Lula diz que não manterá ‘preço dolarizado’ na Petrobras

Ao mirar na petroleira, ex-presidente busca repassar a Bolsonaro o desgaste com as sucessivas altas do preço dos combustíveis

“Nós não vamos manter o preço dolarizado”, disse Lula, em entrevista à rede de rádios RDR, do norte do Paraná, nesta quinta-feira (3)
03 de Fevereiro, 2022 | 11:03 AM

Bloomberg Línea — Líder nas pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a culpar o presidente Jair Bolsonaro pelos preços dos combustíveis ao consumidor e prometeu que vai alterar a política de paridade da Petrobras (PETR4) com os preços do mercado internacional.

“Nós não vamos manter o preço dolarizado”, disse Lula, em entrevista à rede de rádios RDR, do norte do Paraná, nesta quinta-feira (3).

“Quase 40% da inflação, que está dificultando a comida chegar na casa do povo brasileiro, são pelos preços controlados pelo governo. É o governo que controla energia, é o governo que controla petróleo, é o governo que controla gás e óleo diesel”, afirmou o petista.

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Como já havia feito na última sexta (28), Lula voltou a se referir aos minoritários da Petrobras como “os acionistas de Nova York e do Brasil”, em uma crítica à atual política de dividendos da empresa, que é controlada pela União.

“Eu acho que os acionistas de Nova York e do Brasil têm direito de receber dividendo quando a Petrobras der lucro, mas é importante que a gente saiba que a Petrobras tem de cuidar do povo brasileiro”, afirmou.

POR QUE ISSO É IMPORTANTE: Pesquisas têm mostrado que a economia e a inflação estão hoje no topo das preocupações dos brasileiros.

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Ao mirar na política de preços da Petrobras para atacar o governo, Lula busca repassar ao presidente Bolsonaro, seu principal antagonista até aqui, o desgaste com as sucessivas altas do preço dos combustíveis.

A situação dos combustíveis é considerada tão importante do ponto de vista eleitoral, que o governo está trabalhando em uma proposta a ser enviada ao Congresso para uma redução temporária dos tributos que incidem sobre o óleo diesel. Ministros da chamada ala política do governo são críticos da atual política de preços da estatal.

Ainda há indefinição sobre como se daria isso, se através de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) ou projeto de lei. Também está em aberto se a iniciativa poderia alcançar, de alguma forma, o ICMS, tributo cuja competência cabe aos Estados.

CONTEXTO: Na semana passada, as ações da Petrobras passaram a cair após o ex-presidente ter criticado a política de dividendos e voltado a insistir na tese que a Petrobras deve construir refinarias para que o país deixe de exportar óleo cru e importar derivados de petróleo. Segundo ele, mais de 400 empresas hoje importam gasolina e outros derivados.

O mercado, contudo, tem reagido positivamente às sinalizações do petista rumo a uma posição mais centrista, como a escolha de Geraldo Alckmin (sem partido) para compor a chapa como candidato a vice e a declaração de que a autonomia do Banco Central – historicamente combatida pelo PT – não é um “obstáculo” em um eventual novo mandato.

Nesta quarta, o petista voltou a defender uma aliança eleitoral ampla e depois construir maioria no Congresso. “O difícil não é ganhar uma eleição, mas consertar este país do jeito que ele está. As instituições estão destroçadas”, disse.

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Graciliano Rocha

Editor da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela UFMS. Foi correspondente internacional (2012-2015), cobriu Operação Lava Jato e foi um dos vencedores do Prêmio Petrobras de Jornalismo em 2018. É autor do livro "Irmã Dulce, a Santa dos Pobres" (Planeta), que figurou nas principais listas de best-sellers em 2019.