Guimarães: Quero ver que banco digital tem juro de 1,8% no cheque especial

EXCLUSIVO: Na disputa entre bancos tradicionais e fintechs, quem vai se destacar é a Caixa e o motivo é preço, afirma CEO

Open banking vai mostrar quem tem os melhores preços de produtos e serviços
04 de Novembro, 2021 | 02:28 PM

Bloomberg Línea — Na disputa entre bancos tradicionais e fintechs, quem pode levar a melhor é a Caixa Econômica Federal porque tem o menor custo de captação e pode oferecer as menores taxas de financiamento. A afirmação é do presidente do banco estatal, Pedro Guimarães, que vê com bons olhos o aumento da competição no setor e aposta no open banking como instrumento de comparação de preço de produtos e serviços.

“Acho ótima a concorrência entre bancos e fintechs. Mas quero ver como isso vai ficar daqui em diante. Porque, com a Selic em 2%, o custo de oportunidade do dinheiro é baixo; com a Selic em 7,75% já não é tanto”, disse Guimarães à Bloomberg Línea, em entrevista presencial, gravada no banco em São Paulo. “Como é que eu, com 63% do CDI [cerca de 4,9% ao ano] e tendo um banco com 109 milhões de CPF, que paga 50 milhões de pessoas todos os meses, posso não ser o mais eficiente?”, pergunta.

Na avaliação do executivo, o open banking vai deixar essa vantagem da Caixa ainda mais evidente nos próximo meses, motivo pelo qual acredita que vai ganhar mercado tantos dos bancos tradicionais quanto dos digitais.

“Eu adoro competição. Para o Brasil é muito bom. O que mais quero é ter uma comparação das taxas de todo mundo, porque afirmo: a gente tem a menor taxa em tudo o que a gente faz. E vai ter sempre a menor taxa porque matematicamente nosso custo de captação é o menor”, disse.

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Segundo Guimarães, a Caixa trabalha com as menores taxas nos segmentos core do banco como crédito consignado, CDC (Crédito Direto ao Consumidor), rotativo do cartão e cheque especial. “Quero ver qual banco digital tem 1,8% ao mês de juro no cheque especial. Tem algum?”, pergunta, dizendo que nenhuma fintech pode competir com a Caixa em termos preço “só se quiser perder dinheiro”.

“Me incomodou muito quando a gente assumiu cobrar do pobre, da pessoa que não tem dinheiro, 13,55% ao mês no cheque especial. Eu vivi do cheque especial a minha vida inteira. Quase perdi minha casa quando meu pai faleceu de Aids e minha mãe morreu de câncer no pulmão. Como você pode ter um banco social e cobrar 13,55% ao mês no cheque especial. Não tem estudo matemático que defenda isso”, disse.

Para o executivo, não é possível ser competitivo em todos os produtos. “Aqui na Caixa nós focamos em poucos negócios. Porque, na minha opinião, quem quer fazer tudo dificilmente faz bem tudo, mas onde a gente tem foco queremos ter a disputa pelas melhores taxas”, completou.

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A seguir os principais trechos da conversa.

Futuro político

Constantemente lembrado como possível sucessor do ministro Paulo Guedes e já aventado também como potencial candidato a vice de Bolsonaro em 2022, por suas aparições em lives com o presidente, Guimaraes rechaça essas duas possibilidades dizendo que é um quadro técnico e que tem imensa lealdade ao ministro da Economia.

“Não sou político, não sou candidato a ser político. Sou presidente da Caixa Econômica Federal, conheci o presidente em 2017 e conheci o ministro [Guedes] em março de 2018. Tenho uma lealdade total e uma admiração profunda aos dois. O meu papel é na Caixa”.

“Eu sou técnico, passei sete anos para ter meu PhD e defender minha tese de doutorado. São 15 anos estudando economia. Tenho um carinho muito grande por tudo aquilo que construí tecnicamente. Posso dizer claramente que estou totalmente satisfeito com a Caixa”.

Auxílio emergencial

“Quem operacionalizou o auxílio? A Caixa. Hoje se discute um novo auxílio. Sei que, qualquer que seja ele e em qualquer formato, a Caixa fará. Que banco hoje no mundo paga 40 milhões de pessoas nesse momento? Sem ter aquela discussão que tínhamos um ano e meio atrás da preocupação com filas?

Digital na pandemia

Durante a pandemia, a Caixa liderou o pagamento de auxílio emergencial para 68 milhões de pessoas da baixa renda, que se converteram em clientes do banco. Nessa empreitada, a Caixa descobriu que tinha o seu próprio banco digital, negócio que pode ser apartado e buscar sócios no mercado de capitais em um possível IPO.

Onde a gente tem que estar? Onde ninguém quer estar. E vamos fazer isso de uma maneira que a Caixa ganhe dinheiro. [Na pandemia], emprestamos dinheiro para 500 mil empresas no Pronampe, que tinha 85% de garantia. O que aconteceu? A gente ganhou ao redor de 300 mil novos clientes porque a Caixa não tinha esse segmento como foco.”

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IPOs

Um dos pontos mais importantes do IPO da Caixa Seguridade foi gerar governança para trazer o mercado junto de nós. Hoje, o mercado me ajuda na gestão da área de seguros. Outras áreas do banco que não tenho o mercado com o sócio eu gasto mais tempo. O mercado demanda da Caixa Seguridade que ela cumpra as promessas que faz. Tenho 150 mil sócios que coloca uma pressão comercial”.

Onde eu foco agora? Asset, que é a próxima da lista; cartões, que a gente tem a operação da Elo. Abrindo o capital da Elo e da Caixa Asset, eu tenho três grandes ramos relevantes de receitas que vão ter a demanda mercado. Isso vai me dar a garantia de governança e de crescimento. Sem dúvida alguma a gente vai ter mais lucro com os 83% que a gente tem na Caixa Seguridade do que com 100% que a gente tinha antes porque fica mais eficiente.

Privatizações

Defensor das privatizações, o presidente da Caixa afirma que mudou de opinião em relação à Caixa após “viajar pelo país e ver o papel social do banco” que está nos lugares mais distantes. “A força da Caixa é estar onde ninguém quer estar”, disse.

Cuidadoso com suas afirmações, Guimarães evita se posicionar sobre a polêmica em relação à privatização da Petrobras. “Privatização da Petrobras é uma discussão do ministro Paulo Guedes e do presidente da República. É aquele limite que uma opinião minha, nesse momento, eu não quero fazer. Minha tese de doutorado é sobre privatização. Eu aplaudo a maneira inovadora e especial que estamos fazendo com Eletrobras e aplaudo e concordo com essa decisão em relação aos Correios”, disse.

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Relação com a Febraban

Em agosto, a Caixa causou polêmica ao ameaçar sair da Febraban por não concordar que a federação de bancos assinasse uma carta pedindo equilíbrio entre os poderes. O ministro Paulo Guedes (Economia) causou indignação dos dirigentes de bancos ao afirmar no Congresso que a Febraban é uma “casa de lobby”.

Não mudou nada na relação do governo com os grandes bancos; pelo contrário. Na semana passada, tivemos uma reunião. Agora, você não pode ter uma opinião contrária? A gente teve um voto contrário e foi voto vencido. Zero problema, tivemos outras reuniões. A gente é sócio do Bradesco e do Banco do Brasil na Elo e estamos discutindo abertura de capita. Temos excelentes relações. Isso não é problema.

Teto de Gastos e debandada no Tesouro

“Esse é um governo responsável fiscalmente. E a equipe econômica, para mim, é quem estava lá em março de 2018, antes de o presidente ser eleito. É o Roberto Campos Neto, que está lá desde sempre; eu, que entrei em março de 2018. São pessoas da confiança do ministro Paulo Guedes”, disse.

“Há uma total responsabilidade fiscal nesse governo. O ministro Paulo Guedes e sua equipe lideraram reformas que nunca aconteceram: a reforma da Previdência, que é emblemática, e a independência do Banco Central. O ministro Paulo Guedes tem um compromisso total, junto com o presidente da República, com a solidez fiscal”.

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“Não vou entrar nisso [bombardeio da ala política]. Meu foco é a Caixa Econômica Federal. O que eu vejo é todo mundo alinhado. Tem uma série de questões do lado fiscal e não sei até que ponto estão precificadas pelo mercado. Então, é importante uma análise profunda dessa discussão”, disse.

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Toni Sciarretta

News director da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista com mais de 20 anos de experiência na cobertura diária de finanças, mercados e empresas abertas. Trabalhou no Valor Econômico e na Folha de S.Paulo. Foi bolsista do programa de jornalismo da Universidade de Michigan.

Melina Flynn

Melina Flynn é jornalista naturalizada brasileira, estudou Artes Cênicas e Comunicação Social, e passou por veículos como G1, RBS TV e TC, plataforma de inteligência de mercado, onde se especializou em política e economia, e hoje coordena a operação multimídia da Bloomberg Linea no Brasil.