Morte de Olavo ocorre em momento que seu grupo perde força na política

O rearranjo de forças em torno de Bolsonaro para a eleição afastou figuras de proa do olavismo

Olavo de Carvalho no auge da influência, sentado entre Bolsonaro e Ernesto Araújo, em jantar na embaixada brasileira em Washington em 2019
25 de Janeiro, 2022 | 07:15 PM

Bloomberg Línea — Ala mais radical do bolsonarismo na política, os seguidores do escritor Olavo de Carvalho, que morreu nesta segunda (24), têm perdido influência no governo de Jair Bolsonaro e espaço nas articulações políticas para as eleições de 2022.

Do agrupamento político que chegou ao poder em 2018 com o atual presidente, os olavistas – às vezes chamados de “ala ideológica” – vêm perdendo espaço, mesmo antes do acordo do presidente para obter apoio do Centrão no Congresso, em troca de emendas e espaços na máquina federal.

A ala olavista, que já comandou a Educação (com Ricardo Vélez e, depois, com Abraham Weintraub) e as Relações Exteriores (Ernesto Araújo), não tem mais ministros na Esplanada. Os três fizeram o curso de filosofia de Olavo de Carvalho, assim como o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, e o assessor internacional da Presidência, Filipe Martins.

Veja mais: Bolsonaro lamenta morte de Olavo de Carvalho, guia ideológico do governo

PUBLICIDADE

Enquanto os olavistas foram saindo do governo, outros integrantes do consórcio que venceu nas urnas em 2018 expandiram sua influência: os militares passaram a ocupar milhares de cargos na máquina federal e os evangélicos continuam com força no governo, incluindo aí a indicação do ministro André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal.

A perda de espaço da ala ligada ao escritor precedeu a ascensão do Centrão no governo, quando o grupo passou a comandar a Casa Civil e ter forte prevalência no Orçamento Geral da União, através das chamadas emendas de relator.

Weintraub deixou o Ministério da Educação, depois que veio a público o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril de 2020. O ministro defendeu botar o que chamou de “vagabundos na cadeia”, referindo-se aos ministros do Supremo Tribunal Federal. Mais tarde, passou a ser investigado no inquérito das “fake news”, que apura ameaças e ataques ao STF. Weintraub foi acomodado pelo governo em um cargo no Banco Mundial em Washington, mas voltou para o Brasil há poucas semanas.

PUBLICIDADE

Ernesto Araújo foi substituído depois de fortes pressões de setores produtivos, especialmente o agronegócio, que viam no chanceler uma fonte constante de atrito com a China, principal destino das exportações brasileiras. O alinhamento com a presidência de Donald Trump, uma das vigas-mestras da política externa de Araújo, também balançou após a volta dos democratas à Casa Branca.

Veja mais: Brasília em Off: A estratégia de aliados para amansar Bolsonaro

O reagrupamento de forças do bolsonarismo para a eleição de 2022 afastou algumas figuras de proa do olavismo. O caso mais ruidoso é o de Abraham Weintraub, que tem almejado uma candidatura ao governo de São Paulo. O presidente, contudo, tem trabalhado para que o ministro Tarcísio Freitas (Infraestrutura), um técnico elogiado pelo empresariado, ocupe o posto de seu representante no maior colégio eleitoral do país.

Nesta terça, ao saber da notícia da morte de Olavo, o presidente Jair Bolsonaro escreveu no Twitter: “Nos deixa hoje um dos maiores pensadores da história do nosso país, o filósofo e professor Olavo Luiz Pimentel de Carvalho. Olavo foi um gigante na luta pela liberdade e um farol para milhões de brasileiros. Seu exemplo e seus ensinamentos nos marcarão para sempre”.

O QUE É O OLAVISMO: Não há consenso entre estudiosos sobre o que é o olavismo em termos políticos. Trata-se de um movimento difuso que se agrupou em torno dos discursos de Olavo de Carvalho, tido como o inspirador de uma nova direita radical no Brasil.

Diferente do anticomunismo tradicional no Brasil no século 20, que estava dentro de um contexto da Guerra Fria, ou da crítica econômica liberal às ideias marxistas, a pregação de Olavo de Carvalho tinha uma abordagem de guerra cultural contra a esquerda e de tudo que ele enxergasse como tal.

Depois de uma carreira como articulista de jornais, Olavo virou um fenômeno na internet. Primeiro, com uma comunidade no Orkut, e depois com o seu curso de filosofia no YouTube, que atraiu milhares de estudantes.

PUBLICIDADE

Seu ponto de partida foi a denúncia do que ele enxergava como pensamento único de esquerda nas universidades. Mas acabou sendo o catalisador de uma parte do movimento antipetista no final do governo Lula e durante a presidência de Dilma. Nas manifestações anti-PT de 2015 e 2016, eram comuns cartazes com o slogan “Olavo tem razão”.

De certa maneira, o olavismo cresceu aqui assim como a Alt-right ganhou força nos Estados Unidos. Em 2019, quando Jair Bolsonaro visitou Donald Trump nos Estados Unidos, Olavo de Carvalho foi homenageado em jantar na embaixada brasileira em Washington. Um dos convidados da ocasião foi Steve Bannon, ex-assessor de Trump e tido como um dos ideólogos da direita radical americana.

Com vocabulário frequentemente escatológico, o escritor passou seus últimos anos vociferando contra o que chamava de “comunobanditismo” – uma comunidade tão diversificada que reunia George Soros, a Pepsi, a comunidade LGBTQ+, “globalistas”, feministas, ambientalistas e políticos de centro ou de esquerda.

Leia também:

Graciliano Rocha

Editor da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela UFMS. Foi correspondente internacional (2012-2015), cobriu Operação Lava Jato e foi um dos vencedores do Prêmio Petrobras de Jornalismo em 2018. É autor do livro "Irmã Dulce, a Santa dos Pobres" (Planeta), que figurou nas principais listas de best-sellers em 2019.