Sempre quis me livrar daquela posição de executivo, colocar alguém melhor e fazer coisa nova. Eu consigo sair do conselho com a maior felicidade. Tudo que fiz para trás não vale nada ficar admirando. Para mim, o que vale é o que vou fazer, e, para isso, a fila tem que andar e se adaptar com a necessidade que o negócio tem”, contou Sicupira.

Leia também:

Com 26 anos, co-CEO de uma startup de US$ 12 bi conta como passou por 2 burnouts