Monark é dono da empresa que diz tê-lo demitido

Segundo Junta Comercial de SP, apresentador controla o Flow por meio de holding. Fala antissemita provocou fuga de anunciantes e anúncio de “desligamento”

O apresentador Monark
08 de Fevereiro, 2022 | 08:07 PM

Bloomberg Línea — O apresentador Bruno Monteiro Aiub, o Monark, é sócio e administrador da empresa que controla os Estúdios Flow, que hoje anunciou seu “desligamento” na sequência de uma onda de críticas à sua fala em que defendeu a existência de um partido nazista e ao “direito” de alguém ser “antijudeu”.

A empresa Flow Produção de Conteúdo Audiovisual Ltda., responsável pelo podcast Flow, tem como proprietária a holding IB Holding de Participações Ltda., segundo a Junta Comercial de São Paulo.

Com capital social de R$ 1,4 milhão, a IB Holding tem como sócios Monark, com cotas integralizadas em R$ 696,5 mil (49,75% da empresa) e o Igor Rodrigues Coelho, o Igor 3K, também apresentador do Flow, com outros R$ 696,5 mil (49,75%). Em julho de 2021, foi admitido um sócio-minoritário, Gianluca Santana Eugênio, com cotas totalizando R$ 7.000.

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Até julho do ano passado, o capital social da empresa era de R$ 300 mil. Em termos contábeis e jurídicos, a expansão do capital social costuma refletir o crescimento de uma empresa.

A Bloomberg Línea procurou a Flow Produção de Conteúdo Audiovisual para esclarecer se o anúncio do desligamento referia-se apenas à apresentação do podcast ou se Monark estava deixando também o quadro societário por e-mail. Mas a empresa não se manifestou até a publicação desta reportagem.

Em uma transmissão ao vivo na noite desta terça, iniciada às 20h30 (esta reportagem foi publicada originalmente às 20h07), Igor 3K disse que vai comprar a parte de Monark na sociedade, mas não disse quando isso aconteceria porque ainda depende da análise de contadores e advogados. A decisão, segundo ele, foi fruto de acordo entre os dois sócios.

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CONTEXTO: Durante o episódio 545 do podcast Flow, Monark defendeu a existência de um partido nazista durante conversa com os deputados federais Tabata Amaral (PSB-SP) e Kim Kataguiri (Podemos-SP).

Na discussão que foi ficando acalorada, Tabata Amaral contestou: “A existência de um partido nazista fere a existência da comunidade judaica”.

Monark insistiu: “Se o cara quiser ser um antijudeu, eu acho que ele tinha direito de ser”.

O caso suscitou uma enxurrada de críticas nas redes sociais. Entidades que representam a comunidade judaica no país repudiaram o teor antissemita dos comentários do apresentador.

Nesta terça (8), ao menos três empresas anunciaram nesta terça que deixariam de anunciar no Flow. Após a perda de patrocinadores ter se tornado pública, Flow, a empresa dona do podcast, anunciou em nota o desligamento de Monark.

Monark gravou depois um vídeo em que se desculpou pelo tom “insensível” dos comentários. Ele disse que estava “muito bêbado” durante a gravação em que entrevistou os deputados.

(Este post foi atualizado às 21h28 de terça, 8/2, com a informação de que Igor Coelho ter afirmado que pretende comprar a parte de Monark)

Graciliano Rocha

Editor da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela UFMS. Foi correspondente internacional (2012-2015), cobriu Operação Lava Jato e foi um dos vencedores do Prêmio Petrobras de Jornalismo em 2018. É autor do livro "Irmã Dulce, a Santa dos Pobres" (Planeta), que figurou nas principais listas de best-sellers em 2019.