Petrobras anuncia novo aumento do preço da gasolina e do diesel

Reajuste será de 5,2% na gasolina e de 14,2% no diesel e visa paridade com mercado global, diz a companhia; Bolsonaro fala em ‘caos’ com novo aumento

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São Paulo — A Petrobras (PETR3, PETR4) acaba de anunciar reajuste para os preços da gasolina e do óleo diesel em 5,2% e 14,2%, respectivamente, a partir deste sábado (18). O comunicado, feito nesta manhã de sexta-feira (17), ocorre após a diretoria da estatal ter comunicado a decisão, na véspera, ao conselho de administração e indica uma tentativa de manutenção de sua política de paridade de preços para os combustíveis, atrelada às variações do barril de petróleo no mercado internacional.

Após o anúncio do reajuste, a ação preferencial da Petrobras (PETR4) registrava queda de 4,88% a R$ 27,66, por volta das 11h20, a ordinária (PETR3) recuava 5,30%, a R$ 30,56, enquanto o Ibovespa, referência do mercado de ações do Brasil, recuava 3,53%, aos 99.180 pontos.

Ontem (16), os recibos (ADRs) da estatal negociados em Nova York fecharam cotados a US$ 12,08, em queda de 5,32% em relação ao dia anterior (US$ 12,76). O mercado brasileiro não funcionou devido ao feriado de Corpus Christi. Nesta sexta, os papéis caem 2,32%, a US$ 11,80 na NYSE.

“A confirmação de um reajuste de combustíveis pela Petrobras deve impactar nos negócios, com pressão de alta nos juros, por causa da inflação”, indicou nota do Bradesco BBI na abertura do pregão.

A última vez que o diesel havia sido reajustado foi em 10 de maio, enquanto a gasolina teve um aumento em 11 de março. No anúncio de hoje, a petroleira não alterou o preço do GLP.

O preço médio de venda de gasolina da Petrobras para as distribuidoras sairá de R$ 3,86 para R$ 4,06 por litro, enquanto o preço médio do diesel saltará de R$ 4,91 para R$ 5,61 por litro.

O novo aumento foi decidido ainda sob a gestão do CEO José Mauro Ferreira Coelho, que será substituído por Caio Paes de Andrade, em anúncio feito pelo governo no fim de maio. O presidente da República, Jair Bolsonaro, já trocou três vezes o comando da estatal de petróleo e gás desde o começo de 2021, por causa do descontentamento com a forma como os preços de combustíveis têm sido reajustados. O tema ganhou ainda mais relevância diante da escalada da inflação ao consumidor neste ano eleitoral.

Mais cedo nesta sexta-feira, Bolsonaro comentou no Twitter sobre a possibilidade de novo aumento dos preços dos combustíveis por parte da Petrobras.

Em comunicado, a Petrobras explicou a decisão. “Primeiramente, é importante reforçar que a Petrobras é sensível ao momento que o Brasil e o mundo estão enfrentando e compreende os reflexos que os preços dos combustíveis têm na vida dos cidadãos.”

“Nesse sentido, a companhia tem buscado o equilíbrio dos seus preços com o mercado global, mas sem o repasse imediato para os preços internos da volatilidade das cotações internacionais e da taxa de câmbio. Esse posicionamento permitiu à Petrobras manter preços de GLP estáveis por até 152 dias; de diesel por até 84 dias; e de gasolina por até 99 dias. Esta prática não é comum a outros fornecedores que atuam no mercado brasileiro que ajustam seus preços com maior frequência, tampouco as maiores empresas internacionais que ajustam seus preços até diariamente”, diz a nota da estatal.

O comunicado detalha como será o reajuste. “Dessa forma, após 99 dias, a partir de 18/06 [sábado], o preço médio de venda de gasolina da Petrobras para as distribuidoras passará de R$ 3,86 para R$ 4,06 por litro. O último ajuste ocorreu em 11/03.”

“Considerando a mistura obrigatória de 73% de gasolina A e 27% de etanol anidro para a composição da gasolina comercializada nos postos, a parcela da Petrobras no preço ao consumidor passará de R$ 2,81, em média, para R$ 2,96 a cada litro vendido na bomba. Uma variação de R$ 0,15 por litro. Para o diesel, após 39 dias, a partir de 18/06, o preço médio de venda da Petrobras para as distribuidoras passará de R$ 4,91 para R$ 5,61 por litro. O último ajuste ocorreu em 10/05″, informou a empresa.

A estatal também comentou o cenário global do setor. “O mercado global de energia está atualmente em situação desafiadora. Com a aceleração da recuperação econômica mundial a partir do segundo semestre de 2021 e, notadamente, com o início do conflito no Leste Europeu em fevereiro de 2022, tem-se observado menor oferta e maior demanda por energia, com aumento dos preços e maior volatilidade nas cotações internacionais de commodities energéticas, em especial, do óleo diesel”, disse.

Governo condena aumento

O anúncio da estatal gerou reações políticas em Brasília. Além do tuíte de Bolsonaro condenando o reajuste, uma nota divulgada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), elevou o tom, citando que “a Petrobras declarou guerra contra o povo brasileiro” e ameaçando abrir uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) e aumentar a tributação dos lucros da empresa, além de promover a reavaliação da política de preços da Petrobras.

“O governo parece estar assumindo uma postura mais ativa ao pressionar a empresa contra novas elevações. Quaisquer mudanças nas políticas de preços devem ser oficialmente sugeridas pelo governo à empresa e obedecer aos estatutos de reembolso futuro. Caso contrário, seria necessário alterar os estatutos e a lei das Estatais de 2016 para modificar a política de preços da empresa”, comentaram os analistas Vicente Falanda (Bradesco BBI) e José Cataldo (Ágora Investimentos), em nota enviada aos clientes.

Eles observaram ainda que a análise da política de preços da Petrobras está ganhando foco mais uma vez devido às discussões sobre os impostos sobre combustíveis. Considerando que há um desconto de 18% (diferença de R$ 1,06/l) na paridade internacional para os preços do diesel, e 15% (diferença de R$ 0,70/l) para os preços da gasolina, a Petrobras poderia, por si só, ofuscar o impacto de impostos mais baixos sobre os preços na bomba, destacaram os analistas.

(Atualiza às 12h50 com comentários de analistas e falas de Arthur Lira)

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