Hong Kong: ‘Salvem os hamsters’ é novo clamor que desafia ordem

Após abate de 2 mil animais, ativistas se organizaram para protestar contra medida de contenção de contaminação por coronavírus

Animais foram retirados da loja Little Boss e de seu armazém
Por Sarah Zheng
21 de Janeiro, 2022 | 10:59 AM

Bloomberg — A proteção de hamsters está se tornando a mais recente forma de protesto em Hong Kong após o governo anunciar um plano de abate de milhares de roedores e outros pequenos mamíferos para acabar com os casos de covid-19.

O governo de Hong Kong orientou o público no início desta semana a entregar hamsters comprados a partir de 22 de dezembro para um “abate humanitário” após alguns funcionários e clientes da loja de animais Little Boss testarem positivo para o vírus e hamsters importados da Holanda também apresentarem testes positivos. Nesta quarta-feira (19), o governo afirmou que 1.213 animais foram retirados da loja e de seu armazém, incluindo hamsters, coelhos e porquinhos-da-índia.

Em resposta, os donos de animais de estimação formaram redes de resgate, e pessoas se reuniram nas redes sociais, como grupos de Facebook e Telegram. Alguns estão se oferecendo para adotar animais de pessoas que temem que o governo os localize e os obrigue a entregar seus animais de estimação.

Outros publicaram fotos de seus animais de estimação peludos, trocaram dicas para cuidar de hamsters e se ofereceram para doar ração e gaiolas. E em meio ao espaço cada vez menor para a liberdade de expressão e a dissidência em uma cidade onde cresce o ressentimento com relação à rigorosa política covid-zero, alguns desses espaços até assumiram posições políticas. Por exemplo, o banner de um grupo do Facebook com 14 mil membros mostra hamsters vestidos com roupas de protesto que lembram os protestos da cidade em 2019, e a entrada no grupo requer que os participantes respondam a uma pergunta relacionada a uma data-chave desses protestos.

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Na sexta-feira (21), o Departamento de Agricultura, Pesca e Conservação (AFCD, na sigla em inglês) condenou os esforços para interferir na entrega de hamsters. Até 20 de janeiro, 68 hamsters foram entregues, segundo comunicado. Alguns voluntários foram vistos convencendo donos de hamsters que os estavam entregando ao AFCD a mudar de ideia, de acordo com relatos da mídia local. O governo afirmou que “deplorava” essas ações e relatou os incidentes à polícia.

Grupos de direitos dos animais criticaram as ações do governo, ao passo que especialistas da Universidade de Hong Kong disseram que o risco de contrair covid-19 de animais de estimação é “insignificante”. No entanto, representantes de governo afirmam que estão cada vez mais confiantes de que os hamsters de estimação estão espalhando o vírus pela cidade com base no sequenciamento do genoma.

--Com a colaboração de Tracy Alloway.

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--Esta notícia foi traduzida por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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