Petrobras: a corrida contra o tempo para vender 3 refinarias antes das eleições

Incertezas sobre planos do governo depois das eleições podem inviabilizar operação de venda das Refinarias Abreu e Lima, Repar e Refap, dizem analistas

Petrobras ainda tenta vender refinarias antes das eleições presidenciais
15 de Julho, 2022 | 01:05 PM

São Paulo — A Petrobras (PETR4, PETR3) estendeu o prazo para o processo de venda de três de suas principais refinarias (Abreu e Lima, em Pernambuco, Repar, no Paraná, e Repar, no Rio Grande do Sul), segundo comunicado enviado nesta sexta-feira (15) ao mercado.

As ações da petrolífera operam com alta acima de 1% nesta sexta.

A venda de refinarias é um dos passos mais importantes do plano de desinvestimentos da estatal de capital misto, na medida em que isso significa reduzir a sua presença em um dos segmentos mais fechados da economia brasileira. O plano foi anunciado originalmente ainda no mandato de Pedro Parente à frente da companhia, em 2017, no governo de Michel Temer.

Segundo o comunicado, eventuais interessados devem expressar o seu interesse em duas semanas, até o próximo dia 29. E terão menos de um mês, até 12 de agosto, para assinar o termo de confidencialidade e compliance.

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No mercado, há ceticismo da parte de especialistas de que a Petrobras conseguirá fechar um negócio para qualquer uma das três refinarias diante de prazo considerado tão apertado. Há também o temor de uma eventual ameaça de reversão do negócio em caso de mudança de governo.

A petrolífera planeja vender a Rnest (Refinaria Abreu e Lima), em Pernambuco, a Repar (Refinaria Presidente Getúlio Vargas), no Paraná, e a Refap (Refinaria Alberto Pasqualini), no Rio Grande do Sul, bem como os ativos logísticos integrados a essas refinarias.

“Quem vai comprar uma refinaria da Petrobras com o Lula em primeiro lugar nas pesquisas, falando que vai reestatizar o que foi já foi vendido? A reabertura da privatização das refinarias é apenas uma cortina de fumaça. A insegurança jurídica é grande”, disse Adriano Pires, sócio-diretor da CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), à Bloomberg Línea. Pires, que chegou a ser convidado para assumir a presidência da Petrobras em março, mas recusou, disse não acreditar que haverá interessados em comprar as refinarias neste ano. Em sua avaliação, a menos de três meses do primeiro turno, o anúncio de venda dos ativos deve ser encarada como uma tentativa de mostrar à opinião pública que o presidente Jair Bolsonaro (PL) busca aumentar a competição no setor para baixar os preços dos combustíveis.

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O tema se tornou sensível porque o aumento do custo de vida, com forte pressão dos preços dos combustíveis, tem sido uma das principais preocupações dos brasileiros.

“O Bolsonaro tem criticado a Petrobras e declarado que deveria privatizar suas refinarias para promover a concorrência no refino. Esse fato relevante me parece ter relação com esse discurso eleitoral”, disse.

Grupo Ultra

No ano passado, a estatal de capital misto conseguiu vender a Rlam (Refinaria Landulpho Alves), situada em São Francisco do Conde, na Bahia, para a Mubadala Capital, gigante global de investimentos dos Emirados Árabes Unidos.

A Mubadala rebatizou o ativo como Refinaria de Mataripe, assumida pela Acelen, empresa criada para cuidar da operação. Foi a primeira entre as oito refinarias que a Petrobras se comprometeu a vender.

A petroleira também assinou o contrato de venda da Reman (Refinaria Isaac Sabbá), em Manaus (Amazonas), para o Grupo Atem, e vendeu a SIX (Unidade de Industrialização do Xisto), no Paraná, para a empresa Forbes & Manhatta Resources (F&M Resources).

Em maio, a companhia também assinou com a Grepar Participações contrato para a venda da refinaria Lubnor (Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste), no Ceará.

“Até o momento, o Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica, órgão antitruste] só aprovou a venda da refinaria da Bahia. A LUBNOR de Fortaleza e a unidade do Paraná possuem uma capacidade desprezível de refino”, disse Pires.

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A venda das refinarias integra o rol de obrigações assumidas pela estatal no TCC (Termo de Compromisso de Cessação), firmado com o Cade para estimular a concorrência no mercado de refino de petróleo.

Desde o ano passado, o mercado já considera o calendário eleitoral um obstáculo à operação. Um relatório do Bradesco BBI indicava o interesse do grupo Ultra para a compra da refinaria do Rio Grande do Sul, considerada a “joia da coroa” do plano de desinvestimento da petrolífera, por US$ 1,2 bilhão.

“A Ultrapar tem a oportunidade de potencialmente criar muito valor com a aquisição da Refap - embora, com um cenário político tão incerto, uma boa ideia possa sair pela culatra”, citaram os analistas do Bradesco.

Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do Grupo Ultra (UGPA3) disse que a companhia não vai comentar o assunto.

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A Refap fica no município gaúcho de Canoas, processa 32 mil³/dia e atende principalmente o mercado regional, com foco na maximização da produção de óleo diesel, segundo o site da Petrobras.

Para o diretor do CBIE, as dificuldades da Petrobras de vender as refinarias se devem ao fato de o Cade, o órgão federal de defesa da concorrência, não pressionar a estatal para cumprir um cronograma do processo de desinvestimento.

“O Cade deixou o cronograma nas mãos da monopolista [a Petrobras]. Há setores da estatal que nunca quiseram privatizar as refinarias, com a tese de perda de empregos e de serem estratégicas”, disse Pires.

Queda da gasolina e do diesel

O consultor disse que Bolsonaro ainda tem chance de ver a Petrobras anunciar uma redução nos preços dos combustíveis, após a aprovação da redução do ICMS (imposto estadual) e a queda do barril do petróleo para abaixo do patamar de US$ 100, reflexo das apostas crescentes em uma recessão nos Estados Unidos e da consequente desaceleração da demanda.

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“Se o barril cair para US$ 95, US$ 94, e o câmbio não continuar subindo, acaba a defasagem dos preços domésticos [de combustíveis] com os internacionais, abrindo espaço para o anúncio de um corte nos preços dos combustíveis nas refinarias, antes das eleições.”

“Bolsonaro está com sorte com essa queda do barril do petróleo no mercado internacional, mas o dólar pode atrapalhar se continuar em alta, evitando o fim da defasagem”, disse o consultor.

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Ontem, o barril do WTI caiu para US$ 95,78, enquanto o dólar comercial fechou a R$ 5,42 (+0,60%).

(Atualiza às 16h45 com resposta do Grupo Ultra)

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.