Lula arrisca perder apoio após fala sobre aborto e classe média

Em país predominantemente cristão, a interrupção precoce da gravidez é uma questão polêmica

Em um debate em 5 de abril, o ex-presidente disse que “todos deveriam ter direito a” um aborto “e não se envergonhar” porque é uma questão de saúde pública.
Por Andrew Rosati
26 de Abril, 2022 | 08:23 AM

Bloomberg — O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, favorito nas intenções de voto, corre o risco de perder apoio antes da eleição presidencial de outubro ao irritar os mais conservadores, um eleitorado crescente no país, de acordo com a Quaest.

Felipe Nunes, chefe da empresa de pesquisa com sede em Belo Horizonte, disse que Lula pode perder votos de setores religiosos e de profissionais liberais após expressar publicamente seu apoio ao aborto e criticar o estilo de vida da classe média.

Lula, de 76 anos, ainda lidera as pesquisas, já que a maioria dos brasileiros acredita que ele é mais capaz de resgatar uma economia que sofre com inflação acima de 11% e altas taxas de desemprego.

Mas em um país predominantemente cristão, onde o número de evangélicos cresce rapidamente, a interrupção precoce da gravidez é uma questão polêmica.

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“O Brasil é um país conservador; essas questões são muito importantes”, disse Nunes em entrevista. Ao manifestar apoio ao aborto, Lula “pode dar votos evangélicos e católicos a Bolsonaro”.

Em um debate em 5 de abril, o ex-presidente disse que “todos deveriam ter direito a” um aborto “e não se envergonhar” porque é uma questão de saúde pública. Muitas mulheres pobres, acrescentou, morrem tentando fazer o procedimento. Ele também deu uma alfinetada na classe média brasileira por “ostentar” seu padrão de vida.

Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil, fala durante um evento com líderes sindicais em São Paulo, Brasil, na quinta-feira, 14 de abril de 2022.Fotógrafo: Victor Moriyama/Bloomberg

Dias depois, tentou voltar atrás e disse que era pessoalmente contra o aborto, que, no Brasil, é um crime punível com pena de prisão na maioria de suas formas.

Cerca de metade do país se identifica como católico, embora alguns estimativas agora colocam os pentecostais como a maioria. Em sua ascensão ao poder em 2018, o titular Jair Bolsonaro, 67, fez campanha sobre os valores tradicionais da família e prometeu colocar evangélicos em cargos de alto escalão do governo, incluindo o Supremo Tribunal Federal, e obteve apoio crucial desse eleitorado.

Preocupações econômicas

Muitos árduos defensores de Bolsonaro se decepcionaram com a má gestão da pandemia de coronavírus e da crise econômica que se seguiu.

Mesmo que as preocupações com a pandemia estejam se dissipando, “a economia é a questão principal, e Lula é reconhecido como aquele que lidaria melhor” nesta área, disse Nunes. “As pessoas lembram que suas vidas eram melhores durante seu governo.”

Lula deixou o cargo em 2010 como um dos presidentes mais populares na história do país, após um boom de commodities que produziu um rápido crescimento econômico e tirou milhões da pobreza.

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Ele lidera as pesquisas de intensão de voto desde que o Supremo derrubou condenações por corrupção que bloqueavam sua candidatura ao julgar que eram tendenciosas.

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