Mais mulheres como CEO? Grupo busca mudança a longo prazo

Nos conselhos de administração de mais de 408 empresas negociadas, 45% não têm qualquer participação feminina, segundo a B3

Grupo busca alcançar pelo menos 30% de participação de mulheres nos conselhos de administração das empresas do IBrX100 da B3 até 2025
08 de Março, 2022 | 08:13 AM

Bloomberg Línea — Apesar de serem maioria na população brasileira, a representatividade feminina nos quadros de alto escalão das companhias negociadas na B3 ainda é baixo. Conforme um estudo da própria companhia que opera a Bolsa de São Paulo, das 408 empresas analisadas em levantamento divulgado em outubro, 61% não têm uma única mulher entre seus diretores estatutários. Nos conselhos de administração, 45% não têm qualquer participação feminina.

Na busca por mudar esse cenário e conectar as conselheiras às companhias, o 30% Club é um grupo de campanha de presidentes de empresas e CEOs que atuam para aumentar a diversidade de gênero em conselhos e equipes de gerenciamento sênior.

O grupo foi criado no Reino Unido em 2010 pela londrina Helena Morrissey com o objetivo de atingir um mínimo de 30% de representação feminina nos conselhos de administração das empresas FTSE 100. A campanha está presente atualmente em mais de 15 países e chegou ao Brasil em 2019.

Veja mais: ‘Mulheres têm quebrado mitos do mercado financeiro’, diz Sara Delfim

PUBLICIDADE

Por aqui, as metas do Grupo são:

  • Zerar a quantidade de empresas do IBrX100 da B3 - indicador do desempenho médio das cotações dos 100 ativos de maior negociabilidade e representatividade do mercado de ações brasileiro - que possuem conselhos de administração formados exclusivamente por homens até 2022
  • Alcançar pelo menos 30% de participação de mulheres nos conselhos de administração das empresas do IBrX100 até 2025

Os membros do grupo no país incluem Eduardo Alcalay CEO do Bank Of America Merrill Lynch no Brasil, Rodrigo Galindo, CEO da Cogna, Alessandro Carlucci, presidente do conselho da Arezzo, Alexandre Silva, presidente do conselho da Embraer, e outros.

Anna Guimarães, presidente e fundadora do 30% Brazil, conselheira do MAM-SP e da Tim (TIMS3), explicou em entrevista à Bloomberg Línea como é a atuação do projeto.

PUBLICIDADE

Segundo ela, o número de 30% é o mínimo considerado por diversos estudos para que qualquer minoria consiga ter um poder de influência - e, por isso, foi adotado pela campanha.

“Não enfrentamos dificuldades ao conversar com os presidentes dos conselhos. A grande questão é aproximar oferta e demanda. Às vezes as companhias não conhecem as conselheiras, e as conselheiras não sabem como acessar as companhias. Nós fazemos essa ponte”, explicou.

“Ter mulheres nos conselhos das companhia é salutar, não é só uma questão de representatividade. Enriquece o diálogo. Traz benefícios financeiros, melhorias no bottom line.”

Veja mais: Executivas mulheres oferecem respostas mais diretas que homens

Dia Internacional da Mulher

Março é considerado o Mês da Mulher pela celebração do Dia Internacional da Mulher, neste dia 8. Neste mês, o 30% Club Brazil entrará em uma campanha especial para aumentar o alcance da representatividade nos conselhos do IBrX100.

Conforme Guimarães, 80 companhias do índice - que é formado por nomes de grande peso na Bolsa brasileira como Ambev (ABEV3), Petrobras (PETR4; PETR3), Vale (VALE3), Itaú (ITUB4) - já têm presença de mulheres nos conselhos de administração, e 11 delas já batem a meta dos 30% ou mais. Ou seja, o objetivo do projeto em março é alcançar as 20 companhias faltantes.

A presidente da campanha explica que o esforço será redobrado neste mês não só pela data especial, mas porque é quando as companhias enviam à CVM suas propostas de administração, para realizarem as Assembleias Gerais Ordinárias em abril.

PUBLICIDADE

Neste dia 8, a B3 realiza o “Ring the Bell for Gender Equality”, evento realizado simultaneamente em cerca de 100 bolsas do mundo, a partir das 9h00, horário de Brasília. A iniciativa tem o intuito de elevar a conscientização sobre o empoderamento econômico das mulheres e as oportunidades no setor privado de incentivar a equidade de gênero.

Veja mais: Diversidade como ativo: contratar pessoas trans pode elevar lucro da empresa

Objetivos da campanha

Anna Guimarães explicou à Bloomberg Línea que a meta de 30% é um objetivo mínimo: representa um piso, não um teto.

Além do objetivo de alcançar pelo menos 30% de participação de mulheres nos conselhos de administração das empresas do IBrX100 até 2025, o grupo também tem a meta de longo prazo de alcançar os C-levels das companhias e de estatais.

PUBLICIDADE

De acordo com a B3, “pesquisas comprovam a correlação da diversidade de gênero com a maior lucratividade das companhias e, em especial, a importância do papel das lideranças numa jornada de transformação cultural”.

No universo das 408 empresas com ações negociadas no mercado brasileiro e que foram alvo da pesquisa da B3, há 2.596 cargos de conselheiros de administração, enquanto os de diretores estatutários somam 2.126. “Isso amplia o leque de embaixadores da diversidade dentro das organizações para que a mudança ocorra, de fato, em todos os níveis”, disse a administradora da Bolsa.

Leia também

Kariny Leal

Jornalista carioca, formada pela UFRJ, especializada em cobertura econômica e em tempo real, com passagens pela Bloomberg News e Forbes Brasil. Kariny cobre o mercado financeiro e a economia brasileira para a Bloomberg Línea.