Dólar turismo pode ficar mais caro com a retomada dos voos para os EUA

Procura pelo papel-moeda deve aumentar com a reabertura da fronteira para os brasileiros; tensão pré-eleitoral também pressiona cotações

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São Paulo — A retomada dos voos diretos do Brasil para os EUA, a partir de novembro, deve aumentar a procura por dólar em espécie e remessas internacionais por turistas nas corretoras de câmbio, após quase dois anos de sumiço dos clientes devido ao fechamento das fronteiras provocado pela pandemia da Covid-19 desde março do ano passado.

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Nesta semana, turistas já correram para comprar passagens aéreas com embarques para o período do Natal e Réveillon, esgotando bilhetes de alguns destinos. Diante de uma previsão de recuperação das vendas de pacotes para os EUA, a tendência é que as cotações do dólar turismo fiquem mais pressionadas com as compras de “verdinhas” pelos viajantes no último trimestre do ano e com a piora das condições do mercado em geral.

O último boletim semanal Focus mostrou que o mercado projeta o dólar comercial a R$ 5,20 no fim do ano, acima da previsão dos R$ 5,10 de quatro semanas anteriores. Às 17h30 desta sexta-feira (24), a cotação estava em R$ 5,33, enquanto o dólar turismo era encontrado entre R$ 5,40 e R$ 5,50, dependendo da capital brasileira e da casa de câmbio. O valor não inclui a cobrança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de 1,10% que incide sobre esse tipo de operação.

“É improvável que a gente teste o dólar comercial abaixo de R$ 5 no curto prazo. Há muitas incertezas no horizonte”, diz Alexandre Liuzzi, diretor de estratégia da Remessa Online, em referência à proximidade do ano da eleição presidencial e às expectativas de aumento dos juros nos EUA, cenário que tende a favorecer a saída de capital de países emergentes, como o Brasil, em direção à segurança proporcionada pelos títulos do Tesouro americano.

Ele acrescenta ainda as dúvidas do mercado sobre o comportamento futuro da inflação e dos juros domésticos. Iniciado em março, o ciclo de alta da taxa Selic, elevada pela quinta vez consecutiva na última quarta-feira , agora em 6,25% ao ano, sinaliza mais um reajuste de 1 ponto percentual na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, a fim de evitar uma piora das projeções do mercado para a inflação, PIB (Produto Interno Bruto) e juros nos cenários traçados para 2022.

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A diferença (spread) da cotação do dólar em espécie em relação ao comercial mudou com os efeitos da pandemia e com a maior oferta de produtos financeiros para a troca de moeda. “Em função tanto de mais competição pelas fintechs e por novas corretoras, e como também tivemos esse período sem viagens para o exterior, houve uma contração da demanda. O spread do dólar turismo versus dólar comercial está no momento mais baixo do que esteve no passado. Hoje está em torno de 4%. Com a volta das viagens para os EUA, é possível que o spread volte a aumentar. Historicamente, o dólar turismo ficava entre 5% a 10% acima da cotação do comercial. Algumas corretoras até exageravam, e o spread poderia chegar até 12% e 13% acima do dólar comercial”, afirma o diretor da Remessa Online.

Liuzzi diz que produtos antigos como travelers cheques ficaram obsoletos e entraram em desuso, enquanto surgiram novas alternativas, como a abertura de contas no exterior e transferências de recursos por meios digitais tanto para pessoas físicas como jurídicas. “São opções mais modernas, rápidas, menos burocráticas e de menor custo comparando se essas operações fossem feitas pelas instituições bancárias tradicionais”, afirma o executivo.

Contraponto

Para o diretor da corretora de câmbio Sadoc, Breno Cysne, o desempenho das exportações brasileiras pode melhorar se a demanda por commodities, principalmente do agronegócio, continuar aquecida, servindo como um fator para inibir uma disparada da cotação do dólar comercial. No mês passado, a balança comercial teve o melhor saldo positivo da história (U$ 7,7 bilhões) para meses de agosto, acumulando US$ 52 bilhões no ano.

O que faz o dólar subir hoje é o risco político, é o receio dos investidores estrangeiros de uma mudança na política econômica se um partido de esquerda voltar ao poder”, diz Cysne, acrescentando que os recentes conflitos entre o presidente Jair Bolsonaro e o STF (Supremo Tribunal Federal) também estressaram as cotações no mercado de câmbio.

Quanto ao dólar turismo, Cysne lembra que o retorno dos visitantes estrangeiros ao Brasil após o relaxamento das restrições nas fronteiras contribui para contrabalancear o fluxo de moeda estrangeira em espécie. Ele projeta a cotação do papel-moeda entre R$ 5,40 e R$ 5,50 no último trimestre do ano. Para o dólar comercial, ele vê uma oscilação entre R$ 5 e R$ 5,30, considerando as atuais expectativas do mercado.

Não acredito que o ministro Paulo Guedes [Economia] vá deixar o dólar comercial ficar abaixo de R$ 5, porque isso prejudicaria as exportações de commodities e do agronegócio, que são quem mais contribuem para o resultado do PIB brasileiro”, afirma Cysne.

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