Dólar dispara e bate em R$ 5,62 após decisão do Banco Central

Economistas veem Banco Central mais rígido após ameaças de rompimento do Teto de Gastos e apostam em Selic mais alta para o final do ano

Roberto Campos Neto
28 de Outubro, 2021 | 12:03 PM

Bloomberg — O real tinha o pior desempenho entre as principais moedas do mundo nesta quinta-feira (28), após o banco central decidir aumentar a taxa básica de juros, a Selic, para 7,75% na última noite.

O dólar chegou a bater em 5,62, com alta de 1,53% nesta manha, enquanto os investidores digeriam a decisão do Comitê de Política Monetária de elevar a Selic em 150 pontos-base, em linha com a maioria das expectativas dos economistas pesquisados pela Bloomberg. Perto das 12h, a moeda americana era negociada a R$ 5,616, com valorização de 1,4%.

Os investidores consideraram 150 pontos básicos como o mínimo necessário para os formuladores de políticas em meio a uma deterioração nas perspectivas fiscais do Brasil e esperavam que o banco enviasse uma mensagem mais forte para manter as expectativas de inflação sob controle.

“O Banco Central do Brasil tentou minimizar a decepção do mercado”, escreveu o economista Roberto Secemski, do Barclays, e o estrategista Juan Prada em um relatório na quarta-feira.

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No comunicado, os membros do Copom escreveram que um aumento idêntico seria adequado na reunião final do ano, e que o ritmo levaria a inflação à meta, apesar dos novos riscos fiscais.

“Os questionamentos recentes sobre o quadro fiscal aumentaram o risco de redução das expectativas de inflação”, escreveram. “Isso implica em uma probabilidade maior de trajetórias de inflação acima da projetada no cenário de base.”

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Com a inflação, analistas veem taxas de juros e preços mais altos em 2022.

A decisão de quarta-feira levou analistas do Barclays e Morgan Stanley a revisar as estimativas para a Selic no início de 2022. O Barclays agora vê a taxa em 10,5%, de 9,75% antes, mas espera que mais detalhes sejam revelados na próxima semana, na ata da reunião. O Morgan Stanley projetou a taxa Selic em 11%, ante os 9,25% anteriores.

Os membros do Copom liderados por Roberto Campos Neto têm sido os mais agressivos do mundo este ano, elevando a taxa básica em 575 pontos-base desde março. Embora o banco central tenha sinalizado recentemente em 14 de outubro que a taxa Selic subiria em um ponto percentual nesta reunião, a proposta do presidente Jair Bolsonaro de aumentar os gastos além do Teto de Gastos levou o banco a acelerar a trajetória de aperto monetário.

O que os economistas dizem

  • “O banco central acelerou o ritmo de aumento das taxas, prometeu outro grande aumento em dezembro e indicou que a política monetária encerrará o ciclo mais apertado do que o antecipado. Mas as questões-chave - o que o BC pensa sobre as mudanças fiscais propostas e o que elas significam para as taxas neutras - continuam sem resposta “. Adriana Dupita, economista da América Latina
  • “O banco central elevou o balanço de riscos”. “Isso implica em uma probabilidade maior de a inflação correr mais alta do que a perspectiva básica”. Tatiana Nogueira, economista da XP

Ainda mais resistente

Outros economistas disseram que o BC pode precisar se tornar ainda mais agressivo para provar sua credibilidade no combate à inflação. No comunicado, os membros do Copom redigiram que seu horizonte de política se concentra em trazer a inflação para a meta em 2022 e 2023.

“O banco central deveria ter dado uma mensagem ainda mais dura”, disse Carlos Kawall, diretor da Asa Investments. “Isso poderia ter assumido um risco e gerado um aumento maior nas taxas. A perspectiva de inflação é muito feia“.

O aumento da taxa provavelmente terá um impacto em setores que se beneficiaram muito de um período recente de baixos custos de empréstimos, incluindo imóveis e o mercado de ações, além de aumentar o custo da dívida do Brasil. Também é provável que reduza ainda mais a atividade em um momento em que alguns economistas alertam sobre o risco crescente de recessão no próximo ano.

Não é garantido que impulsione o real, no entanto. A moeda enfraqueceu mais de 3% na semana passada, aumentando a pressão sobre a inflação, à medida que os investidores digeriam as mudanças propostas no teto de gastos.

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“A decisão dovish provavelmente transformará o câmbio no próximo ponto de pressão nos mercados locais”, escreveram os analistas do Morgan Stanley Andre Loes, Thiago Machado e Ioana Zamfir em uma nota. Os banqueiros centrais podem ser pressionados a intervir para sustentar a moeda se o real apresentar desempenho significativamente inferior ao de seus pares nos mercados emergentes, acrescentam.

Taxa de dois dígitos

A última vez que o Copom entregou um aumento de mais de 100 pontos-base à Selic foi no final de 2002, quando os mercados entraram em pânico pela chegada de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência.

Os preços ao consumidor subiram 1,2% em meados de outubro, mais do que todas as previsões dda Bloomberg e a maior para o mês desde 1995. A inflação anual subiu para 10,34%, segundo dados do governo publicados na terça-feira. Os membros do Copom têm como meta a inflação em 3,75% este ano e 3,5% em 2022.

“O movimento de hoje é um passo decisivo na direção certa e muito necessário em meio à percepção de erosão da âncora fiscal”, disse Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs, sobre a decisão de quarta-feira. “Mas, infelizmente, é provável que seja necessário mais. Prepare-se para uma Selic de dois dígitos em 2022.”

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(atualizado com cotações recentes)

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