Alta dívida privada ameaça recuperação de empregos na América Latina

Fim de programas de refinanciamento dos governos para adiar o pagamento dos juros dos empréstimos pressiona empresas

Oferta de empregos de baixa qualificação na região levou até uma década para se recuperar totalmente
Por Oscar Medina
14 de Setembro, 2021 | 08:52 AM

Bloomberg — Empresas com alto endividamento na América Latina provavelmente vão adiar a contratação de trabalhadores durante a recuperação da recessão vista no ano passado, de acordo com o Banco Mundial.

A pandemia destruiu dezenas de milhões de empregos, do México à Argentina, ao mesmo tempo que deixou os balanços das empresas mais frágeis. Muitas sobreviveram graças a programas de refinanciamento dos governos para adiar o pagamento dos juros dos empréstimos.

A necessidade de administrar essa carga de dívida à medida que esses programas chegam ao fim “é exatamente o que as impede de investir em novo capital e contratar novos trabalhadores”, disse William Maloney, economista-chefe do banco para a região, em entrevista por vídeo.

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Cerca de 26 milhões de pessoas na América Latina perderam o emprego no ano passado, de acordo com relatório publicado pela Organização Internacional do Trabalho na semana passada. Em crises anteriores, a oferta de empregos de baixa qualificação na região levou até uma década para se recuperar totalmente, enquanto o mercado para trabalhadores altamente qualificados normalmente se recupera em menos de dois anos, de acordo com Maloney.

Em vários países da América Latina, a porcentagem de empresas que afirmam estar com o pagamento das dívidas em atraso ou com probabilidade de atrasar ultrapassa 40%, segundo estudo do Banco Mundial. Para companhias que empregam 20 trabalhadores ou menos, o número é ainda maior.

O crédito doméstico ao setor privado na América Latina e no Caribe subiu para 60% do PIB em 2020 frente a 55% no ano anterior, segundo dados do Banco Mundial.

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Milagre escandinavo

Mesmo antes da crise do ano passado, o crescimento das economias latino-americanas era muito lento, o que impossibilitava tirar milhões da pobreza em ritmo acelerado, disse Maloney.

Para impulsionar a taxa de crescimento de longo prazo, os governos devem considerar reformas educacionais que melhor alinhem as universidades às habilidades e pesquisas exigidas pelas empresas, disse Maloney. No momento, a região tem muitos graduados com ensino superior que não conseguem encontrar trabalho em suas áreas.

“Se você observar os milagres asiáticos ou escandinavos, verá que existe uma ligação muito estreita entre equipes de pesquisa, instituições de pesquisa e o setor produtivo e incentivos colocados pelo estado nessa direção”, disse Maloney.

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