Real Digital pode favorecer comércio externo

Digitalização da moeda fiduciária torna a operação mais ágil, além de mais barata e transparente, segundo executivo do Mercado Bitcoin

Versão digital do Real facilitará integração de comércio internacional, segundo o Banco Central
Tempo de leitura: 3 minutos

Por Gino Matos para Mercado Bitcoin

São Paulo — O Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) reconhece que os pagamentos e recebimentos entre países decorrentes das operações de comércio exterior são lentos e custosos.

Diferentemente das transferências domésticas, segundo a instituição, o comércio transnacional não dispõe de uma plataforma global única para que a liquidação dos valores seja feita.

Nesse cenário, o Real Digital tem potencial para se tornar forte aliado do Brasil no comércio externo, que até a segunda semana deste mês representava pouco mais de 18% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

Bruno Milanello, executivo de novos negócios do Mercado Bitcoin, maior plataforma da América Latina para negociação de criptoativos, diz que as moedas digitais emitidas por bancos centrais (CBDCs, na sigla em inglês) são vantajosas por permitir que os processos financeiros fiquem mais ágeis, além de mais baratos e transparentes.

No Brasil, o Banco Central (BC) incluiu a integração internacional da versão digital do Real em suas metas. A instituição reuniu, em novembro, em evento online, especialistas dos setores público e privado de vários países com o objetivo de ter mais informações a respeito da liquidez global de uma CBDC.

Projeto Dunbar

Milanello acredita no conceito de um sistema que integre diferentes CBDCs. “O que se vê hoje no mundo de criptoativos é uma facilidade enorme em trocar um ativo por outro, o que pode ser aplicado nas CBDCs. É do interesse de governos e bancos centrais manter a soberania de suas moedas fiduciárias, sejam elas no formato

físico ou digital.”

O Projeto Dunbar surge como um exemplo no mundo que vai nessa direção. É um protótipo do BIS que avalia a criação de um sistema de liquidez para CBDCs dos bancos centrais. Outro objetivo é manter a soberania das moedas fiduciárias, mesmo em ambiente digital. Participam da fase atual do projeto os bancos centrais da Austrália, Malásia, Singapura e África do Sul.

O relatório completo com as conclusões acerca do Dunbar será lançado em março de 2022. Sua viabilidade técnica para implementação de uma plataforma de liquidez, no entanto, já foi considerada positiva tecnicamente, indica o BIS na página oficial do projeto. O próximo passo, segundo a instituição, é integrar bancos privados ao sistema global de liquidez para as moedas digitais.

Questionado sobre quais aplicações internacionais já estão sendo estruturadas para o Real Digital, cujo lançamento é previsto para 2023, o BC não informou.

bConnect tem espaço para CBDCs?

Em setembro de 2020, foi lançado oficialmente o bConnect, criado pelo Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) para a Receita Federal (RF). É uma estrutura baseada na tecnologia blockchain que conecta as aduanas de Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina, atuando como um grande banco de dados, com informações compartilhadas pelas empresas registradas por esses países por meio de contratos inteligentes.

Ronald Cesar Thompson, auditor-fiscal da RF, diz que o bConnect resolve o problema de integração de informações entre aqueles países, que durou mais de uma década.

Apesar da estrutura já desenvolvida em blockchain e que já conecta países vizinhos ao Brasil, Thompson salienta que o projeto não foi idealizado para movimentar valores, mas não descarta a integração de CBDCs no futuro.

“O projeto ainda está repercutindo e sendo avaliado como um case por outros países. O Reino Unido, por exemplo, fez questão de nos procurar para entender como ele foi desenvolvido e se haveria a possibilidade de ser integrado ao ambiente deles. Neste momento, ainda trabalhamos com o bConnect como instrumento para vencer o desafio de estabelecer uma conexão com outras nações. Entretanto, nada impede que ideias envolvendo CBDCs surjam em algum momento.”

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