Por que passageiros do Nordeste pagam mais por teste de Covid em SP?

Viajantes da região, com bilhete para os EUA, deixam para fazer o exame obrigatório no aeroporto de Guarulhos, onde os preços são maiores

Quem vai viajar para os EUA tem a opção de fazer teste de Covid no Aeroporto de Guarulhos, mas os exames são mais caros do que na região central de São Paulo; sem tempo para o deslocamento, pois estão em escala ou conexão, passageiros de voos do Nordeste acabam pagando mais para cumprir a exigência do teste
16 de Novembro, 2021 | 09:19 PM

São Paulo — A retomada dos voos entre Brasil e EUA, no último dia 8 de novembro, provocou um aumento de 35% no número de testes de detecção da Covid-19 realizados no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, o maior do país, segundo o CR Diagnósticos, laboratório autorizado a realizar esse tipo de exame no piso 1 do terminal 3 em uma estrutura de 365 m² com 14 guichês de atendimento. A empresa estima que, nos próximos 30 dias, com a proximidade das viagens internacionais de fim de ano, a procura pelos exames deve dobrar.

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Em entrevista à Bloomberg Línea, o diretor de estratégia do laboratório, Gabriel Garcia, diz que passageiros em trânsito ou conexão, com destino aos EUA, vindos em voos provenientes das capitais do Nordeste, estão entre os pacientes que procuram o serviço no aeroporto paulista, onde os valores dos testes chegam a ser três vezes mais caros do que no centro paulistano, além dos tripulantes de aeronaves, que não podem perder tempo com deslocamentos fora do terminal.

“Há situações de pessoas que estão vindo de outros estados e que necessitam de um atestado em 24 horas. Ela pega um voo vindo do Nordeste, um voo de cinco horas, chega aqui e tem um período de espera de 12 horas para no dia seguinte ou à noite no mesmo dia pegar um voo para os EUA. Até ela conseguir entrar nos EUA, esse teste já venceu. Então esse público que está vindo de escala, ele necessita de um teste naquela situação do aeroporto”, exemplifica.

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Os viajantes do Nordeste, com bilhete para os EUA, são obrigados a fazer uma parada em São Paulo, porque não há voos diretos de suas capitais para os EUA devido à baixa demanda, o que aumenta a distância e o tempo do percurso com as conexões no aeroporto de Guarulhos. Um exemplo é Fortaleza, capital do Ceará, onde a Gol operava, antes da pandemia, voos diretos para a Flórida, bem como de Manaus (AM), na região Norte. A companhia aérea informa que ainda planeja as melhores datas para o retorno à Flórida a partir dessas duas cidades.

O governo norte-americano permite que o passageiro apresente um resultado negativo de um teste rápido de Covid, mais barato que o RT-PCR, realizado em no máximo 72 horas. No aeroporto, o “teste de farmácia” custa R$ 200, e a entrega do laudo é prevista para uma hora após a coleta feita com swab (cotonete) via nasofaringe (nariz), enquanto o preço do PCR é de R$ 350 com resultado prometido para 4 horas após a coleta. O laboratório diz ter parcerias com 12 companhias aéreas, dando descontos de 10% aos seus clientes. Fora do aeroporto, na capital paulista, em farmácias na região da Avenida Paulista, esses testes são encontrados por até metade desses valores. No centro, um exame chega a custar 1/3 do valor cobrado no aeroporto.

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“A gente não cobra mais porque está no aeroporto. Não é nossa filosofia de trabalho”, diz Garcia, antes de listar vantagens dos testes realizados no terminal, como o menor tempo de espera pelo resultado, funcionamento 24h em todos os dias da semana, presença de médicos e biomédicos e a disponibilidade do laudo em quatro idiomas.

Na sua avaliação, os preços dos testes tendem a cair devido ao aumento do acesso a esses exames e à maior concorrência. No aeroporto de Guarulhos, o Hospital Albert Einstein inaugurou, no fim de janeiro, uma unidade de realização de testes, tornando-se o segundo a oferecer esse serviço no terminal.

Em um ano, a contar de setembro do ano passado, o CR Diagnósticos diz já ter feito mais de 210 mil testes de Covid no aeroporto de Guarulhos. Os números da empresa ilustram a trégua da doença decorrente da redução dos casos na esteira do avanço da campanha de vacinação. Os picos de demanda foram nos meses de dezembro de 2020 e janeiro deste ano, segundo Garcia. No aeroporto, houve dias em que o laboratório fez mais de 1.800 testes. Atualmente, essa média diária está entre 750 e 800 exames, acima do registrado até junho (entre 300 e 400 testes diários), refletindo a retomada dos voos internacionais neste segundo semestre no terminal.

O diretor da CR Diagnósticos acrescenta que de cada 1.000 testes realizados no Aeroporto de Guarulhos, apenas um resultado dá positivo. Nesses casos, o passageiro tem de cumprir uma ordem de isolamento por 10 dias. Atualmente, os testes de Covid respondem por 85% da receita da companhia. Os exames são importados principalmente dos EUA, do laboratório Abbott. Garcia descarta o risco de escassez desses produtos devido à maior procura por conta da reabertura das fronteiras aéreas.

Participação em receita

Outras empresas que realizam testes de Covid, como o grupo Fleury e a rede de farmácias Pague Menos, confirmaram, em suas divulgações de resultados financeiros do terceiro trimestre, a tendência de menor participação desse tipo de exame em seus faturamentos, à medida em que a vacinação avançou no país. No Fleury, os exames para Covid representaram só 6% da receita bruta, com a realização de 400 mil testes no terceiro trimestre (RT-PCR e sorologias). Na Pague Menos, o pico da realização de testes foi março deste ano, quando quase 3% da sua venda total veio desse tipo de produto.

“De março para cá, esse número vem caindo gradualmente felizmente por conta do avanço da vacinação. Hoje os testes de Covid estaria mais próximos de 1% da nossa venda total. A gente não sabe até que ponto isso vai estabilizar”, diz o CFO da Pague Menos, Luiz Novaes, em entrevista à Bloomberg Línea. Ele acredita que ainda vai existir uma demanda prolongada por esse tipo de exame nos próximos anos.

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Os preços dos testes, tanto o rápido como o RT-PCR, variam dependendo da cidade. Novaes acrescenta que os estoques são repostos para atender à demanda, e que há um impacto da recente alta do dólar nos custos, já que os produtos são importados. “Não temos contratos [com os laboratórios]. Compramos por demanda. Conforme a demanda vai acontecendo, a gente vai repondo os estoques em loja”, afirma o CFO da rede de drogarias.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.