Marina Ruy Barbosa: Empreender é um caminho cheio de ‘frio na barriga’

“Tenho muitos privilégios e reconheço que estou em posição mais confortável que a maioria das mulheres [que empreendem]”, disse a atriz em entrevista à Bloomberg Línea

Marina Ruy Barbosa esteve entre os 100 Empreendedores de 2021 pela Bloomberg Línea
27 de Dezembro, 2021 | 06:58 PM

Bloomberg Línea — “Montar uma marca autoral que ressignificasse a forma que enxergamos e usamos a moda”: foi este o desafio que Marina Ruy Barbosa se propôs ao criar sua empresa, a Shop Ginger.

Em julho de 2020, a atriz resolveu se aventurar na experiência empreendedora e criou sua marca de roupa, que, segundo ela, foi impulsionada pela redução do ritmo de gravações durante a pandemia.

“A Ginger é um sonho antigo, mas não sabia como e quando seria possível realizá-lo. Hoje, ela trouxe à tona uma parte de mim que se tornou fundamental para o meu desenvolvimento pessoal e profissional – a jornada empreendedora é desafiadora, mas também é motivante e enriquecedora”, disse em entrevista exclusiva à Bloomberg Línea. “Me encontrei mais uma vez, agora no papel de empresária.”

A proposta de Marina de propor uma solução inovadora tem rendido frutos: em seis meses, o faturamento cresceu nove meses em comparação com o primeiro mês. A empresária foi uma dos 100 Empreendedores de 2021 da Bloomberg Línea. Para completar sua entrada em novas frentes além da atuação, em novembro de 2020, Marina também passou a ser diretora de moda da ZZ MALL, marketplace da Arezzo&Co.

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Veja abaixo os destaques da entrevista de Marina Ruy Barbosa à Bloomberg Línea:

Bloomberg Línea: Como foi estar entre os 36 brasileiros dos 100 Empreendedores de 2021?

Marina Ruy Barbosa: Concluir o ano com essa nomeação foi uma feliz surpresa e uma grande honra. Estar listada como destaque ao lado de grandes empresários brasileiros é uma sensação indescritível, especialmente vindo de uma instituição respeitada como a Bloomberg Línea. Minha jornada como empresária é recente, mas intensa – mergulhei de cabeça nesse novo mundo, com muita vontade de aprender, e fico feliz de estar colhendo os frutos de tanta dedicação. Estamos fechando um ano muito importante para a Ginger, em que nos tornamos uma empresa maior e mais sólida, além de ter grande sucesso na nossa primeira experiência do varejo físico. Essa notícia encerra o ano com chave de ouro!

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BL: Quando começou a pensar em empreender? Qual foi o ponto de virada para o início?

MRB: A minha vontade de empreender sempre esteve dentro de mim, querendo dar as caras para o mundo. Sempre fiquei atenta aos movimentos do mercado, às oportunidades de investimento e, ao longo dos anos, fui me envolvendo em negócios de forma mais tímida. Enquanto isso, na minha carreira de atriz, eu estava sempre rodeada de projetos importantes que precisavam da minha dedicação e energia. Então precisei guardar os meus planos e minhas ideias mais ambiciosas para o momento certo.

Aí veio a pandemia, que me obrigou a desacelerar e a repensar a forma em que estava conduzindo a minha vida. Depois de muita reflexão e amadurecimento, tomei a decisão de montar uma marca autoral que ressignificasse a forma que enxergamos e usamos a moda. Essa diminuição do meu ritmo de trabalho me permitiu ter mais tempo e finalmente tirar a Ginger do papel. Foi uma forma de deixar aflorar essa outra parte de mim e dar vazão a uma nova forma de me conectar com a moda.

A Ginger é um sonho antigo, mas não sabia como e quando seria possível realizá-lo. Hoje, ela trouxe à tona uma parte de mim que se tornou fundamental para o meu desenvolvimento pessoal e profissional – a jornada empreendedora é desafiadora, mas também é motivante e enriquecedora. Me encontrei mais uma vez, agora no papel de empresária.

BL: Por que em moda? Chegou a pensar em outro ramo?

MRB: Sempre tive uma conexão muito forte com a moda, e isso foi crescendo dentro de mim ao longo dos anos. Tive o privilégio de viver esse universo intensamente: fiz parcerias com grandes marcas nacionais e internacionais, já fui convidada para participar e assistir a desfiles nas principais semanas de moda, estive presente no tapete vermelho em eventos importantes em todo o mundo. Tudo isso me deu a oportunidade de desenvolver meu repertório, aprimorar meu olhar e, cada vez mais, entender quem eu era enquanto consumidora. Estava imersa dentro da moda, mas sob outra perspectiva. Decidi que era hora de dar vida à minha visão criativa e investir nesse setor que tanto amo. Existem outras áreas que também me interessam, mas a moda me pareceu a forma mais genuína de me expressar naquele momento.

BL: Algo te assustou quando começou a planejar a nova carreira?

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MRB: Inseguranças não faltaram – quem empreende sabe que existem mais incertezas do que certezas, sempre. Também acho natural se sentir intimidada por algo novo, principalmente se não temos nenhuma experiência. É uma grande responsabilidade financeira e profissional. Você gera empregos, mas se sente responsável por aquelas pessoas e não quer decepcioná-las. Mas, felizmente, me motiva sair da minha zona de conforto e me desafiar. Entrei nessa jornada com uma postura de muita humildade, pois era tudo novo e eu precisava aprender. Me permiti começar do zero, errar e tentar de novo. Foi um caminho cheio de frio na barriga, mas de muitas alegrias e amadurecimento. O que eu conquistei como pessoa durante esse processo é tão importante quanto o que conquistei no âmbito empresarial. São aprendizados que levarei para a vida.

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BL: Hoje em dia, que sua marca já está se consolidando, existe algo que te desmotive no empreendedorismo e te faça pensar em desistir?

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MRB: Posso dizer que o saldo é muito positivo, por enquanto. Mas, como qualquer empresa, passamos por momentos de ansiedade e pressão. Não posso negar que existem fatores que são desafiadores para o empreendedor brasileiro – posso citar a escassez de alternativas para financiar pequenos e médios negócios, alta burocracia e a volatilidade econômica (que afeta o acesso e os custo de matérias primas, por exemplo). Sei que são questões que o setor enfrenta como um todo, mas sinto que são barreiras muito relevantes para a maioria das empresas.

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BL: E o que vê como mais motivante?

MRB: Apesar de todas as barreiras inerentes a nossa realidade, o Brasil está se tornando um hub de inovação e isso gera muitas oportunidades. Um país com muitos desafios precisa de pessoas e empresas para resolvê-los. Me motiva poder criar novas possibilidades. É isso que eu quero para a Ginger: ser uma marca que propõe soluções inovadoras, que não siga a cartilha estabelecida pelo mercado e que traga um olhar diferente para a moda e o consumo.

BL: O que te ocupa mais atualmente: a carreira de empreendedora ou de atriz? Há planos para inverter a ordem atual?

MRB: É difícil dimensionar, pois são duas vertentes que têm a minha total dedicação. O que posso dizer é que a carreira empreendedora tem uma demanda constante e diária – não há um dia em que não estou resolvendo alguma questão ou necessidade da Ginger. Já o trabalho de atriz é mais concentrado em projetos, o que gera momentos mais intensos de dedicação. Então, a ocupação com as diferentes carreiras varia de acordo com o momento, mas meu plano é continuar dando o meu melhor em ambas em todos os momentos.

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BL: Você também é diretora de moda do ZZ MALL, tem planos para contribuir da mesma forma em outras marcas?

MRB: Mais do que pensar em outros marcas para contribuir, o mais importante é ser grata pelas oportunidades que tenho - preciso valorizar a confiança que grandes empresas têm em relação à minha perspectiva de negócios. Fico muito feliz em saber que um grupo relevante como a Arezzo & Co. tem interesse no meu olhar sobre a moda e a comunicação. Essa chancela é um grande reconhecimento e aval do caminho que percorri como empresária. Estarei sempre aberta a propostas que façam sentido para os meus objetivos e carreira, e que também respeitem a minha empresa e parceiros.

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BL: E sobre novas marcas próprias, alguma novidade no radar?

MRB: Nesse momento, estou 100% dedicada a Ginger. Nascemos como uma marca de moda, mas ficou claro que estamos nos tornando um lifestyle – o que significa que podem haver novas categorias de produtos para agregar ao nosso portfólio. Tenho setores que me interessam e que vejo que podem agregar à Ginger no longo prazo, além de já ter sido abordada por diversos players do mercado com interesse em co-branding. Estamos avaliando todas as possibilidades com calma para entender quais serão os nossos próximos passos nesse sentido.

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BL: Ainda que tenha havido uma evolução, vemos poucas mulheres liderando grandes negócios no Brasil hoje em dia. Você sente alguma dificuldade por ser mulher e dona do seu próprio negócio?

MRB: Tenho muitos privilégios e reconheço que certamente estou em uma posição mais confortável do que a grande maioria das mulheres. Mas, de maneira geral, infelizmente ainda existem muitas dificuldades em ser mulher dentro do mundo corporativo. É inacreditável que ainda somos questionadas, diminuídas e subvalorizadas pelo simples fato de sermos mulheres. Mas prefiro ter um olhar otimista e, apesar de saber que ainda temos muito para evoluir, tenho esperança de que a sociedade escolha sempre caminhar para frente e valorizar a nossa potência enquanto força de trabalho.

BL: Qual mensagem você deixaria para mulheres que querem abrir seus negócios e empreender?

MRB: A minha principal mensagem é simples, mas muito verdadeira: não deixem que os outros ditem quem você é e quem você pode ser. Escolha o seu caminho, seja ele qual for, e tenha coragem de batalhar pelas suas conquistas. Não é fácil; você provavelmente será julgada pela sua competência e o seu mérito de estar naquele lugar. Mas lembre-se que você merece e deve conquistar o seu espaço e correr atrás dos seus sonhos.

Kariny Leal

Jornalista carioca, formada pela UFRJ, especializada em cobertura econômica e em tempo real, com passagens pela Bloomberg News e Forbes Brasil. Kariny cobre o mercado financeiro e a economia brasileira para a Bloomberg Línea.