Reitor do Taliban proíbe mulheres em aulas na Universidade de Cabul

“Enquanto o verdadeiro ambiente islâmico não for implantado para todos, as mulheres não terão permissão para ir às universidades ou trabalhar”, disse Mohammad Ashraf Ghairat

A falta de urgência por parte do grupo militante para restaurar os direitos das mulheres gerou preocupações de que o país esteja voltando a ser como era quando o mesmo grupo esteve no poder por cinco anos
Por Muneeza Naqvi
28 de Setembro, 2021 | 10:39 AM

Bloomberg — Estudantes do sexo feminino não retornarão à Universidade de Cabul até que haja “um verdadeiro ambiente islâmico” para todos, afirmou o reitor nomeado pelo Taliban, desferindo mais um golpe contra os direitos das mulheres no Afeganistão, desde que o grupo tomou o poder no mês passado.

O grupo militante disse que as mulheres terão permissão para trabalhar e estudar dentro dos limites da interpretação que fazem da sharia ou lei islâmica, indicando um abrandamento de sua postura desde a última vez que estiveram no poder, entre 1996 e 2001. No entanto, até agora não houve nenhum movimento para restaurar a liberdade de mulheres e meninas.

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No início deste mês, as escolas de ensino médio foram reabertas para meninos, mas as meninas ainda não voltaram às aulas. Não há mulheres no governo interino liderado pelo Taliban.

“Enquanto o verdadeiro ambiente islâmico não for implantado para todos, as mulheres não terão permissão para ir às universidades ou trabalhar”, disse Mohammad Ashraf Ghairat, que foi nomeado para o cargo na semana passada, em um tweet na segunda-feira. “o Islã em primeiro lugar”, acrescentou.

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Ghairat foi designado para liderar uma das principais universidades do país na semana passada. Ele não tem experiência prévia no ambiente acadêmico, embora tenha divulgado, em uma série de tweets, que foi um membro importante da Comissão Cultural do Taliban e esteve à frente do Instituto Al-Hijra por três anos.

Ele não indicou quando um ambiente adequado e segregado por gênero permitiria que as alunas voltassem às aulas.

“Nosso objetivo para a Universidade de Cabul é fazer dela um ponto de encontro onde todos os verdadeiros muçulmanos do mundo possam se reunir, pesquisar, estudar e islamicizar a ciência moderna. Estou aqui para anunciar que daremos as boas-vindas a acadêmicos e estudantes pró-muçulmanos para se beneficiarem de um ambiente islâmico real na Universidade de Cabul, no Afeganistão.”

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A falta de urgência por parte do grupo militante para restaurar os direitos das mulheres gerou preocupações de que o país esteja voltando a ser como era quando o mesmo grupo esteve no poder por cinco anos. Mulheres eram apedrejadas por crimes como adultério e só podiam se aventurar a sair se estivessem cobertas por um véu da cabeça aos pés, conhecido como “burca”. Mesmo assim, ela tinham que estar acompanhadas por um parente do sexo masculino. Não tinham permissão para trabalhar ou estudar.

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