Volpon: BC quer parar de subir a Selic, mas exterior não permite

Segundo ex-diretor do Banco Central, aumento seguinte, depois de 13,75% ao ano, deve ser de 0,25 ponto percentual caso cenário permaneça inalterado

"É melhor ser dono do processo do que ficar correndo atrás”
03 de Agosto, 2022 | 01:20 PM

Bloomberg Línea — O Banco Central do Brasil gostaria de parar o atual ciclo de altas da taxa de juros, mas ainda não encontrou uma janela em meio ao cenário externo de juros e inflação em alta, disse o economista Tony Volpon, estrategista-chefe da WHG (Wealth High Governance) e ex-diretor da autoridade monetária, em entrevista à Bloomberg Línea nesta quarta-feira (3).

Para ele, a autoridade deve aumentar a taxa de juros em 0,50 ponto percentual, como esperado pelo mercado na decisão na noite de hoje (3), sem uma indicação de que deve encerrar o ciclo. Ainda assim, segundo Volpon, a próxima alta deve ser de, no máximo, 0,25 ponto percentual, caso as condições para o cenário exterior continuem melhorando na margem.

“O cenário melhorou um pouco, comparado com o que era antes. Os problemas de logística não estão tão severos, a perspectiva é de juros estáveis. Com essas condições, os mercados emergentes têm uma previsão melhor para o ano que vem do que foi o início deste”, disse.

A expectativa de que a Selic será elevada em 0,50 ponto percentual hoje é praticamente unânime entre os economistas consultados pela Bloomberg News. A curva de juros também precifica alta de meio ponto agora e indica ainda prêmio de cerca de 30 pontos para aperto nas duas reuniões seguintes. Uma semana atrás, este prêmio superava os 55 pontos, com elevações até dezembro.

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Apesar do alívio atual da inflação, analistas têm elevado as projeções para o IPCA em 2023 diante do aumento dos gastos sociais, bem como da esperada reversão, ao menos parcial, da desoneração tributária.

No último relatório Focus divulgado na segunda-feira (1°), o mercado elevou as projeções para a taxa básica de juros em 2023, de 10,75% para 11% ao ano. Para a inflação, as expectativas recuaram de 7,30% para alta de 7,15% este ano, enquanto subiram de 5,30% para 5,33%, em 2023.

Segundo Volpon, mesmo que a perspectiva para a inflação do BC esteja desancorada do Focus, há uma visão mais otimista para 2023 e 2024 que faz com que a autoridade esteja disposta a “peitar” os sinais do mercado, e não reagir prontamente a essas previsões.

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“Acho esse caminho o mais correto. É melhor ser dono do processo do que ficar correndo atrás”, apontou.

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Ana Siedschlag

Editora na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero e especializada em finanças e investimentos. Passou pelas redações da Forbes Brasil, Bloomberg Brasil e Investing.com.