Para fugir da inflação, consumidor compra mais marcas próprias dos supermercados

Mais em conta, produtos “private label” chegam a representar até 30% das vendas de algumas redes de supermercados do Brasil

Em média 15% mais baratas do que as líderes de categorias, as marcas próprias têm vivenciado um aumento na procura
12 de Maio, 2022 | 03:30 PM

Bloomberg Línea — Em tempos de inflação em alta, o consumidor tem buscado se ajustar à nova realidade de queda no poder de compra. Em março, os supermercados já haviam identificado uma mudança no comportamento de compra das pessoas, que passaram a ir às lojas e fazer suas compras em datas próximas ao recebimento dos salários, geralmente no início do mês. Agora, outro fenômeno surge: a busca por marcas próprias ou exclusivas das redes varejistas.

Em média 15% mais baratas do que as líderes de categorias, as marcas próprias têm vivenciado um aumento na procura. Segundo Marcio Milam, vice-presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), as marcas das próprias varejistas já representam de 20% a 30% das vendas totais de algumas redes de supermercados do Brasil. “Os consumidores têm feito compras mais racionais, buscando embalagens maiores, as chamadas embalagens família, que oferecem preços mais vantajosos”, diz Milani.

Esse comportamento foi apontado como um dos motivos para que o Índice Nacional de Consumo dos Lares Brasileiros da Abras mantivesse uma tendência de alta tanto no mês de março quanto no acumulado do primeiro trimestre. Segundo a entidade, o índice subiu 2,41% em março, em comparação a março do ano passado. Nos primeiros três meses do ano, a alta acumulada foi de 2,59% ante o mesmo período de 2021.

Cesta básica ampliada

O preço da cesta Abrasmercado composta por 35 produtos de largo consumo, também chamada de cesta básica ampliada, registrou o quarto mês consecutivo de alta. O valor médio nacional medido em março foi de R$ 736,34, um reajuste de 2,4% em comparação a fevereiro. Contudo, em comparação ao mesmo período do ano passado, o atual valor da cesta está 15,4% maior do que os R$ 637,82 de março de 2021.

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O aumento se deve à pressão inflacionária puxada pelo repasse dos custos de produção na cadeia de alimentos. Especialmente pelo aumento do preço do óleo diesel, que impacta o frete na logística dos produtos. Os alimentos mais impactados pelo aumento foram o tomate (27,22%), a cebola (10,55%), o leite longa vida (9,34%), o óleo de soja (8,99%) e o ovo (7,08%). As maiores quedas foram registradas nos preços do pernil (-0,51%), do açúcar refinado (-0,13%) e da carne (-0,07%).

Reajuste no diesel

De forma mais ou menos intensa, os recentes reajustes nos valores do óleo diesel vão gerar impactos sobre os preços dos produtos vendidos nos supermercados. Segundo Milan, os primeiros a sentir os efeitos negativos são aqueles com reposição mais frequente, como frutas, verduras e hortaliças.

“Os produtos com maior giro são os primeiros a serem atingidos em uma situação como essa, porque o diesel tem uma influência muito grande na cadeia de abastecimento. Contudo, o impacto não é igual para todos. Considerando que o valor do frete é o mesmo para todos, produtos com maior valor agregado têm um comportamento diferente dos produtos com menor valor agregado”, diz Milan.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.