Monark, marca de bicicleta, nega vínculo com youtuber de caso nazista

Companhia publicou nota de repúdio em seu site esclarecendo a coincidência de nomes e condenado o preconceito

Monark começou a importar e montar bicicletas no bairro da Bela Vista, região central de São Paulo, em 1948, antes de mudar em 1951 para o bairro da Chácara Santo Antônio, na zona sul
10 de Fevereiro, 2022 | 06:25 PM

São Paulo — A Monark, tradicional marca de bicicleta, negou vínculo com o youtuber Bruno Monteiro Aiub, ex-apresentador do podcast Flow Podcast, acusado de antissemitismo pela comunidade judaica, com ampla repercussão em outros setores da sociedade, entre os principais assuntos comentados nas redes sociais no Brasil, com divulgação de notas de repúdio no meio religioso, político, econômico, cultural, social, principalmente entre profissionais do direito e do marketing digital.

“Não temos nenhum tipo de vínculo com o youtuber apelidado de Monark sem nenhuma autorização da nossa companhia. Repudiamos veementemente qualquer manifestação de racismo ou conduta que possa prejudicar qualquer pessoa ou grupo social”, informou a empresa em seu site nesta quinta (10).

Veja mais: Monark é dono da empresa que diz tê-lo demitido

Fundada em abril de 1948 com a denominação de Monark Indústria e Comércio Ltda, a empresa paulistana não forneceu mais informações.

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“Se o cara quiser ser um antijudeu, eu acho que ele tinha direito de ser”, disse Aiub, durante entrevista com os deputados federais Tabata Amaral (PSB-SP) e Kim Kataguiri (Podemos-SP), no episódio 545 do podcast, que foi ao ar na segunda-feira (7). Ele também defendeu a existência de um partido nazista.

Monark nega vínculo com youtuber homônimo e condena discriminaçãodfd

Após a exibição do episódio, a Estúdios Flow anunciou o afastamento de Aiub, que é sócio da empresa, pediu desculpas e tirou a entrevista do ar. A repercussão negativa do caso se traduziu em anúncios de retirada de patrocínio.

A Amazon, a Flash Benefícios, a Insider Store e a Fatal Model deixaram de anunciar no programa. Entidades judaicas, como o Instituto Brasil-Israel, repudiaram as declarações. O youtuber gravou um vídeo negando ser nazista. O Ministério Público de São Paulo informou que, se condenado por apologia do nazismo, ele pode ser preso e obrigado a pagar indenização. O caso está sob investigação.

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Bruno Aiub, de 31 anos, começou a ficar popular postando vídeos no YouTube com tutorial do jogo Minecraft; recentemente, ele ganhou notoriedade capturando a atenção do público jovem, gamer, para entrevistas com políticos durante conversas informais e descontraídasdfd

“Acredito que a fala pode ser tipificada como apologia ao nazismo e incentivo ao preconceito. O artigo 20 da lei 7.716 de 1989 é muito claro: ‘praticar, induzir ou incitar a discriminação ao preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional’. A incitação ao preconceito está claramente presente quando ele diz que existe um direito de ser antijudeu - ou seja, que existe um direito de discriminar, de ter preconceito em relação aos judeus está configurado como crime de incitação ao preconceito”, diz o advogado e especialista em direito constitucional pela USP Antonio Carlos Freitas Júnior.

O advogado e especialista em direito penal pela USP Matheus Falivene concorda em parte. “A legislação penal brasileira pune, por meio do artigo 20 da Lei de Racismo, a conduta daqueles que induzem ou instigam a prática de racismo. Porém, para que esse crime se configure, é necessário que o indivíduo tenha a vontade inequívoca de defender ideias racistas ou segregacionistas: o indivíduo tem que ter esse dolo específico, aquilo que, no direito, é a vontade direta de defender uma ideia racista. No caso do Monark, entendo que não havia esse dolo direto, então não incidiu no crime de induzimento ou instigação ao racismo. É certo, no entanto, que a conduta do youtuber pode ser punida por outras vias: pode eventualmente ensejar indenização pública, indenização social por conta da conduta”.

Outro caso controverso no Brasil nesta semana envolveu o comentarista Adrilles Jorge, da emissora de rádio Jovem Pan. Na última terça-feira (8), ele reproduziu um gesto com a mão direita imediatamente associado por espectadores à saudação nazista “Sieg Heil”, ao encerrar um debate sobre a fala de Aiub. Ele foi demitido pela emissora e negou que tenha tido a intenção de reproduzir o aceno.

Ao se defender em vídeo, o youtuber reclamou da cultura do cancelamento, defendeu seu conceito de liberdade de expressão e chegou a culpar o excesso de bebida pela atuação na entrevista dfd

Confira a íntegra da nota da Insider Store:

“A INSIDER é uma marca que nasceu com princípios pautados na sustentabilidade, diversidade e pluralidade. Discordamos veementemente das declarações de cunho antissemita e racista do apresentador Monark no último Flow Podcast, dia (7) de Fevereiro.

Mensagens de ódio não devem ser disseminadas sob nenhum pretexto.

Grupos sociais, étnicos, culturais e religiosos não podem ter a sua liberdade e integridade ameaçados em nenhum aspecto e situação dentro de uma sociedade pautada na democracia e nos direitos humanos.

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A INSIDER, que até ontem fazia parte do grupo de patrocinadores do Flow Podcast vem a público declarar seu total desligamento do referido programa. Esperamos que o apresentador faça uma retratação formal e que seja destituído de suas funções por violar direitos fundamentais. Que medidas cabíveis sejam tomadas e que sirvam de exemplo para que posicionamentos como este nunca mais aconteçam.”

Confira a íntegra da nota da Flash Benefícios:

“Diante do absurdo, é preciso se posicionar. No último dia 07 de fevereiro, durante a exibição do episódio 545 do Flow Podcast, um dos apresentadores fez comentários inadmissíveis e dos quais discordamos de forma veemente. Diante disso, solicitamos o encerramento formal e imediato de nossa relação contratual com os Estúdios Flow.

A Flash Benefícios acredita em uma sociedade igualitária, sem qualquer tipo de discriminação. Não há sociedade livre quando há intolerância ou busca de legitimação de discursos odiosos, nazistas e racistas, tecidos a partir de uma suposta liberdade de expressão. Reforçamos que todo e qualquer tipo de opinião jamais pode ferir, ignorar ou questionar a existência de alguém ou de um grupo da sociedade.

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Acreditamos que liberdade de expressão, diálogo, pluralidade, e até mesmo a individualidade, só existem em uma sociedade onde há respeito mútuo. Qualquer atitude que fere e subjuga a existência de qualquer ser humano é crime e deve ser encarada como tal.”

Confira o tuíte da Estúdios Flow :

Confira o tuíte de Monark

Ifood e Bolsonaro

Em novembro de 2021, o Flow Podcast, programa transmitido ao vivo pelo Youtube, se envolveu em uma controvérsia política ligada ao iFood, que retirou o patrocínio após um incidente em sua plataforma que provocou prejuízos a comerciantes parceiros. A retirada do apoio aconteceu depois de Monark postar no Twitter a pergunta “ter uma opinião racista é crime?”.

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No feriado de 2 de novembro (Dia de Finados), um funcionário de uma empresa terceirizada pelo iFood trocou os nomes de cadastro de alguns estabelecimentos por frases pró-Bolsonaro. Resultado? Pedidos cancelados e prejuízo para os comerciantes. O “ataque” foi realizado como uma resposta após o Ifood retirar o patrocínio do Flow Podcast.

Em setembro do ano passado, o iFood havia virado alvo de grupos bolsonaristas após deixar de pagar por anúncios no canal do escritor Olavo de Carvalho (falecido em janeiro), então defensor de Bolsonaro. A empresa foi alertada pela organização Sleeping Giants Brasil, que denuncia discursos de ódio e desinformação na internet.

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Esse caso é considerado um exemplo de como uma estratégia de marketing digital pode converter em resultados negativos para as marcas. De acordo com o banco de dados da RankMyApp, empresa especialista em mobile marketing, no dia anterior ao feriado (1 de novembro), o número de reviews negativos do aplicativo nas lojas (Play Store e App Store) era de 222, já no dia da falha no sistema, o número de comentários do tipo subiu para 698. A empresa também analisou os termos mais utilizados nas declarações do público, e as palavras “flow, liberdade e expressão” aparecem, repetidamente.

(Atualiza às 19h30 com declarações de especialistas em direito, tuítes e íntegras de notas)

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.