Bolsonaro pede a caminhoneiros que encerrem protestos e liberem rodovias

Paralisação chegou a ocorrer em 15 estados na manhã desta quinta-feira (9)

Presidente incentivou apoiadores a tomarem as ruas no feriado do Dia da Independência; as manifestações de caminhoneiros ocorreram na esteira do evento
Por Daniel Carvalho - Julia Leite
09 de Setembro, 2021 | 01:14 PM

Bloomberg — O presidente Jair Bolsonaro pediu para que caminhoneiros liberassem as rodovias em meio a temores da possibilidade de uma greve mais ampla agravar o clima político já problemático e a inflação galopante.

Bolsonaro gravou uma mensagem de áudio compartilhada com grupos do WhatsApp usados por caminhoneiros para pedir o fim de tudo que pudesse prejudicar ainda mais a economia. O grupo de caminhoneiros, constituído em grande parte por autônomos – dos quais boa parte apoia o presidente – frequentemente reclama sobre os preços dos combustíveis e, neste caso, também reproduziram as queixas do presidente quanto às decisões do STF.

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“Os caminhoneiros são nossos aliados, mas esses bloqueios prejudicam nossa economia. Isso provoca desabastecimento, inflação, prejudica todo mundo, em especial os mais pobres”, disse Bolsonaro na mensagem de voz.

Na noite de quarta-feira (8), o ministro da Infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas gravou um vídeo que confirmava a veracidade da mensagem de Bolsonaro e reforçou o apelo pela liberação das rodovias.

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Qualquer sinal de uma possível greve nacional de caminhoneiros semelhante à de 2018 alarma os consumidores, que se preocupam com a escassez de combustível e alimentos, que podem ser rapidamente estocados devido à incerteza. O Brasil depende fortemente do transporte rodoviário para transportar mercadorias internamente e por suas fronteiras terrestres.

Caminhoneiros se aglomeravam em rodovias federais de 15 estados às 8h desta quinta-feira, segundo nota do Ministério da Infraestrutura, que acrescentou não haver pontos totalmente bloqueados. Houve uma redução de cerca de 10% no tumulto em comparação à noite anterior, segundo o ministério. Durante o pico das manifestações, foram detectados cerca de 100 pontos de interdição.

O país está enfrentando uma crise política e econômica enquanto Bolsonaro semeia dúvidas sobre o sistema eleitoral e entra em conflito com os ministros do STF, e a inflação explode e chega a próximo de 10% ao ano. O bloqueio das rodovias ocorreu um dia depois das grandes manifestações pró-governo que marcaram o Dia da Independência, com apelos para o fechamento do STF e uma intervenção militar.

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A inflação de agosto ultrapassou todas as projeções e deu o maior salto para o mês desde 2000, segundo dados apresentados hoje – e a crise energética provavelmente vai aumentar os preços ainda mais.

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Os mercados desabaram na véspera, após os protestos devido às tensões entre os poderes do governo, que devem continuar em atrito, e às dúvidas sobre a capacidade de aprovação de mais reformas econômicas no Congresso antes das eleições de 2022. Na quinta-feira, o real e as ações se recuperaram ligeiramente.

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Freitas disse em entrevista que “a situação está sob controle. Não tivemos nem teremos desabastecimento”.

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