Ibovespa perde mais de 3,2% com tensão generalizada

Apesar de Guedes declarar que se mantém no Governo, de acordo com fontes, incertezas políticas levam investidores a optar pela cautela nesta sexta-feira (22)

Índice rondava o patamar dos 105 mil pontos na primeira hora de sessão
22 de Outubro, 2021 | 11:43 AM

Bloomberg Línea — Debandada no Ministério da Economia, mudanças no teto de gastos, novo Auxílio Brasil, ajuda a caminhoneiros e PEC dos Precatórios são os principais temas que pautam o mercado doméstico nesta sexta-feira (22). O tom elevado de incertezas e o explícito caos na administração levam a mais um dia de Ibovespa no vermelho e dólar nas alturas.

Apesar de, segundo fontes, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmar que se mantém no Governo Bolsonaro, o clima de “e agora?” não se desfaz e pesa nos ativos. Hoje (22), a assessoria do Ministério informou que Guedes não tem agenda, que ficará em “despachos internos”.

O principal índice da B3 acumula perda de 20% desde o pico em junho, e rondava o patamar dos 105 mil pontos na primeira hora de pregão. Em 2021, a perda acumulada é de mais de 11,8%.

Ibovespa já perdeu cerca de 18% desde o pico em junhodfd

O mercado brasileiro se descola do exterior, onde o S&P 500 fechou em novo recorde na véspera (21). Hoje, as bolsas americanas operam em direções mistas, com os papéis de tecnologia pesando após balanços que decepcionaram.

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  • Perto das 11h40, o Ibovespa operava perto das mínimas, em queda de 3,2%, a 104.370 pontos
    • Petrobras (PETR4) e Itaú (ITUB4) eram as maiores contribuições para a queda, enquanto Vale (VALE3) e Suzano (SUZB3) faziam pressão na ponta oposta
  • O dólar subia 1,03%, a R$ 5,72, no mesmo horário e a curva de juros avançava
    • O DI para janeiro de 2022 saltou de 7,886% para 8,182% indicando aumento de juros da ordem de 1,5 ponto na próxima reunião do Copom. O DI para janeiro de 2023 passou de 10,48% para 11,035%
  • Nos EUA, o Dow Jones subia 0,32%, enquanto o S&P 500 tinha alta de 0,11% e o Nasdaq recuava 0,30%

Contexto

Após o anúncio da saída de quatro integrantes do Tesouro Nacional ontem (21), com a possibilidade de mudança nas regras do teto de gastos, o clima de tensão tomou conta e os rumores de uma eventual saída de Guedes tomaram forma. Hoje (22), o ministro decidiu que ficará no governo, de acordo com uma pessoa com conhecimento da situação, informou a Bloomberg News.

Veja mais: Guedes decide ficar no governo: Fonte

No entanto, conforme o colunista do G1, Valdo Cruz, dois interlocutores do presidente Jair Bolsonaro estiveram recentemente em São Paulo sondando um nome para substituir o líder da Economia. Conforme “assessores próximos ao presidente da República, é preciso começar a avaliar nomes para substituir Paulo Guedes por dois motivos. Ele pode decidir pedir demissão e também porque uma ala do governo já tenta convencer Bolsonaro a trocá-lo”.

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O CDS (Credit Default Swap) de cinco anos do Brasil, uma das medidas para o risco-país, atingiu 240 pontos, com alta de 6% apenas nesta sexta e no maior nível desde outubro do ano passado, informou a Bloomberg News.

Conforme Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, “a debandada suscitou maiores temores de que Guedes poderia sair, o que logo foi negado pelo Presidente. O fato é que Guedes, ou por fraqueza ideológica ou por fraqueza política é bem menor do que já foi em outros momentos”.

“Evidentemente que sua saída abriria um flanco sem precedentes na já fragilizada diretriz econômica do governo”, pontuou o economista, acrescentando, ainda, que há “sinalizações de que o descalabro fiscal será efetivo”.

Kariny Leal

Jornalista carioca, formada pela UFRJ, especializada em cobertura econômica e em tempo real, com passagens pela Bloomberg News e Forbes Brasil. Kariny cobre o mercado financeiro e a economia brasileira para a Bloomberg Línea.