Banco ABC aposta em clientes com faturamento anual de até R$ 300 mi

Instituição financeira atribui lucro recorde ao segmento “middle” e ao aumento de receita com renda fixa e seguros

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São Paulo — O Banco ABC Brasil, que hoje divulgou seu primeiro lucro trimestral acima de R$ 150 milhões, atribui esse resultado positivo a uma estratégia adotada há dois anos, em que buscou mobilizar esforços para atrair cliente pessoa jurídica com faturamento anual entre R$ 30 milhões e R$ 300 milhões, o chamado segmento “middle”, que ganha relevância na composição da receita da instituição financeira, presente em 35 cidades brasileiras.

O CFO do ABC Brasil, Sergio Borejo, diz que, em dois anos, o número de clientes com esse perfil saltou de cerca de 300 empresas para 1.500 hoje e que o potencial de crescimento é grande, pois o Brasil tem cerca de 25 mil pessoas jurídicas com esse patamar de faturamento.

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O “middle” se firma como um dos três grupos de clientes do banco, além do corporate (faturamento anual entre R$ 300 milhões e R$ 4 bilhões) e do CIB (corporate investment bank, com receita superior a R$ 4 bilhões). Segundo Borejo, o banco trabalha com 40% das empresas com perfil corporate do país e com 50% dos CIBs. “O middle é o segmento novo, mais recente do banco”.

Sobre o crescimento do lucro no 3º trimestre, Borejo explica a estratégia de crescimento pontuando três pilares: o aumento da base de clientes, a oferta maior de produtos e o aumento de canais de relacionamento com essa clientela. “Qual é a nossa proposta de valor? Que a vida do cliente seja mais fácil possível. Ninguém acorda querendo falar com banco. O banco tem de ser um facilitador das operações que você tem de fazer no dia a dia”, resume.

Para reforçar sua presença no segmento “middle”, o ABC Brasil apostou na tecnologia, na disponibilidade de linhas de financiamento e na conveniência dos produtos oferecidos, segundo o CFO. “Qual é a sua dor? O que posso fazer para facilitar a sua vida? Buscamos essas respostas para crescer no segmento middle de forma escalável, sem colocar o banco em risco”, diz Borejo, acrescentando os investimentos do banco em transformação digital.

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O novo cenário macroeconômico, com o ciclo de altas da taxa Selic iniciado em março e inflação anual em patamar de dois dígitos, preocupa os clientes devido ao impacto dos juros no custo de dívidas, mas a demanda por crédito continua elevada, segundo Borejo. “A gente ainda não tem um ciclo de crédito muito positivo. A demanda de crédito está boa. Nossa carteira está se mostrando muito saudável”, diz o CFO do ABC Brasil.

A alta do dólar neste segundo trimestre, que saltou da casas de R$ 5,00 para R$ 5,60, tem provocado uma maior procura por operações de hedge (proteção cambial). Borejo confirma que a procura por operações com derivativos está em alta.

Uma linha de hedge em expansão é o derivativo de energia, voltado para clientes que buscam se proteger das flutuações dos custos futuros de energia. O CFO do banco diz que essa procura tem a ver com as incertezas sobre os preços do mercado, no contexto da crise hídrica no Brasil, além do aumento dos projetos de energia limpa, como a fotovoltaica, eólica e biogás.

Seguros

Além da aposta no segmento “middle” e no aumento da receita com o mercado de renda fixa, o ABC teve uma perfomance trimestral favorecido por sua incursão em outros mercados. Em agosto, a instituição financeira lançou uma corretora de seguros. “A gente começou no terceiro trimestre a incorporar a receita de seguros”, conta o CFO.

Ele explica que a decisão de entrar no mercado de seguros se deve às pesquisas sobre as necessidades dos clientes. “O que faltava no nosso portfólio? Seguro era um deles. É uma linha que vai produzir ainda grandes resultados para o banco, à frente”.

Os esforços nessas frentes para ampliar seu faturamento no 3º trimestre resultaram em reações positivas no mercado. “O ABC Brasil apresentou um trimestre sólido, com forte expansão de receita. A estratégia da empresa de focar no segmento de PMEs [Pequena e Média Empresa] continua a se refletir em retornos mais elevados, enquanto as taxas de banco de investimento surpreenderam positivamente nesse trimestre”, avaliaram os analistas Gustavo Schroden (Bradesco BBI) e Maria Clara Negrão (Ágora Investimentos), em nota conjunta enviada aos clientes.

O crédito cresceu 5% no trimestre e 13,9% na variação anual em maiores empréstimos a PMEs e empresas. “As despesas operacionais também estão em expansão, mas já podemos reconhecer os investimentos que estão sendo feitos, onde futuros produtos e iniciativas podem impulsionar ainda mais as receitas”, escreveu a dupla de analistas.

As taxas de inadimplência (NPL, non-perfoming loan, na sigla em inglês para crédito não produtivo) ficaram estáveis em relação ao trimestre anterior em 1,2%. “Os NPLs permaneceram em linha com os níveis pré-pandêmicos, o que não nos preocupa, pois a empresa mantém um índice de cobertura sólido de 259%”, avaliaram Schroden e Negrão, que mantiveram sua recomendação de compra para as ações do ABC Brasil.

As ações do banco (ABCB4) encerraram o pregão de hoje em alta de 1,71%, a R$ 16,05, após ter tocado máxima de R$ 16,16 (+2,40%), em dia em que o Ibovespa caiu 2,09%, aos 103.412 pontos.

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